A semana mais movimentada até agora chega ao fim com uma pletora de informações relevantes a serem comentadas tanto na economia global como na local.
Relevantemente, o Fed reduziu novamente o ritmo de normalização da política monetária ao subir os juros em 25 pontos base, o Banco Central da Inglaterra deu sinalizações sobre o fim do ciclo de juros e o Banco Central Europeu reforçou a perspectiva de ao menos mais uma alta de 50 pontos base na reunião de março. Fora isso, a leitura do Payroll de janeiro mostrou que a convergência da inflação nos EUA pode ser atrasada por conta de um mercado de trabalho que dá todos os sinais de ainda estar extremamente aquecido.
Apesar de todas essas novidades extremamente interessantes para a conjuntura econômica e preços dos ativos financeiros, somos obrigados a discutir questões relativas à institucionalidade do Banco Central do Brasil e às preferências econômicas do governo.
Conforme esperado, o Copom manteve a taxa Selic inalterada em 13,75% em sua 252ª reunião. O comunicado trouxe algumas inovações relevantes que reforçam uma leitura hawkish da decisão. Especificamente, o Banco Central destaca um cenário alternativo em que a taxa de juros é mantida inalterada em todo o horizonte relevante, o que provocaria convergência da inflação à meta em 2024. Ademais, a autoridade monetária dá ênfase aos riscos fiscais e à consequente elevação das expectativas de inflação no horizonte relevante e muda a caracterização deste para dar maior peso a 2024.
A postura da autoridade monetária é justificada. De fato, por mais que a taxa de juros nominal esteja em patamar já elevado, o aumento das expectativas de inflação no horizonte relevante sugere que não há espaço para reduzir o grau de aperto monetário.
A reação do governo foi quase imediata. Na quinta-feira a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, criticou a postura do Banco Central. No mesmo dia, à noite, o presidente Lula deu uma entrevista na televisão onde voltou a criticar fortemente o patamar de juros, a independência do Banco Central e as metas de inflação.
Como dissemos em nosso comentário pré-Copom na semana passada, há “dúvidas sobre o posicionamento institucional da autoridade monetária. Ainda que em parte sejam “ruídos políticos de curto prazo”, o fluxo de notícias durante as últimas duas semanas sobre a independência do Banco Central, a meta de inflação, a composição do Copom e as críticas repetidas ao nível de juros atual elevam, por si só, a dispersão das projeções de inflação, sua volatilidade e pressionam o prêmio de risco.
Ou seja, parte grande do motivo da Selic estar em patamar elevado e projetada a permanecer neste nível é justamente o ruído político gerado pelo governo em torno do assunto. A outra parte é a incerteza em torno da política fiscal, com pouca clareza sobre os planos para o novo arcabouço a ser apresentado pelo governo em abril. Até lá, a perspectiva de desaceleração deve reforçar o ímpeto por mais medidas de estímulo fiscal e parafiscal, sugerindo efetivamente que as contas públicas seguirão pressionadas.
Assim, não vemos espaço no curto prazo para alívio da política monetária, ao mesmo tempo que isso aumenta a perspectiva de novas críticas do governo. As críticas efetivamente mantêm o patamar de incerteza elevado na economia local, sugerindo que o prêmio de risco seguirá cobrando seu preço nos ativos.