Geração Z gasta muito, gasta mal e culpa os pais e a escola por isso

Publicado 29.06.2025, 10:00

A formação da consciência financeira não começa na juventude ou na vida adulta – ela nasce nos primeiros anos de infância. Um estudo da Universidade de Cambridge revelou que nossos hábitos e crenças em relação ao dinheiro já estão, em grande medida, consolidados aos sete anos de idade. Nesse ponto, padrões de consumo, propensão ao risco, autocontrole e até o modo como reagimos a recompensas e frustrações já estão desenhados. Qualquer política pública ou estratégia de mercado que ignore esse dado essencial está, na prática, tentando remediar um problema cuja raiz já se aprofundou no inconsciente coletivo.

É nesse contexto que a máxima de Pitágoras - “Educai as crianças para não punir os adultos” - se revela absolutamente contemporânea. Se a sociedade deseja uma geração mais próspera, menos vulnerável a golpes financeiros, dívidas insustentáveis e manipulações de mercado, o único caminho realista é o investimento massivo em educação financeira de base. Não basta ensinar matemática ou economia na adolescência ou na fase adula: é preciso, desde cedo, inserir no cotidiano das crianças noções de escolha, valor, troca, poupança, custo de oportunidade e consequência. O ambiente doméstico, com seus exemplos práticos e seus discursos sobre dinheiro, atua como o primeiro e mais influente “professor” de finanças.

Os desafios impostos pela ausência dessa formação são cada vez mais evidentes. Pesquisas internacionais mostram que a geração Z, embora conectada e informada, sente-se despreparada para lidar com decisões financeiras do mundo real. Em estudo recente, jovens apontam as escolas como corresponsáveis pela falta de preparo para a vida financeira – uma crítica que também ecoa nos relatórios de educação financeira do Reino Unido e dos Estados Unidos. Esse vácuo formativo cria espaço para fenômenos como o “doom spending” (o gasto impulsivo, quase desesperado) e o “loud budgeting” (orçamentos rigorosamente compartilhados nas redes), ambos expressões de ansiedade diante da incerteza financeira, mas também de busca por pertencimento em uma geração que raramente viu exemplos positivos de autonomia financeira.

Os Finfluencers

A própria explosão dos “finfluencers” nas redes sociais é sintomática: quando o sistema formal não oferece respostas, a juventude busca referências alternativas – muitas vezes superficiais, ou até perigosas. Sem a capacidade crítica para filtrar recomendações, muitos jovens e adultos caem em armadilhas que perpetuam o ciclo de endividamento e frustração. É por isso que a educação financeira de base precisa ser crítica, prática e contínua, capaz de formar cidadãos aptos a lidar com a complexidade dos mercados e das relações de consumo.

Sob a ótica do mercado financeiro e do mundo dos negócios, a ausência de educação financeira não é apenas uma questão de cidadania: é um gargalo estrutural que limita o potencial de consumo consciente, de poupança, de investimento e até de empreendedorismo de qualidade. Países que negligenciam a alfabetização financeira de sua população produzem consumidores frágeis, facilmente manipuláveis, e um mercado interno marcado por ineficiências, ciclos viciosos de crédito e baixa produtividade. Por outro lado, quem investe em educação de base amplia a solidez dos mercados, aumenta o grau de sofisticação dos investidores e estimula a inovação financeira – ambiente propício ao surgimento de novos negócios, produtos e soluções de impacto global.

É impossível ignorar que, em um cenário de incerteza econômica e mudanças tecnológicas aceleradas, a resiliência financeira é um diferencial competitivo tanto para indivíduos quanto para países. E essa resiliência não se constrói por decreto ou em cursos rápidos de gestão financeira na vida adulta; ela nasce da vivência, do diálogo aberto sobre dinheiro desde a infância e da capacidade de fazer escolhas conscientes em ambientes de escassez e abundância.

Os dados falam por si. Estudos de instituições como a OCDE, a própria Universidade de Cambridge e pesquisas conduzidas por grandes bancos demonstram que alunos expostos a educação financeira desde cedo apresentam menores taxas de inadimplência, maior propensão ao investimento de longo prazo e comportamentos menos impulsivos. O benefício não se resume ao indivíduo: sociedades mais educadas financeiramente sofrem menos com crises bancárias, bolhas especulativas e colapsos de confiança. Elas punem menos os adultos – porque prepararam, desde cedo, as crianças para os desafios do mundo real.

A lição de Pitágoras, milênios depois, permanece urgente. Não haverá progresso econômico, estabilidade social ou amadurecimento dos mercados enquanto não tratarmos a educação financeira de base como prioridade. O custo de adiar essa agenda é medido em gerações de adultos punidos por escolhas que nunca aprenderam a fazer. E, em tempos de crise global, esse preço se torna alto demais para qualquer sociedade pagar – principalmente para as analfabetas financeiras.

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