A preocupação com sustentabilidade tem crescido muito e ganhado cada vez mais importância em diversos setores. No mercado de investimentos, informações sobre práticas ambientais, sociais e de governança das empresas também são cada vez mais levadas em consideração. Temos visto no Brasil um crescimento muito grande do interesse pelo ESG (Environmental, Social and Governance), investimentos que levam em conta critérios de sustentabilidade ambiental, social e de governança.
Esse movimento é ótimo, já que o investimento sustentável leva a um impacto positivo na sociedade. Porém é preciso ter cuidado e entender alguns pontos importantes sobre ESG para que o investidor não se deixe levar apenas pelo discurso raso do mercado. É possível sim investir de acordo com seus valores e apoiar as causas em que você acredita, mas isso pode ter um custo. Entender essas implicações é fundamental para tomar decisões conscientes sobre como investir.
O primeiro ponto é que restringir sua carteira a investimentos sustentáveis poderá implicar em um impacto no retorno ajustado ao risco dos seus investimentos. Dois artigos científicos publicados em 2019 e 2020 concluíram que, ao contrário do que muitos pensam, quanto maior o "ESG score" da empresa, menor é o seu retorno esperado no longo prazo. Nesse tipo de estudo, é importante isolar o fator ESG através de técnicas econométricas para evitar que outros fatores de risco (tais como o "tamanho" e "setor" da empresa) afetem o resultado em uma análise de performance histórica. Uma das explicações seria de que a preferência dos investidores por manter esses ativos mesmo que os retornos sejam mais baixos acaba afetando seu preço no mercado. À medida que o mercado ESG cresce, esse efeito tenderia a aumentar. Além disso, uma carteira de investimentos construída com critérios sustentáveis terá de ser menos diversificada e pode ter maiores custos em taxas. Comparando por exemplo dois ETFs da Vanguard, uma das maiores gestoras do mundo, o ESG ETF (NYSE:ESGV) tem taxa de administração de 0.12%, enquanto o S&P500 ETF (NYSE:SPY) cobra apenas 0.03%.
Para o investidor que quer ter a tranquilidade de investir de forma alinhada à sua visão de mundo e contribuindo para as causas em que acredita, abrir mão de uma pequena parte do retorno pode valer a pena. Mas é aí que entra o segundo ponto de atenção com relação à indústria ESG. Há uma enorme diferença entre investir em fundos que têm ESG, sustentável ou verde no nome e investir em produtos realmente alinhados aos seus valores. É preciso muito cuidado para não cair no greenwashing, em que as empresas afirmam cumprir valores socioambientais quando na verdade isso não passa de uma estratégia de marketing. Há diversos fundos no mercado que se dizem ESG mas incluem empresas de energia não-renovável e mineração, por exemplo. Em alguns casos, os investidores podem estar obtendo retornos menores e maiores custos enquanto investem em empresas que conflitam diretamente com seus valores.
Se você quer investir de forma sustentável e contribuir para um mundo melhor, o primeiro passo é entender que há chances de que esse tipo de investimento ofereça menores retornos, segundo alguns estudos científicos. Defina de forma consciente até que ponto você se dispõe a abrir mão de resultados para alinhar sua carteira aos seus valores e quais serão as causas prioritárias para você, considerando que quanto mais restrições, menor a diversificação e maiores os custos. E o terceiro passo - e talvez o mais importante - verifique se os fundos escolhidos realmente refletem os seus valores e estão alinhados às causas que você quer apoiar.