O homem que copiava
Povo grego votou contra a austeridade. Parece-me uma reação natural vinda das ruas. O homo economicus (espécie de livro-texto) vota em favor da austeridade, mas o homo sapiens (espécie de carne e osso) vota contra.
Imagine só se Dilma convocasse um referendo para votar no ajuste fiscal do ministro Levy… estaríamos já rebaixados para junk.
O voto negativo da Grécia eleva a chance de saída da Zona do Euro, embora não a determine. Nesse sentido, a análise ainda é mais estatística do que matemática.
Dentro dessa estatística, sobrevive uma esperança através da renúncia do ministro das Finanças grego, Yanis “Mantega” Varoufakis.
Os credores, que não gostavam de Yanis, apreciarão uma nova proposta amanhã.
Os travessos
Voltando à vaca tupiniquim, Joaquim Levy reconhece que a situação fiscal continua preocupante.
“Estamos no meio de uma travessia” - ele disse ao Valor.
Exatamente no meio?
A agência de risco S&P contabilizou 26 atualizações negativas de rating para empresas brasileiras no primeiro semestre.
Então: 26 vira, 52 acaba.
Os analistas da S&P vão trabalhar bastante neste segundo semestre, especialmente para reprecificar uma expectativa de queda do PIB brasileiro de apenas -1% em 2015, voltando a crescer 2% em 2016.
Felicidade foi embora
Sinto-me bem mais pessimista (realista?) do que a S&P.
Nossa equipe de macro projeta PIB caindo perto de 2% em 2015 e estável no ano que vem.
Sugiro olhar com cuidado para a desaceleração do crédito, que tem enorme efeito multiplicador e vem carregando o piano do “crescimento” até o momento.
Aliás, o Santander publicou um estudo muito legal sobre concessões de crédito via SBPE (funding imobiliário), estimando R$ 53 bilhões no ano, menos da metade dos R$ 113 bilhões de 2014.
Quanto ao crédito para veículos, sequer precisa de estudo. Anfavea acaba de reportar o derretimento de -19,4% YoY dos licenciamentos em junho.
Take me out tonight
Pari-passu com a contração do crédito imobiliário, continua o resgate de recursos da poupança.
Até o dia 26 de junho, o Banco Central computou uma saída líquida de R$ 9,1 bilhões, alimentando o sorvedouro recorde de R$ 41,4 bilhões no ano.
Antes dessa bomba estourar, fizemos uma análise simples e rigorosa dos impactos diretos e indiretos provocados pela drenagem da poupança.
Sua grana ainda está na caderneta?
Não seja o último a apagar a luz.
Família vende tudo
O que acontece com o apagar de luzes no último instante?
Ajustes orçamentários de Petrobras (SA:PETR4), Vale ou CSN (SA:CSNA3) (não por acaso, todas empresas de commodities) obrigam a programas ambiciosos de venda de ativos.
Sou um grande fã de venda de ativos. Aqui na Empiricus, liderei em 2012 um processo complexo de alienação da máquina de café, posteriormente suplantada por uma máquina alugada.
Para Petro, Vale ou CSN, a tarefa não é tão fácil assim.
Elas têm que vender ativos exatamente no momento em que esses ativos valem pouquíssimo, com escassos compradores.
Petrobras propagandeou uma meta de desinvestimentos da ordem de US$ 60 bilhões até 2018. É quase irreal.
Em verdade, com exceção do IPO de BR Distribuidora, não há qualquer deal relevante num horizonte próximo.