Que a inflação é um dos principais desafios econômicos enfrentados por qualquer nação, não é novidade para ninguém, no caso do Brasil ainda é mais patente ainda. Ela reduz o poder de compra da população, desestabiliza mercados e pode comprometer o crescimento econômico. Desta forma, entender os mecanismos de combate à inflação é fundamental. Grandes economistas, como John Maynard Keynes, Milton Friedman e Paul Volcker e etc., desenvolveram teorias e aplicaram estratégias para controlar o “dragão da inflação”, algumas com sucesso, outras nem tanto.
Dentre as mais relevantes nas teorias clássicas sobre inflação, temos como destaque o Keynesianismo ou Inflação de Demanda. Nesta teoria, John Maynard Keynes argumenta que a inflação surge, principalmente, quando a demanda agregada supera a oferta de bens e serviços. Segundo ele, em períodos de superaquecimento econômico, governos podem controlar a inflação reduzindo o gasto público e aumentando impostos, freando o consumo e os investimentos privados. Essa abordagem foi utilizada nos EUA e em diversos países europeus no pós-Segunda Guerra Mundial.
Já para Milton Friedman, principal expoente do monetarismo, "a inflação é sempre e em todo lugar um fenômeno monetário". Para ele, o excesso de moeda em circulação é o principal motor da inflação. Assim, bancos centrais devem controlar a oferta de dinheiro por meio de políticas monetárias restritivas, como o aumento da taxa de juros e a redução da base monetária. Essa estratégia foi aplicada com sucesso nos EUA durante o mandato de Paul Volcker à frente do Federal Reserve nos anos 1980.
Por sua vez, Roberto Campos, avô do Ex-presidente do Banco Central Brasileiro, economista e ex-ministro brasileiro, tinha uma visão alinhada ao monetarismo, influenciado por Milton Friedman. Ele defendia que a inflação no Brasil era causada principalmente pelo excesso de emissão monetária para financiar déficits públicos. Segundo Campos, a desorganização fiscal e a falta de disciplina nos gastos do governo eram os grandes vilões da inflação crônica que o país enfrentava no século XX. Ele também criticava o populismo econômico, argumentando que medidas de curto prazo, como o congelamento de preços, eram paliativas e ineficazes. Para ele, a solução para a inflação passava por um rigoroso controle fiscal, independência do Banco Central e políticas que incentivassem o crescimento econômico sustentável.
Agora que já entendemos o mínimo de duas visões, e o importante complemento de Roberto Campos, podemos começar a falar em como combater a inflação. Basicamente, os instrumentos adotados pelo monetarismo e pelo Keynesianismo tendem a seguir uma mesma lógica de tirar dinheiro do mercado, reduzir déficit público e melhorar eficiência. Assim, políticas monetárias restritivas, com aumento de taxas de juros, política fiscal contracionista, com cortes de gastos governamentais, aumento da arrecadação e redução de déficit público, controles de políticas cambiais e controles de importação, além de uma permanente busca da produtividade, redução de burocracias e reformas estruturais estão nas cartilhas de todos os bons, e até alguns maus, economistas pelo mundo.
Todas essas medidas ao longo do tempo já demonstraram sucesso, seja nos anos 80 nos EUA, quando Paul Volcker, a época presidente do FED aumentou o juro americano para controlar a inflação. A época, reduziu a inflação, mas causou uma recessão temporária. Seja no Plano Real Brasileiro na década de 90, que combinou uma nova moeda, com ancoragem cambial e rigoroso controle fiscal e monetário. Ou até na atual experiência da Argentina, com redução do déficit público, controle fiscal e gestão restritiva.
Deixando isso claro, devemos observar que o combate à inflação requer a combinação de várias políticas econômicas, ajustadas às particularidades de cada país e momento histórico. Enquanto medidas monetárias costumam ter impacto rápido, soluções estruturais garantem estabilidade de longo prazo. Da mesma forma, entender as experiências passadas e as teorias econômicas nos permite compreender e aplicar as melhores estratégias para manter a inflação sob controle e garantir o crescimento sustentável.
Mas e o cenário Brasileiro atual?
Claramente observamos que o governo brasileiro está pouco disposto a reduzir o déficit público, muito menos adotar um controle fiscal forte. Também é observado que o governo não gosta que o Banco Central suba a taxa SELIC, como forma de controlar o volume de dinheiro na economia, essa é a importância de manter a independência do Banco Central. Então, o que fazer?
Bem, para controlar a inflação no Brasil não tem bala de prata. O que temos é a necessidade de um conjunto de ações. Precisamos que o governo demonstre responsabilidade fiscal, busque redução dos gastos e otimização dos resultados da máquina pública, isso em todas as esferas e poderes. Também se faz necessário buscar uma melhoria no desempenho produtivo brasileiro, em 2019, o que um brasileiro fazia em 1 hora, um americano fazia em 15 minutos, de lá pra cá o cenário não mudou muito. E por fim, também é necessária uma certa responsabilidade do cidadão no ato de consumo.
Acredito que a responsabilidade de combater a inflação é um dever do país como um todo, dos governos, das empresas e da sociedade civil, mas sem o exemplo vindo de cima, sem o governo demonstrando real vontade nesse sentido, ainda devemos passar por momentos de insegurança e pressões inflacionárias nos próximos meses e até anos, afinal, como já diria meu bom e velho pai, “chuva só chove de cima para baixo e não de baixo para cima”, o governo precisa demonstrar vontade para que as demais peças do tabuleiro se movimentem.