O Giácomo tinha razão
Um de meus professores de graduação sempre repetia: faça isso, faça aquilo, pois "o futuro manda a conta". Era um constante chamado à responsabilidade com relação ao porvir, e mesmo eu, que não era grande frequentador do diretório acadêmico — cerveja ruim e sinuca nunca foram minha praia —, achava aquilo um saco.
Hoje, com as costas um pouquinho mais curvadas e alguns fios de cabelo branco surgindo, estou pronto para reconhecer: Giácomo, tu tinhas razão.
Quem teria tirado grande proveito dessas palavras é a União Europeia. Após anos de estímulos e lições de casa deixadas de lado, o bloco parece ter cada vez menos a comemorar.
E, talvez, a conta esteja chegando.
O barman tocou o sino: o bar vai fechar
Minhas preces foram ouvidas: deixamos Yellen de lado, pelo menos por enquanto. Com os dados do Livro Bege (ontem) e do ISM de serviços (anteontem) atuando como uma pá de cal sobre as especulações quanto à alta de juros nos EUA já em setembro, as perspectivas econômicas para a Europa vão se firmando como novo foco de preocupação.
A senha foi a decisão do Banco Central Europeu de não mexer em nada nos estímulos postos. O mercado, como sempre, queria mais — e, de preferência, sinalizações de que os programas com encerramento previsto em março próximo seriam estendidos.
Com o mercado perigosamente alcoolizado, Draghi reluta em servir outra rodada.
Susto na fila do caixa
Aí vem a hora de pagar a bebedeira. Na fila, os ébrios se desesperam: uns têm no bolso muito menos dinheiro do que imaginavam, enquanto outros sequer sabem onde suas carteiras foram parar. Tem até gente de quatro procurando a comanda no chão... Quem se embebedou como se não houvesse amanhã agora percebe que, na verdade, há.
Mercados em baixa, aqui e lá fora, antecipando a ressaca que ameaça chegar. Câmbio repercute aumento da percepção de risco, desvalorizando — e beneficiando exportadoras.
Petróleo em alta na esteira de estoques menores nos EUA, mas a despeito da falta de sinais concretos de contenção da produção mundial. Sem sustentação, portanto, penso eu.
Noticiário local ofuscado, em parte por ser mais do mesmo: preocupações — em parte exageradas, na minha opinião — com a governabilidade de Temer. Também a proposta de orçamento, que atribui certo peso a receitas extraordinárias para fazer a conta fechar, é colocada sob suspeita. Articulação política segue difícil, com mais do mesmo.
Preparemo-nos (como sempre)
A conta inevitavelmente viria, e para ela nos preparamos selecionando ativos rigorosamente e buscando uma alocação racional de portfólio.
Coloque minhas palavras na perspectiva correta: mesmo com um aumento da aversão a risco, sigo pensando que fatores internos fazem do Brasil um bom lugar para se estar nesse momento, e que isso se traduzirá em um desfecho vitorioso para nós na disputa pelos recursos destinados a mercados emergentes.
E com valuations ainda atrativos — lembremo-nos, ao olhar para o P/L da bolsa, que o L segue deprimido… — há oportunidades para todos os gostos.
É sábio, especialmente, alocar parte dos recursos em ativos geradores de renda. Entre empresas e fundos imobiliários, persistem boas oportunidades com yields extremamente atrativos para os quais você deveria olhar.
Contra a cultura da taxa
Uma boa notícia: a XP rompeu com uma incômoda tradição das corretoras e eliminou as taxas de custódia e de TEDs que cobrava de seus clientes. O benefício, antes restrito a investidores com um mínimo de 300 mil reais em recursos, agora se estende a todos os clientes da casa.
Bom principalmente para quem investe com cabeça no longo prazo. Minha ojeriza a essas cobranças é tal que já cheguei ao ponto de transferir ações para a custódia fungível para evitar a taxa da corretora. Já TED… eu não pago nem para meu próprio banco! Pagar para a corretora, me desculpem, é um desaforo.
Ainda menos gosto da ideia de condicionar a isenção a volumes mensais de operação: péssimo incentivo para fazer o cliente operar mais.
Aplaudo a iniciativa, portanto. A pergunta é: quem terá coragem de acompanhar a XP nessa?