Há convicção de que o fluxo cambial para o Brasil passe a gradativamente apresentar a inflexão conduzindo-o a positivo, com um fato relevante que é a “qualidade” dos recursos não mais especulativos, dado a impossibilidade de montagens de operações estruturadas (carry trade) com arbitragens de juros para geração destes recursos, o que será importante por terem caráter mais duradouro no nosso mercado e não somente o ganho rápido.
Contudo, esta mudança que se vislumbra está ancorada na melhora consistente dos dados da atividade econômica e retomada das recomendações sobre o Brasil por instituições financeiras internacionais, e sugere que ocorra como dito gradativamente, o que ainda exigirá do BC intervenção no mercado de câmbio, porém somente no mercado à vista com venda de dólares à vista até que se torne efetiva a retomada positiva do fluxo.
Ao persistir na oferta conjugada de moeda à vista com swaps cambiais reversos não logrará sucesso, primeiro porque é cadente o interesse em swaps cambiais reversos e isto “trava” (neutraliza) a possibilidade do BC fazer chegar liquidez à vista no mercado.
O BC já reduziu as reservas cambiais brasileiras em torno de US$ 24,0 Bi e “parece” ter certo cuidado ao não assumir isto objetivamente, razão pela qual procura dissimular esta percepção com a introdução do conceito de “Posição cambial líquida”, um sofisma, já que swaps cambiais reversos ou mesmo swaps cambiais tradicionais não envolvem moeda efetiva, são derivativos liquidáveis por diferença em reais, então, a despeito de ter impactos operacionais no mercado de câmbio não são “iguais”.
Há claros sinais de que a demanda no mercado à vista está mais consistente do que no mercado futuro, e isto indica que o BC deve restringir sua intervenção somente ao mercado à vista e supri-lo com liquidez, de forma pontual, pois afinal o país tem reservas cambiais para equalizar a oferta e procura do mercado, comprando os excessos ou vendendo a carência.
Esta ação será inclusive “profilática” como política monetária para evitar contaminação inflacionária nos preços relativos da economia, que uma vez agregados se tornam resistentes quando há inversão do preço da moeda estrangeira.
O Boletim FOCUS já elevou a projeção do IPCA para o final deste ano e não se pode afirmar que já não exista a contribuição da alta do dólar, e reajustou também a perspectiva do preço da moeda americana para o final do ano elevando-a para R$ 4,10, o que acreditamos prematuro, pois ainda identificamos possibilidade de que recue a R$ 4,00, desde que se confirme a inflexão do fluxo cambial que terá força indutora a enfraquecer o viés de sustentação da alta.
O Brasil não sofre, como tem sido enfaticamente propagado, fuga de recursos por “aversão ao risco”, pois detém excelente CDS, ontem 124 pontos, e sua economia dá sinais de revitalização o que já conduziu a projeção do crescimento do PIB neste ano para 1,0% e para o ano que vem em 2,5%.
O Brasil sofre sim a saída dos capitais especulativos estrangeiros aqui alocados e que perderam a condição de manutenção em nosso mercado, e isto decorre da mudança acentuada do perfil do país, agora com juro baixo e inflação baixa.
Negativo no momento somente o crescimento do déficit em transações correntes que atingiu nos últimos 12 meses algo como 3,0% quando até recentemente circundava os 0,75%, e é um indicador muito considerado. Em grande parte isto se deve ao frágil desempenho da balança comercial que este ano até 14/11 registra superávit de tão somente US$ 15,238 Bi ante US$ 40,568 Bi, mesmo período em 2018, mas nos parece precipitado atribuir ao fato desvalorização do real.
Acreditamos que o país esteja adentrando o momento de mudança do comportamento do fluxo cambial que deverá retomar o positivismo, em especial direcionado no primeiro momento à Bolsa de Valores, mas entendemos que nesta fase transitória é imperativa a necessidade do BC manter a intervenção no mercado de câmbio promovendo tão somente a equalização da liquidez no mercado à vista.
Somente a mudança de atitude por parte do BC já será sinalização para atenuar o viés de sustentação da alta atual, até porque não há fundamentos econômicos que sancionem este preço e nem mesmo o quesito oferta/demanda, visto que o BC promoveu volume de vendas das reservas maior do que o déficit do fluxo.
Agora deve manter a oferta à vista sem a conjugação com oferta de swaps cambiais reversos, já que o desinteresse neste pelo mercado neutraliza o fomento da liquidez à vista por serem conjugados e a sinalização do mercado é clara neste sentido, precisa de dólar à vista.