De janeiro a maio deste ano as exportações de carne bovina in natura somaram 947,2 mil toneladas, acréscimo de 37,3% na comparação com o mesmo intervalo de 2023 e o maior volume já registrado para o período.
Apesar da cotação média em dólares 7,6% menor que no mesmo intervalo do ano passado, o faturamento na moeda americana subiu 26,9%, atingindo US$4,28 bilhões, atrás apenas do observado em 2022, considerando o mesmo período.
Em junho, os dados parciais apontam para uma evolução de 6,0% no volume médio diário, na comparação com o mesmo mês de 2023. Apesar da desaceleração na segunda semana de junho, em relação à primeira, o recorde de volume para o primeiro semestre foi garantido ainda em maio, sem nem considerar o volume deste mês.
Trouxemos alguns dados sobre a sazonalidade das exportações de carne bovina nos segundos semestres.
Considerando os últimos vinte anos (2004 a 2023), os volumes de carne bovina foram maiores no segundo semestre em 16 ocasiões (80% dos anos). Desde 2016, quando os embarques cederam 12% na segunda metade do ano, não há diminuição do volume na reta final do ano.
Em relação ao preço médio, houve aumentos em 13, dos últimos vinte anos, e no mesmo intervalo a receita subiu em 19 ocasiões, na mesma comparação.
Quanto às magnitudes dos aumentos, temos os dados apresentados na figura 1. Considerando os últimos 20 anos, os embarques de julho a dezembro superaram em 15% aqueles até junho. No passado mais recente, desde 2019, temos acréscimo médio de 21% para o volume na segunda metade do ano.
Figura 1. Variações médias das exportações de carne bovina in natura nos segundos semestres, na comparação com a primeira metade do ano.
Fonte: Secex / HN AGRO
Nas médias, o preço médio e a receita também aumentam, embora a frequência de aumento do preço médio seja menor (65%) em relação ao volume (80%) e a receita em dólares (95%), considerando os últimos 20 anos.
Considerações
Em um ano de oferta de gado em alta, como tem sido 2024, as exportações se tornam ainda mais relevantes para escoar essa produção maior de carne. No primeiro trimestre, considerando os oficiais, tivemos aumento de 24,6% na quantidade de animais abatidos, na comparação com o mesmo intervalo em 2023. Na mesma comparação, os abates de fêmeas aumentaram 28,2% e os de machos 21,7%.
Como a produção aumentou muito este ano, mesmo com as exportações em alta, o consumo doméstico absorveu um volume maior de carne. Ainda que isso tenha ocorrido às custas de desvalorização, considerando o aumento dos abates, podemos dizer que o escoamento tem se comportado relativamente bem, até porque margens foram preservadas ou melhoraram ao longo da cadeia (da porteira para fora). O limitante do mercado do boi tem sido os dados citados no parágrafo anterior.
O segundo semestre, além das exportações normalmente superiores, costuma ser de vendas melhores no mercado interno. Este ano temos eleições, o que acaba fazendo girar um dinheiro adicional com o processo eleitoral (não que o gasto pesado com o processo eleitoral seja positivo, mas alguma coisa vai para o consumo).
Aqui cabe a ressalva de que temos uma lista muito maior do que gostaríamos de incertezas relacionadas à questão fiscal, o que alimenta inflação (e confiança) elevando o piso de juros em um futuro visível. Isso não é bom para a economia e consumo em médio prazo, mas dá mais fôlego ao stress cambial, se somando às notícias vindas da economia dos EUA. Isso ajuda os embarques.
Apesar de infindáveis incertezas para o cenário econômico brasileiro, no segundo semestre acreditamos que, pelo contexto global, mais sazonalidade e câmbio, devamos seguir com bons volumes exportados.
Para o escoamento doméstico, temos um cenário de competitividade da carne bovina frente a outras proteínas, além da sazonalidade e alguma ajuda das eleições municipais.
Se os preços do bezerro se mantiverem mais firmes (vide o ágio), ou mesmo subirem, e isso resultar em um início de retenção de fêmeas, podemos começar a ver o principal problema para os preços do boi, a oferta, enfraquecer.