Pouca alteração foi mais uma vez a tônica do mercado de açúcar nessa semana. O vencimento outubro de 2013 encerrou o pregão de sexta-feira cotado a 16,45 centavos de dólar por libra-peso, um acréscimo de 16 pontos em relação à semana anterior, ou 3,50 dólares por tonelada. Os demais meses de vencimento, todos sem exceção, fecharam com ligeira valorização entre 5 e 17 pontos (ou 1 dólar por tonelada até quase 4). Nada de novo no front, alguns sustos por parte dos vendidos a descoberto nas calls (opções de compra) mais fora do dinheiro com vencimento em setembro, trazendo um pouco de firmeza no mercado, numa solidez muito próxima àquela do prego na gelatina.
Na verdade, o mercado não tem porque mudar. Nada acontece no físico que justifique isso. Parece estar anestesiado. Período de férias de verão no hemisfério norte, com gestores dos fundos não indexados se esbaldando com suas posições vendidas de 97.000 lotes (estima-se um ganho de não-realizado de US$ 220 milhões), sem preocupações no horizonte. O que pode mudar? Um mix de acontecimentos envolvendo o macro, o clima e o dólar. Preço recuperando em dólares, só mesmo com a influência de um desses fatores mencionados.
O fato é que ganha-se dinheiro com açúcar mesmo com o preço baixo no mercado internacional, que é compensado internamente pela desvalorização do real em relação ao dólar e com a curva ascendente para os vencimentos futuros. Não chega a ser uma curva de custo e carrego, aquela que paga para o detentor segurar seu produto, mas ainda assim apresenta uma rentabilidade boa para aqueles que não tem passivo em dólares e podem operar livremente nos mercados futuros. Combinando cotação de NY com contrato a termo de dólar com vencimento futuro liquidado financeiramente (leia-se: NDF), se alguma usina quiser, desde que cumpridas as exigibilidades de praxe, consegue fixar venda de açúcar para a safra 2014/15 por R$ 800,00 por tonelada em média e 10% mais para o ano seguinte. Como o custo médio de produção de açúcar pelo modelo da Archer está em R$ 666,90 por tonelada posto usina, vê-se que a rentabilidade é boa.
O número de moagem de cana no Centro Sul divulgado pela Unica acumulado até a primeira quinzena de julho, somava 223 milhões de toneladas, expressivamente maior do que o mesmo período do ano passado, quando o volume alcançara 170 milhões de toneladas. O mercado reagiu imediatamente caindo 25 pontos (quase 6 dólares por tonelada). Não há dúvida que essa safra está muito mais adiantada do que a anterior (2012/2013) que começou em ritmo extremamente lento, o que prejudica uma análise mais criteriosa. Em valores relativos, nos últimos cinco anos - até a primeira quinzena de julho - observou-se que o total de cana moída acumulada correspondeu de 32% a 46% do total moído no respectivo ano. Se tirarmos a máxima e a mínima desses cinco anos, a média foi de 39%. Se essa relação se mantiver, o volume total de cana moída nesta safra chegará a 570 milhões de toneladas, um número abaixo da média estimada pelo mercado, que é de 585 milhões de toneladas. Usando o mesmo critério para a produção de açúcar, que já acumula um volume de 11,3 milhões de toneladas (acima dos 9,3 do mesmo período do ano passado), teríamos uma produção final de açúcar de 32 milhões de toneladas. Para o etanol, que já produziu 9,4 bilhões de litros, chegaríamos numa produção de 25,4 bilhões de litros.
A média de preço do açúcar em reais este ano, considerando o valor posto usina é de exatos R$ 703,00 por tonelada. Considerou-se para efeito desse cálculo, o fechamento de NY, a cotação do dólar pelo Banco Central, o prêmio de polarização e o desconto de frete e elevação no porto. A mínima do ano foi R$ 656,54 por tonelada e a máxima foi R$ 797,30. Com base nesses extremos, ao dólar de fechamento na sexta-feira, em tese, poderíamos afirmar que o chão do mercado é 15,30 centavos de dólar por libra-peso e o teto 18 centavos de dólar por libra-peso. Há um ano esse valor era de R$ 917,93 por tonelada.
O consumo de combustível no Brasil alcançou volume recorde no acumulado de doze meses com base no mês de maio/2013. Segundo dados da ANP, em doze meses (junho/12 até maio/13) o consumo total foi de 50,07 bilhões de litros (40,28 de gasolina C e 9,79 de etanol hidratado). O consumo aumentou 6,30% em doze meses. Em valores absolutos o incremento no consumo foi de 2,97 bilhões de litros. Temos falado muito nesse espaço que anualmente o Brasil precisa crescer pelo menos 35 milhões de toneladas de cana para atender apenas ao consumo marginal de combustíveis. A alternativa a esse crescimento de cana é a importação de etanol de milho ou de gasolina.
Desde 31 de dezembro de 2012, o vencimento outubro/13 caiu 18%. Naquela data, todos os meses de vencimento ao longo da curva que se estendia até julho de 2015 encerraram o ano acima dos 20 centavos de dólar por libra-peso. Milho caiu 29,5% no ano, Trigo 16,4% seguido pelo açúcar (no caso o primeiro mês cotado), com 15,6%.
Já estão abertas as inscrições para o XX Curso Intensivo de Futuros, Opções e Derivativos – Commodities Agrícolas que vai ocorrer em São Paulo, no mês de setembro, nos dias 24, 25 e 26. Metade das vagas já foi preenchida. Corra que o próximo só em 2014.
Boa semana!