A mais recente edição do PISA – o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes – revelou um dado bem preocupante: 7 em cada 10 brasileiros de 15 anos não conseguem resolver problemas matemáticos considerados simples, como uma conversão de moedas ou porcentagem. Esse cenário é indicativo de um problema muito maior e muitos aspectos relevantes que impactam não apenas a sociedade, mas toda a economia e os investimentos no país – o analfabetismo financeiro.
Primeiramente, é fundamental compreender o que essas falhas significam. Apenas 27% dos jovens alcançam o nível mínimo (nível 2) em matemática, contra cerca de 69% entre os países da OCDE – um fosso preocupante para uma economia que deseja se posicionar de forma competitiva entre as melhores do mundo – pelo menos em termos do PIB. Para ficar mais claro: apenas um em cada quatro adolescentes tem maturidade suficiente para tarefas financeiras e quantitativas básicas – como comparar trajetos, calcular descontos ou entender taxas de juros. Não à toa, apenas 2% dos alunos são proficientes em literacia financeira, comparado a 11% da média OECD.
Mas como isso afeta diretamente a economia e os investimentos?
Em primeiro lugar, há um impacto direto na qualidade da força de trabalho. Recentes estudos da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) apontam uma forte correlação entre habilidades matemáticas e produtividade. Trabalhadores com formação fraca exigem maiores custos em treinamento, são menos eficientes na tomada de decisão e tendem a gerar menor inovação. Isso coloca o Brasil em condição ainda mais vulnerável quando compete internacionalmente por investimentos produtivos.
Essa lacuna também afeta as empresas no planejamento financeiro e no acesso ao crédito. Analistas e gestores com base fraca em raciocínio quantitativo têm dificuldade em interpretar balanços, avaliar riscos ou usar modelos estatísticos. A consequência é maior cautela por parte dos investidores – ou, pior, a evasão para mercados com mão de obra mais qualificada.
O impacto chega ainda ao setor financeiro e aos mercados de crédito. Um consumidor com baixa literacia financeira tende a assumir comprometimento excessivo, cair em armadilhas como rotativos de cartão e consignado e sofrer com inadimplência. Isso impulsiona os juros – tornando o custo de financiamento mais caro também para as pequenas e médias empresas (PMEs), que dependem dessas linhas para investimento.
Esse gap cognitivo deixa a sociedade mais vulnerável, exposta e suscetível às promessas de ganhos fáceis e rápidos, como as Bets, jogos do Tigrinho, pirâmides financeiras e outros devaneios financeiros que acometem boa parte da população brasileira – que prefere apostar do que investir.
Mas há efeitos menos evidentes, porém, estruturais. O baixo desempenho em matemática está ligado a deficiências em pensamento crítico e criativo – habilidades essenciais no mundo digital e na indústria 4.0. Apenas 46% dos estudantes brasileiros alcançam um nível básico de pensamento criativo, segundo o PISA. Isso coloca barreiras no desenvolvimento de algoritmos, automação e solução de problemas complexos – áreas centrais às estratégias de crescimento das empresas modernas.
Da perspectiva da economia nacional, o custo estimado dessa “crise de aprendizagem” é monumental. Estima-se que a perda acumulada de rendimento futuro alcance a trilhões de reais, especialmente entre os grupos mais vulneráveis. E a desigualdade educacional reforça um ciclo perene, pois estudantes com pior renda e habilidades matemáticas fracas continuam gerando resultados pouco expressivos, com menor pensamento crítico e inovador, excluindo-os do mercado de trabalho formal.
Em contrapartida, há também oportunidades estratégicas para quem tem visão de longo prazo. Empresas e instituições que investirem em educação corporativa, capacitação técnica, treinamento intensivo e até no uso inovador de tecnologia – como a inteligência artificial – podem se posicionar à frente . O WEF, Banco Mundial e UNESCO têm enfatizado há anos a AI como alavanca para corrigir defasagens na aprendizagem – com materiais adaptativos, ensino personalizado e feedback imediato. Uma escola que priorize essas soluções já opera como diferencial competitivo.
Para o mercado financeiro, surgem pistas valiosas. Startups e corporações que apostarem em edtechs podem colher ganhos exponenciais: soluções que combinam gamificação, análise de dados e plataformas mobile oferecem grande escala a custos decrescentes. Ao mesmo tempo, fundos de private equity voltados à educação (K‑12 e ensino técnico) devem ganhar relevância para investidores que buscam impacto social e retorno financeiro sustentável.
A lacuna em matemática do Brasil é resultado sintomático de deficiências profundas – infraestrutura, formação docente, desigualdade social – mas também um campo fértil para soluções inovadoras, a partir do setor privado e da agenda digital. Quem identificar essa falha estrutural como oportunidade, e se antecipar com investimento em capital humano, estará mais bem preparado para surfar as próximas ondas da economia global.
O desafio demandará constância: não se trata apenas de implementar uma nova ferramenta ou curso rápido. O país precisa de um esforço coordenado entre governo, empresas e famílias – com visão estratégica a longo prazo, não imediatista. Só assim o Brasil terá chance de romper o “círculo da mediocridade” e posicionar-se como protagonistas da nova onda tecnológica global.
Em síntese, o desempenho matemático dos brasileiros é hoje um dos principais entraves ao crescimento econômico sustentável – mas também é o ponto de partida para uma grande oportunidade de mudança no ensino de base, na inclusão de disciplinas mais estratégicas, como Educação Financeira, na integração entre mercado e academia, além da necessidade da capacitação e valorização dos professores – pivôs do desenvolvimento e da mudança do país.