Com o grande aumento do interesse institucional pelo Bitcoin e a recente alta, aumenta também o interesse em ativos que possuam exposição direta ou indireta aos criptoativos.
Nesse sentido, ações das “produtoras” desta commodity digital tem apresentado uma performance superior ao próprio ativo, como já comentei em artigo anterior e que condiz com a tese de ciclos de commodities.
As mineradoras, termo usado como uma analogia à mineração de metais, na prática nada mais são do que prestadoras de um serviço de processamento de dados, alocando poder computacional e energia elétrica para garantir o funcionamento da rede do Bitcoin ao validar transações e servir como a espinha dorsal deste sistema descentralizado.
Investir nessa atividade cabe em diferentes teses de investimento, desde value investors em busca de boas empresas geradoras de caixa à investidores buscando exposição com beta alto em relação ao Bitcoin.
A resposta mais óbvia para responder este artigo é sim, faz sentido investir em mineração, mas na verdade, a resposta mais correta seria depende. Abaixo explico o que levar em consideração quando se considera esse investimento.
Custo de energia
Diferentemente do que acontece com o garimpo do ouro, por exemplo, no qual o aumento do preço torna viável operações que não seriam economicamente viáveis pelo alto custo de produção, no caso do Bitcoin, o aumento de preço também é um incentivo para a entrada de novos players, mas a oferta se mantém a mesma, dividindo o “pote” entre os já estabelecidos e os novos entrantes.
A consequência então desse efeito, é que o “esforço computacional”, traduzido em energia consumida, requerido para minerar a mesma quantidade de Bitcoins acaba sendo maior, ao passo que a rede aumenta. Pensando sob o ponto de vista de uma produtora de commodities, seria como se o custo para produzir a mesma quantidade de sacas de soja aumentasse cada vez que tivéssemos a entrada de novos produtores.
E qual o custo hoje? Gosto de balizar o custo de produção pelo principal insumo, que é a energia. Considerando um Energy Rate de US$ 16 por MWh, que é a faixa de preço energia que estamos fazendo as instalações de nossas novas plantas nos EUA, o custo de energia para se produzir um Bitcoin hoje é de cerca de US$ 4200.00.
Custo de operação
Como energia não é o único custo, mas é o principal, o que vem a seguir são custos operacionais. Nesse sentido, é muito importante analisar a eficiência dos equipamentos e do Data Center. Estruturas de gestão complexas acabam aumentando substancialmente o custo de operações. Como qualquer outro modelo de negócio, um modelo Lean com baixo overhead vai sempre ser mais interessante e apresentar melhores resultados.
Jurisdição
De nada adianta investir no melhor negócio do mundo, se você não terá garantia jurídica de que seu investimento estará seguro.
O acesso à energia barata é de fato um dos principais motivos para levar mineradores à regiões inóspitas da Russia, por exemplo, ou ainda em lugares como o Casaquistão, Irã e Venezuela. Muitos brasileiros também acabam recorrendo ao Paraguai, quando pretendem investir por conta própria nesse tipo de operação.
Na minha visão, a segurança jurídica e facilidade de fazer negócios é um dos fatores chave quando analiso oportunidades de longo prazo, principalmente quando é possível ter o mesmo custo energético em uma jurisdição confiável.
Infraestrutura
Vale ressaltar que a necessidade de investimento em infraestrutura é substancialmente elevada para uma operação de mineração. Esse é outro motivo para considerar a jurisdição um fator primordial.
A natureza da infraestrutura e o formato da operação fazem muita diferença no capex necessário para a viabilidade do negócio e influenciam diretamente no resultado final.
Por exemplo, existem hidroelétricas disponíveis para venda na América do Norte, com geração de 3-5MW, mas o investimento necessário imobilizado é relevante. Faz mais sentido comprar uma operação deste porte e ter um custo de energia mais baixo ou reduzir a necessidade de capex e pagar um pouco mais caro na energia? Esses são fatores importantes na decisão que compõe a tese de investimento em mineração.
Potencial de expansão
Mineração é um business de capital intensivo e economias de escala, onde para se manter eficiente no longo prazo, investimentos em tecnologia serão necessários para ganho contínuo de eficiência. Não somente isso, ao analisar uma operação de mining é necessário entender se existe um caminho claro de crescimento do negócio, com acesso à energia barata em escala e fornecimento de hardware.
De nada adianta investir em um modelo de negócios que terá dificuldades de crescer e ganhar escala.
Mineradoras listadas
No gráfico abaixo separei as ações das quatro principais mineradoras listadas e comparei com o a performance do Bitcoin. Selecionei a Marathon (NASDAQ:MARA), HIVE Blockchain Technologies (TSXV:HIVE), Bitfarms (CVE: BITF) e Hut8 (TSE: Hut).
Como demonstrado, nos últimos 12 meses, as ações dessas mineradoras superaram a performance do Bitcoin com um beta médio de cerca de 2,5. Ou seja, para cada 1% de variação no preço do Bitcoin, as ações dessas mineradoras variaram na média cerca de 2.5%.
Essas quatro mineradoras estão bem posicionadas nos itens levantados acima, mas possuem, sem exceção, pontos de atenção. A Marathon, apesar de ter apresentado grande valorização, possui um alto custo operacional. Já a Hive, Bitfarms e Hut8 ainda possuem muitos equipamentos de gerações anteriores, com menor eficiência de produção.
Ainda assim, por serem as principais mineradoras do mercado, com o aumento da adoção e exposição de investidores institucionais, essas companhias passaram a ter mais acesso à capital.
Desde o final do ano passado, nomes como Fidelity Investments, Morgan Stanley (NYSE:MS) (SA:MSBR34) e Digital Currency Group, entre outros, anunciaram investimentos significativos no setor.
Cabe ressaltar que a indústria de mineração de Bitcoins e criptoativos está diretamente relacionada e dependente da indústria de semicondutores. Atualmente, as maiores fornecedoras de semicondutores para o mercado de mining são a TSM (NYSE:TSM) e a Samsung Eletronics. No início de março a Samsung anunciou um investimento de US$ 17 bilhões em uma nova fábrica de chips nos EUA.
Quais as alternativas para investir neste mercado?
Além das mineradoras listadas em bolsa, ainda não existem veículos para que o investidor de varejo consiga ter exposição em mineração de forma segura. Já houveram no passado, ofertas de “cloud mining” e até “multinível” que supostamente investiriam em mineração, mas infelizmente não passaram de golpes e fraudes para ludibriar os pequenos investidores.
Investidores profissionais e instituições, como Family Offices por exemplo, conseguem acessar veículos privados em jurisdições como os EUA ou Europa. Como gestora, já viabilizamos o investimento de mais de US$ 12 milhões em operações de mineração desde 2017 nos EUA. Nossa estimativa aqui na Wise&Trust é de pelo menos quadriplicarmos esses investimentos em 2021 e acredito que ainda neste ano teremos muitas novidades para os investidores de varejo que desejam ter exposição nessa indústria de forma segura e regulada.
Uma outra possibilidade seria uma exposição indireta, através de algumas empresas de energia. Um caso recente foi da CleanSpark Inc. (Nasdaq: CLSK), empresa americana voltada para microgrids de energia e que fez um primeiro investimento de US$ 20 milhões no setor no final de 2020 e pretende ampliar ainda mais sua estrutura de mineração de Bitcoins neste ano.
A indústria de energia também começou a mirar em investimentos em mineradoras para otimização de suas operações, já que é possível utilizar a mineração como forma de balanceamento de carga para operações geradoras de energia.
Uma famosa frase dos anos 1840 diz que “na corrida do ouro, ganha dinheiro quem vende pás e picaretas”. Na corrida do ouro moderna, os fornecedores de infraestrutura e serviços para a rede (e, portanto, os vendedores de pás) são os mineradores.