Os leilões de transmissão passam por um período bem delicado.
De 2009 até 2016, o deságio médio (diferença entre o preço de um bem e o seu valor real) dos leilões ficou na casa dos 20%. Já de 2017 até 2021, esse valor saltou para 49%. O número de concorrentes também saltou. No primeiro período citado, o número de concorrentes por lote era de 1,7. Já no segundo, esse número aumentou mais de 4 vezes, chegando a 7,5 concorrentes.
No último leilão, por exemplo, a Taesa (BVMF:TAEE11) — que é uma grande concorrente da ISA CTEEP (BVMF:TRPL4) — arrematou os dois maiores lotes (bloco 5 e 3), mas a rentabilidade do projeto não foi tão boa. Ambos os lotes foram arrematados com um deságio muito elevado: o bloco 5 com deságio de 34,2% da RAP e o bloco 3 com deságio de 47,9%.
De acordo com o BTG (BVMF:BPAC11), se a Taesa conseguir reduzir o investimento pra construção desses lotes em 20% e antecipar a construção das linhas em 1 ano, a taxa de retorno real seria de 4,4% pro bloco 3 e 3,7% pro bloco 5. E é bom lembrar que um Título do Tesouro (o investimento "mais seguro" do país) anda pagando hoje mais ou menos IPCA + 6,4%. Isso só mostra que os leilões não estão nada atrativos.
Essa grande concorrência nos leilões fez com que eles ficassem bem menos rentáveis do que eram. Por conta dessa rentabilidade baixa, a tendência é que, nos próximos leilões, as empresas manifestem menos interesse. Como consequência, a concorrência deve diminuir e esses lotes vão voltar a ser mais atrativos. É uma bola de neve ao contrário.
A ISA CTEEP (TRPL4) e a Taesa (TAEE11) não divulgam uma previsão de crescimento para os próximos anos. Por conta disso, fica bem difícil projetar o crescimento delas, ainda mais considerando que os novos projetos têm saído com uma rentabilidade muito baixa. A saída é projetar a Receita dessas empresas até o vencimento da sua última concessão de linha de transmissão.
Isso pode soar um pouco estranho e você pode até pensar:
-Ué, será que a ISA CTEEP e a Taesa vão acabar?
Na verdade, não é bem isso. Projetar somente até o vencimento da última concessão é o mesmo que dizer que, caso a TRPL faça novos investimentos, o Valor Presente Líquido (VPL) deles vai ser igual a zero.
Dadas as baixíssimas rentabilidades dos últimos leilões de transmissão de energia, se o jogo não virar, a realidade é que novos projetos vão adicionar pouquíssimo valor à empresa, se não acabarem por destruir valor para os acionistas.
Por conta dessa nossa escolha mais conservadora, a gente tem que ficar de olho nos próximos passos da companhia. Ainda mais agora em um cenário de taxas de juros altas e um novo governo mais protecionista.