Conheci o Arnaldo Cézar Coelho 25 anos atrás. Ele veio pedir ao meu pai para aumentar as operações do Safra com a Liquidez, sua corretora à época. Papai o recebeu com a educação de sempre. Eu, com a indecência típica das crianças, aproveitei para pedir um autógrafo do Pelé, que comentaria a Copa de 94 pela Globo – aliás, com o mesmo brilhantismo com que depois foi comentar o IPO da Bovespa: “Essa história de ações não é para mim; prefiro mesmo os imóveis”.
Não sei se por simpatia ou interesse nas boletas do Seu Joseph, Arnaldo atendeu ao meu pedido. Emoldurei a assinatura do Rei ao lado de outra, do Ayrton Senna. Tenho o quadro até hoje, mais como uma lembrança do papai do que propriamente dos esportistas.
Seja lá por qual razão, Arnaldo Cézar Coelho me conquistou. Desde então, acompanho suas intervenções na Globo com especial interesse. Sem querer, me pego defendendo o sujeito das críticas desferidas contra ele.
Há uma coisa muito engraçada no Arnaldo, que inclusive foi denunciada pelo Ronaldo Fenômeno em plena transmissão: “O Arnaldo protege os juízes”.
Dessa, não consigo defendê-lo. É a pura verdade. E acho que vai além. Os comentários são feitos de tal modo a sugerir que o juiz apite o jogo para si mesmo, maximizando o próprio interesse em detrimento ao estímulo do próprio espetáculo.
Pode reparar hoje contra os sérvios. Sempre rola um diálogo do tipo:
“Foi pra cartão, Arnaldo? Quase arrrrancou a camisa do Neymar.”
“Advertência verbal. Não precisa dar o cartão agora. São cinco minutos de jogo e, se começar assim, vai ter que acabar expulsando."
Ora, se tiver de expulsar, tem de expulsar, não?
Ou então:
“Pode isso, Arnaldo?”
“Se fosse na entrada da área, no ataque, com perigo de gol, ele não marcaria. Mas assim, na defesa, foi falta.”
Eu achava que falta era falta independentemente da posição do campo. É como se eu falasse: “Estou sem cinto de segurança, seu guarda, mas já to pertinho de casa”.
O juiz não pode apitar tentando minimizar a variância do espetáculo, como se protegesse a si mesmo de eventos extremos e exposição desnecessária. Ele está ali para proteger o espetáculo, não para blindar a própria imagem. Em certo sentido, ele é um ser vil, está ali para servir ao futebol e não à própria carreira.
Lembro do Sálvio Spinolla apitando os jogos do Campeonato Paulista. Para não se complicar, o cara apitava todas as faltas no meio campo. Respirou pela boca: falta! Na próxima, é cartão! Parecia que a bola não podia entrar na área, indo apenas de uma intermediária à outra. Ele foi árbitro de uma sequência de Corinthians x Santos – e acho que todos aqueles jogos terminaram empatados. Zuro por Deus.
As trips egóicas acontecem de tal maneira que as pessoas esquecem qual seu papel no mundo.
Noutro dia, ouvi do presidente da CVM: “Mercado de capitais forte é sinônimo de regulador forte”. O regulador está preocupado em desenvolver o próprio regulador, e não o mercado.
Para infelicidade geral da nação, o Estado brasileiro parece existir para atender ao próprio Estado e seus asseclas. Contrariando a essência da formação dos Estados nacionais, o Leviatã alimenta a si mesmo, em vez de desenvolver instituições inclusivas, fomentar o cumprimento dos contratos, reforçar a obediência à propriedade privada, atender às sinalizações do sistema de preços, cuidar de segurança, educação, saúde, etc.
E para infelicidade geral dos investidores, os analistas de ações também costumam se preocupar consigo mesmo, em ofertar não necessariamente as melhores recomendações, mas, sim, as mais sofisticadas e menos óbvias. Isso rende bônus e status. O problema de ter uma reputação é que o sujeito acaba se prendendo a ela. Sua maior tarefa passa a ser alimentar a própria reputação.
Como um perseguidor de boas ideias de investimento, talvez eu fosse percebido como inteligente se viesse aqui apresentar coisas heterodoxas, originais, abaixo do radar, alguma coisa que ninguém estivesse olhando. Seria um sinal inequívoco de minha diligência e capacidade de gerar indicações fora da caixa.
Mas e se a melhor coisa a se fazer no momento for comprar Itaú? Seria adequado ignorar o óbvio, simplesmente por que ele é obvio? Uma ideia copiada paga diferente em Bolsa do que uma ideia original? E sobre uma ação óbvia incide uma alíquota de imposto diferente de uma small cap?
Itaú (SA:ITUB4) hoje negocia a 2x valor patrimonial e cerca de 9x lucros, de lucros deprimidos por conta do momento da economia e do baixo crescimento da carteira de crédito. Até de maneira surpreendente, vai pagar dividend yield próximo a 8 por cento ao ano. E, pela movimentação recente, parece haver uma intensificação da recompra das próprias ações.
Uma das coisas boas de processos de “sell-off” generalizado sobre mercados emergentes e ativos de risco em geral é que surgem oportunidades de se comprar o óbvio. Se você quer aproveitar outras barganhas por aí, fique bem à vontade. Mas comece por Itaú. Vai servir-lhe bem.
Mercados iniciam a quarta-feira com variações modestas. Dia deve ter menor liquidez nas bolsas por conta do jogo do Brasil na Copa. Há uma ponderação sobre a alta das commodities energéticas no exterior, com petróleo estendendo ganhos da véspera, e a persistência de preocupações com a guerra comercial entre China e EUA.
Banco Central volta a atuar pesado no câmbio após dólar bater 3,80 reais, diante da pressão externa, com dois leilões de linha. Juros repercutem decisão do CMN, considerada surpreendente, de reduzir meta de inflação para 2021 a 3,75 por cento.
Agenda local traz nota de crédito do BC. Lá fora, saem encomendas de bens duráveis, vendas pendentes de imóveis e estoques de petróleo.