Em todos esses anos nessa indústria vital…
Trump deu ontem à noite, ao 60 Minutes da rede CBS, sua primeira entrevista como presidente eleito. Mais interessante do que a entrevista em si são as reações que provocou na “imprensa especializada”.
Não se engane: uma multidão de jornalistas estava sedenta por sangue, pronta para, ao menor deslize, encher os jornais de hoje de manchetes sobre Trumpzilla e a catástrofe que se aproxima da Terra dos Livres.
Nada: deram com os burros n’água, diante de um discurso muito mais ponderado.
Restou aos jornais um relato cheio de condicionantes: “Trump se mostrou mais parecido com um ser humano normal (caramba, que surpresa!), mas ainda terá que dar provas de que mudou de ideia.”
Um candidato que abranda o discurso depois de vencer? Nossa: é a primeira vez que isso acontece.
O mercado mais quente do momento
Mercados têm dia mais tranquilo mundo afora, com investidores reavaliando posições após as reviravoltas da semana passada.
Já há, inclusive, quem pondere tomar um pouco mais de risco em mercados bastante penalizados no que se seguiu à reação inicial à eleição americana. México, por exemplo.
A maior sobriedade também se reflete por aqui, muito embora os volumes do mercado local sejam tímidos ante o feriado local de amanhã.
O mercado mais quente do momento segue sendo o de Trumpólogos e suas previsões sobre o que será da economia americana nos próximos anos.
De Washington a Brasília
Enquanto todos olham para Washington, as coisas seguem em bom rumo em Brasília.
Articulações palacianas seguem em favor da PEC do Teto, que pode ir a votação em primeiro turno no Senado ainda nesta semana.
Caminhando bem, talvez haja espaço até mesmo para que a segunda votação — e aprovação — aconteça um pouco antes do inicialmente imaginado.
Nem tudo são flores: avança também a infame reabertura do programa de repatriação no ano que vem.
A recorrência do programa, penso eu, traz o risco de virar um REFIS: faça tudo errado agora e acerte as contas depois. Mas isto sou eu e minha casmurrice.
A despeito dos tremores no hemisfério norte, seguimos por aqui rumo ao Novo Brasil.
Não à doutrinação
Após um longo período no qual simplesmente não fazia sentido — era simples reflexo da canhotice intelectual dos donos do poder da vez —, enfim o BC se viu diante de uma oportunidade na qual intervir no câmbio fazia sentido. E o está fazendo muito bem. Salve!
Longe de tentar dobrar o mercado a seu próprio gosto — como os de antes tanto tentaram —, está lá tão somente reduzindo a volatilidade.
Tudo muito compatível com seu papel institucional.
Data-dependent?
Da mesma forma que não lhe cabe doutrinar o câmbio, não é papel do BC doutrinar o mercado de DI.
A zeragem de posições vendidas nas taxas contribuiu bastante para que voltassem a subir, o que assustou aos menos experimentados na volatilidade do mercado de renda fixa. Não é nada de mais: a sobreposição de fluxo a fundamento não há de persistir por muito tempo.
Em meio a isso tudo, reduziram as apostas do mercado quanto a um corte de 0,50 na Selic na próxima reunião do Copom, no final deste mês. Alguns atribuem à eventual pressão do câmbio na inflação; outros, a uma cautela mais genérica em relação a Trump.
É certo que o cenário anterior tornava a vida de Ilan mais fácil, mas o fato é que, a despeito dos tremores da última semana, as condições do momento permitem, sim, a aceleração do ciclo.
Resta saber quão guiado pelos dados concretos (data-dependent) o comitê efetivamente é.