Exterior Pressiona Cotação de Trigo; Brasil Se Consolida no Milho

Publicado 11.01.2016, 10:38

MILHO: Brasil se consolida como grande player também neste mercado

O ano de 2016 começa com os preços em alta no mercado interno, puxados pelo ritmo forte das exportações no último trimestre de 2015 – suficiente para que o acumulado no ano ultrapassasse o recorde de 2013. A desvalorização do Real tornou o produto brasileiro mais competitivo e vem favorecendo a realização também de contratos referentes ao grão a ser colhido em 2016. Com isso, os preços domésticos podem seguir sustentados neste novo ano. Na BM&FBovespa (SA:BVMF3), os contratos que vencem até setembro de 2016 operam em níveis superiores aos observados no mesmo período de 2014, para vencimento em 2015.

Com maior competitividade internacional, vendedores adiantaram consideravelmente a comercialização da nova safra. Em Mato Grosso, segundo o Imea, até o início de dezembro, haviam sido comercializados 53,5% da produção prevista para a próxima safra, enquanto que, no ano passado, as vendas equivaliam a apenas 11,5% da produção 2014/15. No Paraná, o Deral/Seab indicava que, até o final de novembro, 72% do milho segunda safra 2014/15 já tinha sido vendido, em face de 55% da safra 2013/14 há um ano. Com grande parte do milho já comercializado, a tendência é que os preços sigam se sustentando neste início de ano, influenciando inclusive na alta dos contratos futuros.

Os atuais níveis de preços podem levar produtores a manter a área cultivada na segunda safra que, a depender do clima, pode gerar oferta semelhante à de 2015. As vendas externas, portanto, continuarão sendo o grande balizador de preços no mercado interno.

O milho primeira safra mais uma vez teve redução de área, principalmente em favor da soja, que estava com preço elevado no período de tomada de decisão. Segundo a Conab, a área da primeira safra de milho 2015/16 está estimada em 5,73 milhões de hectares, diminuição de 6,7% em relação à anterior. A produtividade média nacional é prevista em 4.797 kg/ha, redução de 2,1%. Sob essas bases, a oferta nacional do verão seria de 27,5 milhões de toneladas, 8,6% inferior à de 2014/15 e a menor em 11 anos.

Ainda segundo a Conab, no final de janeiro, os estoques devem estar na casa de 11,2 milhões de toneladas, caso sejam exportadas as 29,7 milhões de toneladas previstas para atual temporada – até a terceira semana de dezembro, haviam sido embarcadas 27,1 milhões de toneladas. Portanto, no primeiro semestre, haveria disponibilidade de 38,7 milhões de toneladas (colheita verão + estoques de passagem), o que representa 67% de todo o consumo interno de 2016, estimado em 58,2 milhões de toneladas, um recorde.

Assim, novamente, recaem sobre a segunda safra os principais fatores de impacto sobre os preços ao longo da temporada 2015/16. Considerando-se a mesma área cultivada na segunda safra de 2014/15 (estimada pela Conab), mas com produtividade média nacional 0,1% menor, a oferta de inverno poderia chegar a 54,5 milhões de toneladas. Somado este volume aos estoques iniciais, à oferta da primeira safra e a um pouco de importação, a disponibilidade anual de milho chegaria a 93,75 milhões de toneladas. Descontando-se o consumo interno, o excedente seria de 35,42 milhões de toneladas, 13,3% menor que as 40,89 milhões de t recordes de 2015 – dados da Conab.

Mais uma vez as exportações serão determinantes para a formação dos preços internos. A expectativa é que permaneçam aquecidas, principalmente devido ao câmbio favorável à competitividade do grão brasileiro. A Conab estima 28 milhões de toneladas embarcadas entre fev/16 a jan/17, enquanto o USDA aponta 34 milhões de toneladas entre mar/16 e fev/17.

Regionalmente, por enquanto, há estimativas para segunda safra apenas em Mato Grosso e Paraná que, juntos, foram responsáveis por quase 60% da oferta de milho da segunda safra nos últimos anos.

O Imea sinaliza que a área cultivada com milho na segunda temporada em Mato Grosso deve ser 2,6% maior, em torno de 3,39 milhões de hectares. Já a produtividade, pode baixar, de 106,9 sacas por hectare para 98,1 sc/ha. Com isso, o estado produziria 19,96 milhões de toneladas, 5,9% a menos que no ano anterior. A queda na produtividade pode ser resultado do atraso no plantio da soja, após as chuvas escassas no último trimestre do ano, que podem afetar a cultura do milho.

No Paraná, o Deral/Seab aponta preliminarmente crescimento de 5% da área, para recorde superior a 2 milhões de hectares. Caso a produtividade diminua em 2%, a colheita ainda seria de 11,75 milhões de t, aumento de 3%.

TRIGO: Cenário externo tende a pressionar cotações; área no BR é incerta

Antecipar tendências ao mercado de trigo nacional não é tarefa fácil. É provável que produtores digam o mesmo quanto à área a ser destinada à cultura. Apesar de os preços atuais serem maiores que os de um ano atrás, o risco climático, de preço, de liquidez e de produtividade entre outros tendem a limitar a escolha de produtores pelo trigo neste ano. Além disso, há, ainda, o bom estoque mundial de trigo e a possibilidade de a Argentina se mostrar mais agressiva na oferta ao mercado externo, o que desfavorece o produtor brasileiro ao mesmo tempo em que beneficia o comprador nacional.

Tradicionalmente, a cultura do trigo é arriscada. Nas duas últimas safras, o clima, em especial, acarretou quebra da produtividade e prejudicou a qualidade do grão. Por outro lado, a liquidez tem sido melhor que a registrada há três ou quatro anos. Para a próxima safra, porém, há alguns fundamentos que, desde já, pesam contra produtores e/ou vendedores. Os estoques mundiais estão nos maiores níveis históricos e a relação com o consumo são os maiores das últimas 13 anos-safras. Isto por si só constitui fator de pressão sobre as cotações. No Brasil, porém, os estoques no final da próxima temporada devem ser bem baixos.

A política econômica e as relacionadas ao agronegócio passam por mudanças radicais na Argentina, que é a maior fornecedora de trigo ao Brasil. Entre as alterações, está a isenção das “Retenciones”, imposto aplicado às exportações daquele país. Consequentemente, as cotações, em dólar, estão cedendo, não só na Argentina, mas também em países vizinhos, como Paraguai e Uruguai. Com isso, a expectativa é de que o cultivo do trigo se recupere na Argentina – somente na última safra, teve redução de cerca de um milhão de hectares. Com maior área, a tendência é que haja mais excedente exportável.

Nesta linha, o USDA indica que o volume a ser disponibilizado para exportação nos principais países produtores está pressionando as cotações internacionais para o menor nível desde julho de 2010. Mesmo com a estimativa de produção e de consumo mundial em níveis recordes e transações externas no terceiro maior volume histórico, os estoques de passagem continuam em elevação. Com maior excedente, os preços cedem e atraem a demanda, mas ainda não o suficiente para compensar o crescimento da oferta.

Os Estados Unidos e a União Europeia (Europa Ocidental, em particular) têm amplos estoques de passagem e, juntos, devem representar mais de 60% dos estoques finais mundiais da temporada 2015/16. Os preços de exportação dos Estados Unidos estão nos menores patamares em cinco anos, mas ainda não estão competitivos o bastante para ampliar a demanda. Com isso, aquele país deve ter estoques no maior nível em seis anos – o dólar elevado torna o cereal norte-americano menos atraente, prejudicando suas exportações. Os estoques da União Europeia devem alcançar o maior patamar em oito anos, apesar das exportações crescentes. Neste caso, a concorrência com a Rússia e a Ucrânia está limitando as exportações do bloco.

Esse contexto se mostra favorável apenas para compradores, que terão mais opções. Para o mercado brasileiro, tais fundamentos podem dificultar a liquidez nesta próxima temporada. Porém, será preciso analisar o patamar do dólar, que influenciará a paridade de importação e, consequentemente, os preços do produto no mercado físico nacional.

Segundo último Boletim Focus do Banco Central, o dólar pode ter média de R$ 4,21 no final de 2016, o que tenderia a elevar os preços internos. Na semana passada, o dólar futuro na BM&FBovespa aponta valores na casa de R$ 4,08 para Mar/16 e de R$ 4,15 para maio/16, níveis que também seriam favoráveis a vendedores brasileiros.

Quanto à área a ser cultivada no Paraná, por enquanto, as expectativas de agentes são de manutenção ou mesmo de aumento, já que os preços recebidos nos últimos meses estiveram atraentes. O Paraná produziu a maior parte do cereal de boa qualidade disponível na região Sul do País em 2015, havendo demanda tanto por parte de moinhos locais quanto de fora do estado. Por outro lado, ainda há produtores que podem optar pelo milho, que também se mostra competitivo para a segunda safra.

Já no Rio Grande do Sul, ainda prevalecem incertezas quanto à área a ser cultivada. Pela segunda safra consecutiva, as lavouras do estado foram prejudicadas, com a qualidade dos grãos bem abaixo da considerada ideal pelos moinhos para panificação. Com isso, as expectativas iniciais são de redução na área neste ano – esse cenário também pode ser observado em Santa Catarina.

Em relatório divulgado em dezembro, a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) apontou produção nacional de 5,63 milhões de toneladas de trigo em 2015, redução foi de 1,4 milhão de toneladas frente ao primeiro levantamento da Companhia. Com isso, a estimativa de importação do cereal foi para 5,75 milhões de toneladas, com parte desse aumento devendo ocorrer no primeiro semestre de 2016 – é baixa a disponibilidade de trigo de boa qualidade para os moinhos. Sabe-se que o consumo interno deverá ser de 10,3 milhões de toneladas, o que resultará em estoque de passagem, em julho de 2016, de aproximadamente 881 mil toneladas (o menor desde 2010), o que representa cerca de um mês de consumo.

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