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Os mercados de petróleo iniciaram 2020 com certa volatilidade gerada, em grande medida, pelo acirramento das tensões geopolíticas no Golfo Pérsico.
Os preços inicialmente mostraram indiferença à instabilidade política e aos protestos no Iraque, que foram vistos como questões internas que poderiam eventualmente impactar a produção e o transporte petrolífero do país.
No entanto, a animosidade rapidamente se intensificou entre milícias apoiadas pelo Irã e os Estados Unidos e acabou desencadeando um conflito aberto, com a morte de um prestador de serviços americano, bombardeios isolados, um ataque à embaixada dos EUA, o assassinato de um importante general iraniano e, finalmente, na terça-feira à noite, o lançamento de mísseis contra bases militares iraquianas que abrigavam soldados e equipamentos norte-americanos. Neste momento, tanto o Irã quanto os EUA deram sinais de recuo no conflito.
Analisamos a seguir as principais questões refletidas na reação dos mercados de petróleo a esses eventos e no que devemos ficar de olho no futuro.
O que revelam os movimentos de preço do petróleo
Os preços do petróleo saltaram cerca de 4% no início do pregão de quarta-feira na Ásia e depois na Europa, quando surgiram notícias de que o Irã havia lançado mísseis balísticos contra duas bases militares iraquianas que abrigavam soldados americanos no norte do Iraque. Entretanto, quando houve a suspeita de que os mísseis não haviam causado vítimas e o presidente Trump tuitou “está tudo bem!”, os preços começaram a recuar.
Mesmo quando as notícias pareciam terríveis, os preços não dispararam drasticamente, porque os mercados não consideraram que havia alta probabilidade de uma guerra entre EUA e Irã. Ao meio-dia de quarta-feira, horário americano, o presidente Trump fez um pronunciamento sobre o Irã e indicou que as tensões haviam arrefecido, provocando uma forte queda na cotação do petróleo West Texas Intermediate, que se desvalorizou cerca de 5% naquele momento.

Principais fatos: primeiro, mesmo após o Irã lançar mísseis contra bases militares, o mercado ainda considerava relativamente baixa a probabilidade de uma guerra. Segundo, após o pronunciamento de Trump, o mercado ficou bastante confiante de que não haveria uma guerra.
Como expliquei em setembro, os ataques a instalações petrolíferas da Saudi Aramco (SE:2222) já haviam feito o mercado precificar um cenário de guerra capaz de impactar a oferta de milhões de barris de petróleo por um prolongado período. Mesmo assim, os preços não subiram significativamente, uma vez que o mercado acredita que é pouco provável que ocorra uma guerra ou outro distúrbio significativo no petróleo.
O preço do petróleo caiu forte após o pronunciamento do presidente americano na quarta-feira, já que ele conseguiu convencer o mercado de que o risco de uma guerra voltaria ao nível em que estava em dezembro, ou talvez até um pouco menos.
Antes dos ataques a mísseis na noite de terça-feira, o mercado lidava com a incerteza gerada pela retaliação que o Irã poderia fazer à morte de um dos seus generais. Essas questões deixam os mercados nervosos, mas agora que a situação parece ter se resolvido, pelo menos por enquanto, a distensão acabou revertendo a alta dos preços.
Os mercados estão subestimando o risco geopolítico?
Alguns analistas acreditam que os mercados estão subestimando os riscos geopolíticos. Ocorre que eles estão comparando os eventos atuais com épocas passadas de confronto e crise no Oriente Médio, prevendo reações similares. Essa comparação é descabida, pois os fundamentos da oferta e da demanda são bastante diferentes em relação aos de 1990 ou 2003, isto é, antes da Guerra do Golfo e da invasão dos EUA ao Iraque, quando os preços do petróleo dispararam significativamente e permaneceram elevados.
O incrível crescimento da indústria de óleo e gás nos EUA na última década lhes garantiu uma considerável segurança energética que o país não tinha desde a década de 1960, além do fato de que o mundo agora conta com muito mais oferta petrolífera de fora do Oriente Médio. Com isso, do ponto de vista dos fundamentos, o mercado hoje apresenta excesso de oferta, e os estoques nos países da OCDE continuam extremamente altos.
Mesmo com a iminente assinatura da primeira fase do acordo comercial entre EUA e China, a perspectiva econômica mundial segue fraca, e a expectativa é que a demanda de petróleo em 2020 não suba muito, de acordo com a maioria dos economistas. Em suma, os analistas estão tentando identificar comparações entre os mercados de hoje e do passado, mas os fundamentos são bastante diferentes.
Ameaças a serem acompanhadas
Enquanto a ameaça de um conflito entre EUA e Irã parece estar arrefecendo, os perigos à produção petrolífera do Iraque não se dissiparam.
A indústria iraquiana se espalha entre as regiões norte e sul do país. O Governo Regional do Curdistão exporta petróleo a partir do porto de Ceyhan, na Turquia, mas a maior parte do petróleo iraquiano é escoada pelo porto localizado ao sul do Golfo Pérsico, em Basra. As tensões políticas subjacentes sobre o envolvimento do Irã no Iraque ainda não foram resolvidas, o que pode impactar a produção e o transporte petrolífero iraquiano.
Embora os atrasos e fechamentos de campos petrolíferos e terminais de exportação no Iraque não sejam tão significativos ou ameacem tanta quantidade de petróleo quanto uma guerra entre os EUA e o Irã, não se pode ignorar uma possível interferência nas operações iraquianas.
O Iraque exporta óleo pesado – um tipo de petróleo que tem demanda em todo o mundo – e é o quinto maior produtor de petróleo do mundo, podendo até chegar à quarta posição, em vista dos recentes aumentos de produção.Se o conflito impactar os campos petrolíferos e terminais de exportação do Iraque, é possível que a oferta mundial de petróleo seja impactada.