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As eleições legislativas realizadas em 26 de outubro de 2025 na Argentina resultaram em uma vitória expressiva da coalizão liderada pelo presidente Javier Milei e seu partido La Libertad Avanza. O bloco obteve cerca de 40 % dos votos, superando a oposição peronista (aproximadamente 31 %) em um cenário considerado determinante para consolidar o poder do governo no Congresso.
Com essa vitória, Milei,que desde sua eleição em 2023 vinha implementando um conjunto de reformas liberais e de austeridade, sai fortalecido para avançar sua agenda legislativa e econômica.
A eleição foi vista como um “plebiscito” sobre sua estratégia de confrontar décadas de inflação elevada, controles cambiais, e gasto público elevado. Analistas destacaram que o resultado reduz riscos políticos imediatos, reforça credibilidade perante investidores e pode permitir uma aceleração das reformas.
A valorização do peso argentino frente ao dólar
De forma quase simultânea à consolidação da vitória de Milei, o peso argentino experimentou uma valorização relevante em relação ao dólar americano. Fontes indicam que a moeda recuperou cerca de 6 % num único dia após o resultado eleitoral, cotando-se em aproximadamente 1.405 pesos por dólar. Em outro relato, o avanço foi superior a 10% no mesmo intervalo, o que configura uma das melhores sessões cambiais para a Argentina em muito tempo.
Este fortalecimento reflete três elementos principais: i) alívio de incertezas políticas, ii) reforço de credibilidade junto a investidores estrangeiros, e iii) expectativa de manutenção de apoio externo (como o pacote dos EUA) para estabilizar as finanças argentinas.
Vale observar que o regime cambial argentino vem de uma trajetória turbulenta: nos anos anteriores, o peso enfrentou enorme depreciação e incerteza, com controles de câmbio e pesadas intervenções. A valorização é, portanto, algo relevante em termos simbólicos e práticos.
Relação com o Brasil: implicações positivas e negativas
Pontos positivos
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Maior estabilidade regional – Com a Argentina obtendo um cenário político mais firme e menor risco de ruptura abrupta, isso favorece a previsibilidade no Mercosul e nas cadeias de comércio sul-americanas. O Brasil pode se beneficiar de uma Argentina mais estável como parceira comercial.
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Possibilidade de comércio bilateral ampliado – Um governo argentino com agenda de liberalização pode abrir mais oportunidades para exportações brasileiras (agropecuária, insumos, maquinário) e para investimentos brasileiros naquele país.
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Melhoria na cooperação macroeconômica – Uma Argentina que retome credibilidade internacional facilita a cooperação financeira e monetária entre os países da região, o que pode favorecer o Brasil em fóruns multilaterais e em negociações de integração.
Pontos negativos
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Concorrência exportadora mais agressiva – Se a Argentina liberalizar sua economia e seu câmbio se valorizar, conseguindo custos internos menores (via cortes no gasto público, menor intervenção), produtos argentinos podem competir de forma mais forte com produtos brasileiros em mercados externos.
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Desequilíbrios comerciais – Uma melhora muito rápida na Argentina pode alterar os fluxos comerciais com o Brasil de modo desfavorável, especialmente se o Brasil mantiver políticas menos eficientes ou mais rígidas.
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Volatilidade política e risco de “efeito contágio” – Embora o resultado tenha sido visto como fortalecimento político, reformas agressivas podem gerar instabilidade social. Qualquer crise na Argentina pode repercutir no Brasil (especialmente no comércio, turismo ou investimentos transfronteiriços).
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Dependência externa e influência de terceiros – A forte dependência argentina de apoio externo (como o pacote dos EUA) pode gerar dilemas diplomáticos para o Brasil, especialmente se houver alinhamentos que diferem dos interesses brasileiros em políticas regionais ou comerciais.
Considerações para o Brasil
Para o Brasil, cabe acompanhar com atenção os próximos passos da agenda de Milei: liberalização cambial, reformas do gasto público, abertura ao investimento externo, e medidas de integração econômica. Uma Argentina bem-sucedida em ajustar sua economia pode se tornar parceira ainda mais relevante, mas o Brasil precisa se preparar para adaptar sua própria política comercial e monetária para responder à nova dinâmica.
Empresas brasileiras que atuam ou planejam atuação na Argentina devem observar o câmbio, o ambiente regulatório e o perfil de risco político, aproveitando oportunidades, mas também mitigando riscos de competição surpresa ou mudança repentina de regras.
Além disso, o Brasil pode aproveitar para impulsionar uma diplomacia ativa, buscando fortalecer acordos bilaterais e cooperação setorial (energia, infraestrutura, logística, agro). Por outro lado, deve monitorar cuidadosamente que uma Argentina mais liberalizada e valorizada não se torne um canal de “fuga” de investimentos ou talentos brasileiros, ou um competidor direto em mercados de exportação.
A vitória eleitoral de Javier Milei e de seu partido marca um momento de mudança relevante para a Argentina: há maior poder político para avançar reformas, e o mercado reagiu favoravelmente, incluindo a valorização do peso argentino frente ao dólar. Para o Brasil, a novidade abre janelas de oportunidade, mas também exige cautela e estratégia para lidar com os desafios de uma vizinha que pode se tornar tanto aliada reforçada quanto competidora mais agressiva.
A valorização do peso, ainda que parcial e circunstancial, simboliza que o mercado aposta, por enquanto, que o risco argentino está declinando. Se esse cenário se confirmar, poderemos ver uma Argentina mais integrada ao mundo e com maior papel econômico regional. Mas, se as reformas fracassarem ou desencadearem problemas sociais, o risco de reversão será grande.
