O contrato futuro de açúcar de março/2018 expirou nesta semana com uma entrega de 742 mil toneladas, que pode ser interpretada como ligeiramente construtiva. Os dois recebedores são tradings parceiras dos dois principais produtores de açúcar do país.
Ao receberem o volume entregue, liberam os produtores para produzirem mais etanol, cuja remuneração é superior ao do açúcar e possibilitam a eles cobrir eventuais compromissos assumidos de entrega de açúcar nesse período. É uma espécie de opção a custo zero: observa-se o comportamento do mercado e se ele continuar no marasmo atual os produtores reforçam a produção de etanol e as tradings nomeiam os navios o mais adiante possível. Se o mercado internacional demandar açúcar nesse período e os prêmios melhorarem, as tradings nomeiam os navios com maior antecedência.
Na terça-feira, o mercado mergulhou para os níveis mais baixos desde junho do ano passado, influenciado pela entrevista do presidente do FED, o Banco Central Americano, Jeremy Powell, sugerindo que teremos um ritmo mais rápido na evolução das taxas de juros americanas.
O mercado interpretou adequadamente que juros mais altos inibem ativos de risco e, com isso, assistimos a uma queda no mercado acionário e nas commodities de maneira geral.
Como se sabe, os fundos possuem uma volumosa operação de long-short, que consiste em estar long (comprado) em determinado ativo e concomitantemente short (vendido) no mesmo valor nocional, em outro ativo. Os fundos estão long energia (leia-se petróleo) e short softs (leia-se café e açúcar).
Se Powell efetivamente implementar o que está sugerindo, o real brasileiro pode se desvalorizar em relação à moeda americana e isso pode mudar a matriz de preços para açúcar e etanol nesta safra 2018/2019.
Vamos analisar dois cenários do real: R$ 3.25 (I) e R$ 3.40 (II) e dois do Petróleo Brent: US$ 55 por barril (A) e US$ 65 por barril (B) e como eles formariam (em tese) o preço médio do açúcar equivalente em NY:
- Se ocorrerem (I) com (A), o preço médio do açúcar para 2018/2019 tem um chão (o preço mais baixo) de 13.80 centavos de dólar por libra-peso (estimando a paridade de 67.5% do hidratado para a gasolina na bomba);
- Se virmos (I) com (B), o preço médio sobe para 15.06 centavos de dólar por libra-peso;
- Se ocorrer (II) com (A), então o preço médio seria de 13.67 centavos de dólar por libra-peso;
- Finalmente, se for (II) com (B), teríamos um preço médio de 14.93 centavos de dólar por libra-peso;
Note que independentemente do cenário que se queira criar o preço de paridade mínima para o açúcar (usando 67.5%) é de 13.67 centavos de dólar por libra-peso. Ou seja, abaixo desse valor as usinas vão continuar priorizando a produção de etanol.
No começo do ano, informamos aos nossos clientes que nosso modelo de preços estimava que o preço médio do fechamento do primeiro mês negociado em NY seria de 14.20 centavos de dólar por libra-peso e que em fevereiro seria ainda pior, 13.92 centavos de dólar por libra-peso. Ocorre que o preço médio acabou sendo de 13.98 e 13.58 centavos de dólar por libra-peso, respectivamente. Uma diferença de apenas 1.5-2.5%. O que março vai nos trazer?
A previsão da MB Associados é de que o PIB cresça 3.5% em 2018. Duas perguntas que tem impacto direto no mercado: qual será o aumento nas vendas de veículos leves este ano (frota cresceu quase dois milhões de veículos em 2017, a expectativa este ano é de 2.2 milhões) e qual será o crescimento no consumo de combustíveis gasolina equivalente este ano, considerando que ele cresce acima do PIB?
Um número factível aponta para quase duas milhões de toneladas de açúcar equivalente que deveriam ser desviadas para a produção de etanol.
Os fundos aumentaram suas posições vendidas: 164.000 lotes. Estimamos que o preço médio dessas posições esteja ao redor de 13.84 centavos de dólar por libra-peso, mostrando um lucro de US$ 75 milhões.