Há meses ouvimos alertas de que a economia dos EUA está prestes a entrar em recessão, mas sua expansão continua surpreendendo. E tudo indica que deve continuar assim no futuro próximo ou até por mais tempo.
Não faltam motivos para adotar uma visão mais pessimista. Exemplo disso é a persistente inversão da curva de juros dos títulos do Tesouro americano, que permanece profundamente negativa. O diferencial entre a nota de 10 anos e o bônus de 3 meses está atualmente negativo em 52 pontos-base (16 de maio) e tem se mantido consistentemente abaixo de zero desde julho de 2022.
Diversos estudos indicam que a curva invertida foi um indicador confiável de recessão nas últimas décadas. Pode ser que isso se comprove novamente, mas a economia dos EUA não para de desafiar as probabilidades implícitas pela curva de juros e outras métricas do ciclo econômico.
A atividade econômica desacelerou recentemente, mas o Índice Econômico Semanal do Federal Reserve de Nova York (WEI, na sigla em inglês) sugere que tal desaceleração está se estabilizando (até 6 de maio). Depois de uma tendência de queda em 2022, o WEI vem se mantendo estável este ano, embora em um nível que reflete um crescimento modesto/fraco.
Os economistas estão debatendo por que a economia norte-americana está conseguindo se manter firme, expressando dúvidas quanto à durabilidade desse crescimento lento. O fato é que, pelo menos por enquanto, os EUA evitaram o início de uma recessão, conforme a definição oficial da agência nacional de pesquisa econômica (NBER), sem perspectiva para que ocorra uma virada iminente.
A persistência do crescimento vem surpreendendo a muitos, com base em várias medidas da tendência macroeconômica ampla.
Nós aqui do CapitalSpectator.com atribuíamos uma chance elevada, no fim do ano passado, de virada em breve na economia dos EUA. Mas algo curioso aconteceu no caminho para a recessão: a desaceleração inicial da economia no outono de 2022 desafiou as probabilidades e se estabilizou.
De acordo com minhas estimativas, ainda se aplicam condições cíclicas empresariais neutras a ligeiramente negativas, com base em um par de métricas próprias atualizadas semanalmente no US Business Cycle Risk Report. A história sugere que, quando o Índice de Tendência Econômica (ETI) e o Índice de Momento Econômico (EMI) caem abaixo de seus pontos de inflexão, temos o início de uma recessão oficial ou seu começo está próximo.
Mas parece que desta vez estamos vendo uma exceção. Após a queda inicial do ETI e do EMI no final de 2022, a expectativa de aprofundamento em território negativo não ocorreu; em vez disso, os índices se recuperaram levemente.
De fato, as estimativas futuras do ETI e do EMI até junho indicam sinais de fortalecimento. As previsões para ambos os índices apontam para um retorno a um ritmo de crescimento estável a moderado.
A persistência do crescimento lento também está em linha com o Índice ADS do Federal Reserve da Filadélfia, que reflete uma atividade ligeiramente acima da média para a economia dos EUA até 6 de maio.
O que poderia prejudicar a resiliência da economia? Existem muitas possibilidades quando o crescimento é lento e arrastado, incluindo o “elefante na sala”: a crise do teto da dívida. Se um acordo em Washington não for alcançado em breve, as consequências de um calote dos EUA poderiam facilmente empurrar a economia para o abismo. No entanto, se acreditamos que os políticos conseguirão encontrar uma solução, não vislumbramos a possibilidade de uma recessão nos EUA no futuro imediato.