Os mercados acionários negociaram volumes abaixo da média em várias bolsas mundiais na curta semana santa. O triste episódio terrorista na Bélgica pressionou as cotações das ações europeias, que caíram ao redor de 2% nos últimos quatro pregões, e manteve a recuperação do dólar americano.
Passado o susto sofrido nas primeiras seis semanas do ano os investidores hesitam em tomar novas posições agressivas já que os receios que sacudiram os mercados não se dissiparam totalmente. Mesmo as novas rodadas de afrouxo monetário não animam, pois ao invés de estimular investimento das empresas em investir em produção tem feito as companhias de capital aberto recomprar seus papéis negociados em bolsa.
Como mencionado neste espaço no comentário da semana anterior a compra de commodities esfriou depois dos ajustes dos fundos em suas posições tomadas no dólar e com isso as matérias-primas listadas perderam o brilho.
O café tanto em Nova Iorque como em Londres manteve o “momentum” buscando novas máximas que não víamos desde outubro de 2015 de janeiro último, respectivamente para o arábica e o robusta, mas falhou na quinta-feira e dá sinais de ter exaurido sua força, não só por ter perdido quase US$ 9 centavos por libra dos US$ 136.40 centavos atingidos no dia, mas também por ter encerrado a semana abaixo da média móvel de 200 dias.
Para piorar os fundos estão com sua maior posição comprada desde 27 de janeiro de 2015, quando NY negociava a US$ 170 centavos por libra e o Real encerrava o dia a R$ 2.5735 contra o dólar. No relatório do COT de sexta-feira os fundos apareceram com uma posição líquida compra em 19,523 lotes, entretanto mais importante talvez seja mencionar que a parte bruta-comprada é a maior desde outubro de 2014, quando então o mercado fez a máxima de US$ 229.00 centavos por libra em função de um começo de safra no Brasil com rendimento baixo devido a seca dos três primeiros meses daquele ano, receoso, então em uma quebra grande na colheita.
De lá para cá o que se viu foi um volume de exportação recorde da maior origem produtora no mundo, um crescimento dos embarques (e produção) de Colômbia, e cotações internacionais decrescentes compensadas pela desvalorização das moedas das principais origens.
O cenário não é nada animador para os altistas.
A esperança fica por conta de uma nova onda de desvalorização da moeda americana, e aqui me refiro mais ao índice do dólar (cesta de moedas contra o dólar) do que uma alta do Real propriamente dita. Digo isto, pois o fluxo de compra visto recentemente foi em função dos fundos terem comprado commodities, o que é ótimo, mas com os Estados Unidos estando em uma situação melhor do que grande parte do mundo desenvolvido as chances são grandes do dólar manter a sua apreciação.
No mercado físico os vendedores tiraram proveito do movimento de alta recente e os compradores depois da baixa se retraíram. Os importadores não mostram urgência em renovar suas compras por ora e provavelmente vão aguardar novas quedas do terminal para adicionar mais cobertura em seus confortáveis livros de futuros. O mesmo não se aplica para a necessidade e apetite de compras de diferenciais, o que, diga-se de passagem, não dá para entender o motivo de não estarem beliscando ofertas com descontos razoáveis para o segundo semestre – a não ser, claro, que apostem em um terminal mais firme.
Tenho receio do que pode traduzir esta posição dos fundos, ainda mais caso Dilma não caia e leve o Real, ao menos por algum tempo, para o patamar de R$ 3.20 como sugerem alguns economistas. Fora este potencial fator positivo, há também um volume de quase 30% da safra 16/17 ter sido comercializada e a queda dos certificados em Nova Iorque. Os altistas dizem que 400 mil sacas que compões os certificados estão vendidas e serão entregues (descertificadas) nos próximos quatro meses, só não sei se será suficiente para segurar o mercado.
As exportações elevadas do Brasil com a proximidade da entrada da safra recorde de arábica é o que infelizmente me deixa negativo, e me fez mudar o tom há cerca de três semanas – conforme o leitor assíduo de meus comentários pode ter notado.
Torço mesmo é para eu estar errado em minha análise, pois o teste de uma nova mínima e eventualmente dos US$ 100.00 centavos por libra é tudo que ninguém no mercado que r ver, pois não ajuda a ninguém –produtores, comerciantes, exportadores, importadores, torradores, e neste momento nem mesmo os especuladores/fundos.
Por outro lado um evento climático em qualquer parte do mundo que diminua a produção tem um potencial explosivo para o curto/médio-prazo. Já para o longo-prazo não há dúvida que a commodity café está muito próxima de preços baixos, dado o consumo crescente que fará dos atuais preços baratos daqui há uns dois anos.
Não é a toa que os produtores brasileiros estão vendendo o que tem da safra atual, mais da safra 16/17 e o que podem da safra 17/18, fazendo do Brasil o melhor gestor de risco de preços entre todos os países produtores do mundo.
Boa Páscoa a todos e uma excelente semana com muito bons negócios.