Chola mais
A repercussão do lançamento do Melhores Fundos de Investimento não poderia nos deixar mais felizes: os bancos estão fulos da vida com a gente. Era exatamente o que queríamos.
No plano do discurso, os bancos brasileiros parecem ONGs comandadas pela Madre Teresa. É tanta gente feliz aproveitando a vida, tanto bebê de bochecha rosada… fico diabético só de assistir às campanhas publicitárias. Mas a realidade é amarga: a desfaçatez com que empurram para os clientes - principalmente pequenos investidores - produtos que são verdadeiras porcarias me dá calafrios.
É parte da vocação da Empiricus apontar quando o rei está nu. Vivemos de nossas recomendações, e só delas. No que depender de nós, ninguém será feito de bobo: a mamata da indústria de fundos simplesmente acabou. Achou ruim, banqueiro? Chola mais. Trabalhe para melhorar: comece a tratar seus clientes com um mínimo de respeito.
Passa no cartão, pai!
Certa vez vi uma criança fazendo birra em uma loja porque queria - aquele querer irredutível que só criança sente - um brinquedo particularmente caro. “O pai não tem dinheiro, filha". A resposta da mini-tirana foi imediata: “então compra no cartão!"
Após encampar a Previdência, Henrique Meirelles estaria expandindo seus domínios para a Secretaria do Orçamento, hoje subordinada ao Ministério do Planejamento.
Adoro a ideia. A dinâmica que vigorou até aqui é simplesmente perversa: Planejamento manda a conta e Tesouro simplesmente tem que pagar. O resultado são os fiados conhecidos como "restos a pagar", que praticamente viraram conta de capital de giro nos anos recentes (até recentemente, tínhamos crianças muito mimadas a agradar…). Com a mudança, aprovação de despesa volta a conversar com capacidade de desembolso. Nada mais justo, posto que dinheiro não dá em árvore.
Cara ou coroa? Zero ou um?
Segundo Richard Clarida, da PIMCO, há “pelo menos 50 porcento de chances” de o Banco do Japão desapontar o mercado na sexta-feira, data para a qual são aguardados anúncios de estímulos.
Que maneira elegante de dizer “não sei”, não é mesmo? Olhando assim, até parece que os japoneses pretendem decidir o que fazer no palitinho.
Já dissemos e volto a dizer: o mercado apostou demais em um Abenomics 2.0. Até parece que o 1.0 fez grande coisa… O mercado quer porque quer acreditar verá uma linda alvorada na Terra do Sol Nascente. Reluta em aceitar o fato de que o dia continua nublado.
A voz da experiência... de quem já errou
Alan Greenspan deu entrevista à Bloomberg fazendo um alerta que, penso eu, não deveria passar desapercebido. Com a queda de produtividade da economia e a inflação em ascensão, os Estados Unidos podem estar caminhando para um cenário de estagflação.
As críticas com relação à desatenção, nos últimos anos, a questões estruturais da economia americana vão se avolumando. Por outro lado, a leniência de Yellen com relação ao comportamento dos preços - só reforçada com a ata divulgada ontem - traz preocupações no front monetário.
Greenspan sabe muito bem quão doloroso é errar a mão nos juros. Yellen deveria prestar mais atenção no anti-exemplo.
Petro, Eletro e responsabilidades de gente adulta
A idade ensina que é boa prática a prometer menos do que se pretende entregar.
Palavras de Pedro Parente, da Petrobras: venda da BR Distribuidora deve sair no 1T17. Espera receber as propostas lá por dezembro. Se trata de uma iniciativa que está em cima da mesa desde 2014 (!) e que, com a recente decisão de mudar o formato (para melhor, penso eu), voltou virtualmente à estaca zero. Ainda assim, Parente riscou o chão.
Em seu turno, Wilson Ferreira Júnior, da Eletrobrás, sinaliza que a venda das distribuidoras de energia da empresa deve ocorrer ente o segundo e o quarto trimestre do próximo ano, e que se trata de "um processo complexo”. Deixou aberta a porta para eventuais postergações.
Entregar, ambos querem - tenho certeza. A pergunta é: quem está gerenciando expectativas melhor?