Eleições na Argentina: Vitória eleitoral e contexto político

Publicado 28.10.2025, 09:12
Atualizado 28.10.2025, 09:12

As eleições legislativas realizadas em 26 de outubro de 2025 na Argentina resultaram em uma vitória expressiva da coalizão liderada pelo presidente Javier Milei e seu partido La Libertad Avanza. O bloco obteve cerca de 40 % dos votos, superando a oposição peronista (aproximadamente 31 %) em um cenário considerado determinante para consolidar o poder do governo no Congresso. 
Com essa vitória, Milei,que desde sua eleição em 2023 vinha implementando um conjunto de reformas liberais e de austeridade, sai fortalecido para avançar sua agenda legislativa e econômica. 
A eleição foi vista como um “plebiscito” sobre sua estratégia de confrontar décadas de inflação elevada, controles cambiais, e gasto público elevado. Analistas destacaram que o resultado reduz riscos políticos imediatos, reforça credibilidade perante investidores e pode permitir uma aceleração das reformas.

A valorização do peso argentino frente ao dólar

De forma quase simultânea à consolidação da vitória de Milei, o peso argentino experimentou uma valorização relevante em relação ao dólar americano. Fontes indicam que a moeda recuperou cerca de 6 % num único dia após o resultado eleitoral, cotando-se em aproximadamente 1.405 pesos por dólar. Em outro relato, o avanço foi superior a 10% no mesmo intervalo, o que configura uma das melhores sessões cambiais para a Argentina em muito tempo. 
Este fortalecimento reflete três elementos principais: i) alívio de incertezas políticas, ii) reforço de credibilidade junto a investidores estrangeiros, e iii) expectativa de manutenção de apoio externo (como o pacote dos EUA) para estabilizar as finanças argentinas. 
Vale observar que o regime cambial argentino vem de uma trajetória turbulenta: nos anos anteriores, o peso enfrentou enorme depreciação e incerteza, com controles de câmbio e pesadas intervenções. A valorização é, portanto, algo relevante em termos simbólicos e práticos.

Relação com o Brasil: implicações positivas e negativas

Pontos positivos

  1. Maior estabilidade regional – Com a Argentina obtendo um cenário político mais firme e menor risco de ruptura abrupta, isso favorece a previsibilidade no Mercosul e nas cadeias de comércio sul-americanas. O Brasil pode se beneficiar de uma Argentina mais estável como parceira comercial.

  2. Possibilidade de comércio bilateral ampliado – Um governo argentino com agenda de liberalização pode abrir mais oportunidades para exportações brasileiras (agropecuária, insumos, maquinário) e para investimentos brasileiros naquele país.

  3. Melhoria na cooperação macroeconômica – Uma Argentina que retome credibilidade internacional facilita a cooperação financeira e monetária entre os países da região, o que pode favorecer o Brasil em fóruns multilaterais e em negociações de integração.

Pontos negativos

  1. Concorrência exportadora mais agressiva – Se a Argentina liberalizar sua economia e seu câmbio se valorizar, conseguindo custos internos menores (via cortes no gasto público, menor intervenção), produtos argentinos podem competir de forma mais forte com produtos brasileiros em mercados externos.

  2. Desequilíbrios comerciais – Uma melhora muito rápida na Argentina pode alterar os fluxos comerciais com o Brasil de modo desfavorável, especialmente se o Brasil mantiver políticas menos eficientes ou mais rígidas.

  3. Volatilidade política e risco de “efeito contágio” – Embora o resultado tenha sido visto como fortalecimento político, reformas agressivas podem gerar instabilidade social. Qualquer crise na Argentina pode repercutir no Brasil (especialmente no comércio, turismo ou investimentos transfronteiriços).

  4. Dependência externa e influência de terceiros – A forte dependência argentina de apoio externo (como o pacote dos EUA) pode gerar dilemas diplomáticos para o Brasil, especialmente se houver alinhamentos que diferem dos interesses brasileiros em políticas regionais ou comerciais.

Considerações para o Brasil

Para o Brasil, cabe acompanhar com atenção os próximos passos da agenda de Milei: liberalização cambial, reformas do gasto público, abertura ao investimento externo, e medidas de integração econômica. Uma Argentina bem-sucedida em ajustar sua economia pode se tornar parceira ainda mais relevante, mas o Brasil precisa se preparar para adaptar sua própria política comercial e monetária para responder à nova dinâmica.
Empresas brasileiras que atuam ou planejam atuação na Argentina devem observar o câmbio, o ambiente regulatório e o perfil de risco político, aproveitando oportunidades, mas também mitigando riscos de competição surpresa ou mudança repentina de regras.

Além disso, o Brasil pode aproveitar para impulsionar uma diplomacia ativa, buscando fortalecer acordos bilaterais e cooperação setorial (energia, infraestrutura, logística, agro). Por outro lado, deve monitorar cuidadosamente que uma Argentina mais liberalizada e valorizada não se torne um canal de “fuga” de investimentos ou talentos brasileiros, ou um competidor direto em mercados de exportação.

A vitória eleitoral de Javier Milei e de seu partido marca um momento de mudança relevante para a Argentina: há maior poder político para avançar reformas, e o mercado reagiu favoravelmente, incluindo a valorização do peso argentino frente ao dólar. Para o Brasil, a novidade abre janelas de oportunidade, mas também exige cautela e estratégia para lidar com os desafios de uma vizinha que pode se tornar tanto aliada reforçada quanto competidora mais agressiva.

A valorização do peso, ainda que parcial e circunstancial, simboliza que o mercado aposta, por enquanto, que o risco argentino está declinando. Se esse cenário se confirmar, poderemos ver uma Argentina mais integrada ao mundo e com maior papel econômico regional. Mas, se as reformas fracassarem ou desencadearem problemas sociais, o risco de reversão será grande.

 

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