Nesta semana, quatro bancos centrais farão anúncios de política monetária, mas o do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) é de longe o mais importante. Em artigos passados, tratamos exaustivamente do que se pode esperar do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) e falaremos sobre isso novamente depois. Agora, gostaríamos de discutir o amplo rali no dólar estadunidense. A moeda americana se valorizou novamente contra todas as principais divisas, exceto o iene japonês. A queda no USD/JPY é consistente com o forte declínio nos rendimentos do tesouro e no mercado acionário. Os investidores estão nervosos antes da reunião do Fed por diversas razões. Primeiro, o mais recente dado econômico nos EUA, o Índice Industrial Empire State foi decepcionante. Em segundo lugar, os últimos relatórios econômicos na China ficaram aquém das expectativas e, por fim, os ataques a instalações petrolíferas na Arábia Saudita deixaram os investidores preocupados com um possível ataque dos EUA contra o Irã.
Acredita-se que os ataques tenham partido do território iraniano e, logo após o atentado, o presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que as forças armadas norte-americanas estavam "a postos”, apenas aguardando a Arábia Saudita dizer “quem ela acreditava que realizou esse ataque e quais seriam os termos da ação”. O Irã classificou as acusações norte-americanas como “inaceitáveis" e “infundadas”, ameaçando retaliar bases dos EUA. Os preços do petróleo saltaram bem acima de 10% na esteira dos ataques, forçando a decisão de Trump de liberar petróleo da reserva estratégica dos EUA. Embora os transtornos causados aos mercados petrolíferos tenham sido limitados, o temor maior de um conflito armado pode fazer com que os preços do petróleo e o dólar canadense continuem elevados. Esperamos que o USD/CAD caia para 1,3150.
Os dólares australiano e neozelandês estão em foco, já que dados de produção industrial e de vendas no varejo pressionam a China a aumentar o estímulo fiscal. O dólar neozelandês foi o que mais sofreu, desvalorizando-se pelo quarto dia consecutivo, enquanto dados mais amenos na China impulsionaram a alta no A$. Parte dessa divergência pode ser atribuída ao otimismo com o Reserve Bank (RBA, banco central da Austrália). As atas da reunião do RBA foram divulgadas ontem à noite, e a força geral do dólar australiano antes da divulgação refletia esse otimismo. Quando se reuniu pela última vez em setembro, o RBA reconheceu a incerteza mundial, mas também disse que esperava que o crescimento se fortalecesse gradativamente até definir uma tendência. A instituição também observou uma pressão para elevar salários e sinais de uma recuperação no mercado de imóveis residenciais, o que deve respaldar os gastos. Se o mercado encarar com otimismo as atas, o AUD/NZD pode registrar novas máximas de 5 meses. Se derem alguma razão para os investidores acreditarem que a flexibilização ainda é uma possibilidade neste ano, o A$ ampliará sua queda, ultrapassando em muito o declínio no NZ$.
O euro e a libra esterlina caíram forte na segunda-feira. O euro foi afetado pelos comentários de Philip Lane, membro do Banco Central Europeu (BCE), que declarou que a convergência da inflação para a meta desacelerou recentemente e pode inclusive ter revertido parcialmente. A divulgação da pesquisa do ZEW está marcada para hoje e, ainda que os investidores fiquem satisfeitos com o enorme pacote de estímulo esperado do banco central, a economia alemã ainda está bastante fraca. A libra esterlina, por outro lado, continua sendo pressionada pelos riscos do Brexit. Johnson e Juncker concordam que tratativas mais intensas ainda são necessárias, mas a possibilidade de um atraso no prazo de 31 de outubro para o Brexit tem sido questionada pelo líder de Luxemburgo, Bettel, que declarou que só atrasaria a saída do Reino Unido se o prazo tiver alguma finalidade. O Reino Unido e a UE precisam de Luxemburgo, pois a decisão precisa ser unânime.