Durante a pandemia, ocorreram mudanças significativas nas cadeias de suprimentos e na indústria em todo o mundo. A estratégia era o “offshoring”, que envolvia levar fábricas para países distantes, como a China, para reduzir custos e no caso dos semicondutores em Taiwan. Agora, a preferência é concentrar unidades de produção mais perto das regiões consumidoras, o Nearshoring. E com as tensões geopolíticas, aconteceu o movimento de trazer a produção para os países “amigos”, o “friendshoring”.
Esses dois movimentos abriram uma janela de oportunidade para países emergentes. Na América latina o país mais beneficiado até o momento foi o México. O Brasil, até o momento, não tem aproveitado esse movimento. O peso mexicano tem valorizado muito frente ao dólar e ao Real. Em 12 meses valorizou 7,84% frente ao Real e 1% contra o dólar (até o dia 31/05). E qual o motivo dessa valorização?
As empresas americanas estão investindo significativamente no México por várias razões estratégicas e econômicas.
A primeira delas é por conta do nearshoring, ou friendshoring, que é uma tendência do mercado em que as empresas transferem parte de sua produção para locais mais próximos dos mercados onde os produtos serão vendidos. O México, com a proximidade geográfica aos Estados Unidos, tornou-se uma escolha estratégica para muitas empresas globais.
Além disso, existe, obviamente, a questão financeira. O México oferece custos de produção competitivos, incluindo mão de obra qualificada e infraestrutura industrial. As empresas podem aproveitar esses benefícios para produzir bens de consumo e componentes para exportação. O acesso ao mercado dos Estados Unidos é também um grande atrativo. A proximidade geográfica com os EUA permite uma logística mais eficiente e reduz gargalos enfrentados durante a pandemia.
O crescimento industrial no México também tem chamado atenção. A produção no norte e centro do país aumentou e, consequentemente, as oportunidades de emprego nessas regiões também subira, estando acima dos níveis pré-pandemia. Companhias como a Hisun U.S.A. transferiram parte de sua produção para o México, diversificando a manufatura fora da Ásia.
Por último, temos o fato de que o governo mexicano oferece incentivos fiscais e programas de apoio para atrair investidores estrangeiros. Esse movimento inclui zonas econômicas especiais, redução de impostos e facilidades para estabelecer operações no país.
Todos esses aspectos, quando colocados em conjunto, favorecem um movimento natural de maior interesse das empresas estrangeiras no país, principalmente dos Estados Unidos por conta da proximidade geográfica — que acaba se tornando estratégica.
México: economia moderna e atrativa, mas não sem problemas
O NAFTA (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio), criado em 1994, também desempenhou um papel significativo no processo de investimento no México. Desde que foi criado, o grupo estabeleceu a maior zona livre de tarifas do mundo, permitindo o comércio livre entre os EUA, Canadá e México. Essa abertura comercial modernizou a economia mexicana, tornando-a mais atraente para investidores.
Foi o tratado também que auxiliou para que o México saísse de um modelo econômico protecionista e permitiu que produtos mexicanos se beneficiassem da falta de barreiras comerciais, impulsionando o crescimento econômico.
Quando olhamos para os investimentos financeiros, o México também é mais atrativo que o Brasil. A dívida pública mexicana está em 49,4% do PIB, enquanto a do Brasil está em 72,87%, e as taxas de juros nominais dos dois países estão muito próximas, 11,00% no México e 10,50% no Brasil. Ou seja, um risco percebido menor para um juro um pouco maior que o brasileiro.
Mas quando pensamos nos problemas dos dois países, percebemos diversas similaridades. Processos complexos de aberturas de negócios, leis trabalhistas recheadas de particularidades, direitos e obrigações dos empregadores, atenção com a contribuições para a seguridade social, diferença cultural e barreira linguística para atrair investidores americanos, problemas de segurança, corrupção, infraestrutura e insegurança jurídica.
Esses são alguns dos desafios que ambos os países possuem, mas apesar disso, o México tem conseguido se destacar no cenário econômico e tem atraído mais capital, tirando proveito justamente desse movimento mundial de “nearshoring” e “friendshoring”. Enquanto isso, o Brasil vê essa janela de oportunidade passar sem conseguir aproveitá-la para galgar um salto na economia do país.