O mundo financeiro esperava que o programa de incentivo monetário americano desenvolvido pelo FED permanecesse intacto por um período ligeiramente mais longo, acreditando que os sinais emitidos pela futura Presidente do órgão, Janet Yallen, continham esta sinalização e que Ben Bernanke, atual Presidente, estivesse cordato com este posicionamento identificado na fala da sua sucessora.
Foi surpreendido pela decisão anunciada por Bernanke estabelecendo o inicio da redução de US$ 10,0 Bi mensais em dezembro com inicio neste mês de janeiro. Embora parcialmente os mercados já houvessem precificado esta ocorrência possível, inquestionavelmente tornada efetiva a decisão há impactos que estão se consolidando nos mercados globais e tendem a ser mais relevantes nas economias ditas emergentes.
Contudo, certamente os mercados não esperavam que a retomada do dinamismo da economia americana passasse a evidenciar-se acima das melhores expectativas, e isto agora passa a criar expectativas de que o montante de redução possa vir a ser elevado dos US$ 10,0 Bi mensais num prazo mais curto.
Mas afora isto, agora começam a surgir “ruídos” de que a elevação do juro nos Estados Unidos possa vir a ocorrer de forma antecipada ao previsto a partir da fala de Ben Bernanke, quando anunciou a decisão do inicio da redução do programa de incentivo monetário. Este seria um fato de expressiva relevância no mercado americano e mundial, e impactaria de forma mais intensa nas economias emergentes.
Ontem foram divulgados novos dados da economia. Os pedidos industriais de dezembro cresceram em linha com a projeções, 1,8%, enquanto o setor de serviços revelou ritmo mais lento, mas o fato importante é que tornou-se incontestável a recuperação da economia americana.
Tanto é que a China parece perder um pouco da importância com a recuperação da economia americana, que passou a concentrar de forma mais incisiva as atenções dos investidores.
No caso brasileiro que já tem perspectiva negativa para o seu setor externo, eventual elevação do juro americano poderia acentuar ainda mais e significativamente o movimento de saída de recursos externos aqui locados que passariam a ter como destino o mercado americano, ao mesmo tempo em que potencializaria a retração dos investidores estrangeiros em alocar recursos no Brasil, seja porque mais escassos, seja porque mais caros ou mesmo pela perda cada vez mais acentuada de atratividade do país.
O contexto Brasil já é desestimulante ao investidor estrangeiro na participação do capital e 2013 já apontou tendência de queda, visto os problemas macroeconômicos presentes no país envolvendo baixa perspectiva de crescimento; política fiscal deteriorada; inflação alta mesmo com preços administrados sendo absolutamente reprimidos; enfim uma série considerável de fatores negativo que já tornaram as projeções para o ano de 2014 amplamente desapontadoras.
Para muitos irônicos 2014 só começará no Brasil em 2015, pois teremos carnaval, copa do mundo, eleições e o final do ano, sugerindo que não se deve esperar nada de efetivamente melhor e concreto para o ano.
E este sentimento de que 2014 será um ano perdido vem exercendo forte contaminação no estado de humor prevalecente no país.
Há um consenso que a economia brasileira só poderá ter crescimento sustentável com reformas agressivas que reduzam carga tributária de forma generalizada e política fiscal rigorosa que proporcione ao governo obter superávits efetivos e expressivos, para assim realizar investimentos e motivar o setor produtivo nacional.
O modelo de crescimento com consumo estimulado a crédito foi pontual no país, estando praticamente esgotado e retratando um endividamento expressivo da sociedade brasileira.
O país está sem tração para crescer e assim enquanto não realizar as reformas continuará não despertando atratividade e corre o risco de ter que começar a devolver de forma gradual as reservas cambiais constituídas e isto passará pela formação do preço do câmbio de forma inevitável, mesmo que o BC mantenha intervenção contínua no mercado de câmbio, ao final esta realidade preponderará de forma inevitável.
Na realidade, o Brasil está num contexto que depende muito de si mesmo e da sua capacidade de reorganizar-se e viabilizar-se para a retomada do crescimento, pois não deve ter expectativas de que o ambiente externo venha a favorecê-lo se não criar condições que restabeleçam sua atratividade.
Se não o fizer a penalidade inicial poderá ser uma redução de nota de crédito (rating) por parte de uma ou outra agência especializada, o que afetará ainda mais a perda de atratividade.
A taxa cambial com viés sustentável de alta será tão somente a consequência de inúmeras causas internas próprias do país e de difícil superação num ano eleitoral.
Por enquanto, ocorreu tão somente um ajuste técnico da taxa cambial, ainda não refletindo volume de saída de recursos que estão por ocorrer, seja pela redução da liquidez internacional, seja pela atratividade do mercado americano ou de outros mercados emergentes em melhor situação macroeconômica.
Nossa expectativa é que haverá forte pressão de demanda ao longo do 1º trimestre deste ano, o que tem nos levado a projetar a taxa cambial em R$ 2,50 ao final deste 1º trimestre.