BNP Paribas reduz projeção de inflação para 2025 e 2026 e vê afrouxamento da Selic em março
Abertura do Mercado Japonês
Segunda-feira costuma ser um dia calmo no mercado, especialmente na abertura dos mercados da Austrália e do Japão. O volume de negociações é baixo, poucos players estão ativos, e — salvo algum evento inesperado — não há muito o que fazer.
Mas esta segunda foi diferente. Ou pelo menos deveria ter sido.
No domingo, Trump anunciou um acordo com a União Europeia sobre as tarifas. Para ser honesto, desde que ele assumiu a presidência, muitos anúncios vêm sendo feitos aos domingos ou logo após o fechamento do mercado de ações. Às vezes penso que isso acontece porque ele gosta de postar nas redes sociais antes de o mercado reagir. E quando o movimento finalmente acontece, tudo parece mérito dele. Mas Trump não é do tipo de pessoa que gosta de estar nos holofotes não é mesmo?
Mas enfim… só um pensamento.
Voltando à operação:
Vamos analisar o cenário:
• Trump anuncia um acordo tarifário com Ursula von der Leyen (Presidente da Comissão Europeia).
• A princípio, essa notícia deveria favorecer o Euro, pois o acordo traria mais estabilidade e previsibilidade aos negócios.
• Vale lembrar: o bloco evitou tarifas que poderiam chegar a 50%.
Portanto, o movimento mais esperado na abertura do mercado seria um gap de alta no Euro — ou, no mínimo, um impulso positivo.
E o gap aconteceu.
Antes de continuarmos, uma ressalva importante.
Desde o anúncio do acordo tarifário entre EUA e Japão, eu tenho evitado ir contra o dólar. E o motivo é simples: está cada vez mais difícil ignorar os bons dados econômicos dos EUA.
A inflação ainda está acima da meta, sim — mas a economia continua resiliente. O consumidor segue forte. O mercado de trabalho dá sinais de desaquecimento, mas está longe de indicar recessão. E, claro, os juros permanecem em patamares elevados.
Em teoria, esse é o tipo de cenário em que o dólar deveria atrair fluxo — e não o contrário.
Mas o mercado não funciona só com teoria.
O principal obstáculo para o retorno do capital ao USD tem nome: Donald Trump.
O risco político, a imprevisibilidade das tarifas e a volatilidade do atual governo afastaram o apetite por dólar durante boa parte do ano.
Mas… e se a instabilidade começasse a diminuir?
E se os acordos começassem a sair?
Talvez isso mude tudo. Talvez o dólar volte a se tornar a moeda mais atrativa do mundo.
E os acordos estão saindo. Primeiro foi com o Reino Unido. Depois, com o Japão. E agora — no fim de semana — com a União Europeia.
Se você entendeu esse raciocínio, então vai entender perfeitamente porque eu evitei o óbvio (ir a favor do Euro e comprar eurusd) e ao invés, eu abri uma operação e venda no eurusd.
Vamos ver o que aconteceu com o Euro poucas horas após a eu abrir a Operação de Venda EURUSD.
Abertura do Mercado de Londres
Conforme as horas avançam, mais traders percebem que o impulso inicial do Euro está se dissipando. E quanto mais participantes mudam de lado, mais o movimento de queda ganha força.
Para quem, como eu, abriu posição baseado em uma conexão de fatores macroeconômicos ainda pouco visíveis à primeira vista, esse era o tipo de confirmação que importava: o mercado começando a enxergar o que estava por trás da notícia.
E então vieram os comentários oficiais, e com eles, a validação definitiva da narrativa.
Reações de líderes europeus ao acordo
França – Primeiro‑Ministro François Bayrou
Chamou o acordo de um “dia sombrio” e um ato de “submissão”, afirmando que a Europa estava se rendendo aos termos dos EUA.
Hungria – Primeiro‑Ministro Viktor Orbán
Foi ainda mais direto: “Trump comeu von der Leyen no café da manhã”, sugerindo total domínio americano na negociação.
Alemanha – Chanceler Friedrich Merz
Adotou um tom pragmático: reconheceu que o acordo evitou uma guerra comercial, mas ressaltou o impacto negativo sobre a indústria automotiva.
Itália – Primeira‑Ministra Giorgia Meloni
Manteve uma postura cautelosa, dizendo que o acordo era “positivo, mas sem entusiasmo” e que precisava de mais detalhes antes de qualquer julgamento final.
O agora sim, o ¨óbvio virou óbvio¨. O par EUR/USD acelera a queda.
Paralelamente, os principais índices acionários da Europa também começaram a entrar no vermelho, um sinal claro de fuga de fluxo e aversão ao risco no bloco europeu.
Reflexão final
Essa foi uma operação que, à primeira vista, parecia ir contra o “óbvio”.
Mas não foi um movimento impulsivo. Eu já vinha evitando operar contra o USD, e o acordo com a UE surgiu como o catalisador ideal: uma notícia que parecia favorável ao Euro, mas que na verdade expunha a fragilidade da Europa e favorecia o retorno do fluxo ao dólar.
E, como última ressalva:
Antes mesmo de ver os preços começarem a reagir, já me passava pela mente a possibilidade de um clássico movimento de “Buy the Rumor, Sell the Fact” — compre o rumor, venda o fato. Isso me deu confiança para entrar antes da precificação mais ampla nos demais ativos.
Enfim
Nem sempre é sobre o que a notícia diz.
É sobre o que ela revela.
E dessa vez, ela revelou mais do que parecia.
Até a próxima