Profecia
Eu não assisto televisão. Mas, a julgar pelos comentários que recebi no Twitter, parece que ontem mesmo o JN já falou no bom momento da Bolsa: a coisa foi mais rápido do que imaginava.
Para confirmar a profecia que dita que o mercado cai quando Bonner fala de Bolsa, mercados globais têm dia de pausa para reflexão a respeito de tudo que viveram ao longo desta semana: gatilho para tanto é aumento de preocupação com o cenário político europeu (abordo em seguida).
Nova York respira após consecutivas altas. Mercados europeus têm dia de mau humor. Por aqui, queda de 0,7 com predominância de exportadoras na ponta positiva em reflexo à suave inflexão do dólar.
Juros têm queda ao longo de toda a curva, em ajuste após fluxo de ontem.
A força dos sentimentos
O grande tema do dia vem de fora, e diz respeito à corrida eleitoral francesa.
Diante do crescimento da candidata, contendores de esquerda conversam buscando unificação de candidaturas. Na construção de um programa comum, idéias lindas como um programa de renda mínima universal surgem no centro da mesa.
E daí se arrebentaria as contas públicas? Na era da pós-verdade, a frieza dos números e fatos objetivos deve ser subordinada à força dos sentimentos.
Yield da dívida francesa abre vigorosamente contra alemã: termômetro de risco melhor não há.
Pescoços a prêmio
A mesma conversa mole permeia a mais recente ata do Banco Central Europeu.
“Sentimos que um amplo apelo a outros policymakers deve ser feito para que ampliem seus esforços para apoiar a recuperação e as perspectivas de crescimento sustentável da zona do euro (…)”
Tenho para mim que o que o pessoal de Bruxelas está sentindo é que seus gordos pescoços estão a prêmio, e buscando construir um discurso-analgésico que prolongue o status quo.
O Banco não só rejeita acenar com o fim de seu programa de estímulos como cogita o relaxamento de regras visando ampliar as recompras de títulos. Como já mencionei neste espaço, o BCE já acumula parcela substancial do estoque de títulos emitidos na região e sua atuação distorce o custo de capital de maneira alarmante.
Diante de efeitos aquém do esperado, o que propõem? Aumentar as distorções: no fundo do poço tinha uma pá…
Não é fruto do acaso que candidaturas críticas ao euro crescem.
Estatização branca
Da última vez que verifiquei, a Vale (SA:VALE5) não era uma empresa estatal: era controlada por um grupo de investidores privados, dentre os quais alguns fundos de pensão (que sim, são entes privados e faço questão de enfatizar isto).
Diante disso, não consigo deixar de me espantar com a naturalidade com que se recebe a notícia de que Temer “chegou a cogitar que a bancada do PMDB e o Aécio poderiam se juntar para indicar alguém”.
Será que dá para ao menos fazer de conta que não há tamanha ingerência política nos fundos de pensão? Ou é pedir muito? Participante: se você não o está fazendo, talvez seja a hora de começar a olhar com mais criticidade para o que fazem com seu dinheiro.
Engraçado pensar que, até bem pouco tempo atrás, o maior risco percebido pelo mercado em Bradespar (SA:BRAP4) era o risco de “estatização branca” da Vale. Diante de uma postura mais pró-mercado do governo da vez, ninguém falará nada agora?
Numerologia
Alguns números sobre os quais vale a pena pensar — ou, no mínimo, usá-los para ter assunto com aquele seu primo no churrasco de domingo: