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Gestão de Carteiras Sob Múltiplos Regimes: Inovação Para Bater o Mercado

Publicado 11.09.2020, 07:55
Atualizado 11.10.2023, 23:02

Nesta semana, dividirei com vocês os resultados do mais novo artigo acadêmico que escrevi com Marcelo Lewin, mestre e atual doutorando em Finanças sob minha orientação no Coppead-UFRJ. O trabalho foi publicado no mais recente número da Revista Brasileira de Finanças, editada pela Sociedade Brasileira de Finanças. Abaixo segue o resumo do artigo para que desde já você saiba sobre o que iremos falar:

O artigo sugere uma estratégia de gestão de carteira extremamente original e inovadora que desenvolvi em meu doutorado. Traçarei um paralelo aqui para facilitar o entendimento. Um dos modelos mais tradicionais (e simples) de gestão de carteiras é o de Markowitz, onde o investidor objetiva maximizar periodicamente seu retorno esperado de acordo com o risco ao qual deseja se expor. Na verdade, o que está por detrás deste modelo é a maximização da função quadrática de utilidade, que valoriza expectativas de retorno maiores e penaliza o risco assumido para tal.

O modelo que testamos no artigo traz duas evoluções à ideia de Markowitz. A primeira delas é a função de utilidade considerada (utilidade diferencial estocástica), que é muito mais avançada do que a usada no modelo de Markowitz. Já é ponto pacífico na literatura acadêmica que a função de utilidade quadrática possui sérias limitações que, naturalmente, afetam a performance de uma carteira assim construída. Não tenho conhecimento de nenhum gestor ou mesmo pesquisa acadêmica brasileira que utilize a função de utilidade diferencial estocástica para alocar recursos.

Já a segunda evolução é completamente inovadora em gestão de carteiras no Brasil e explicarei. Um modelo de gestão de carteiras, seja ele qual for, possui seus parâmetros que precisam ser estimados para que o modelo seja devidamente utilizado. Por exemplo, o modelo de Markowitz deve estimar retornos esperados, variâncias e correlações entre os ativos considerados. Mas o ponto central é que os modelos tradicionais trabalham como se a economia fosse regida por apenas um regime (e.g., Markowitz estima um retorno esperado e uma variância para cada ativo). Parece natural entendermos que a economia é regida por diferentes regimes que se intercalam com o passar do tempo. Se aplicado sob uma economia de múltiplos regimes, o modelo de Markowitz estimaria múltiplos retornos esperados, múltiplas variâncias e múltiplas correlações que se revezariam ao longo do tempo.

Ilustrarei com um exemplo simples a importância de se considerar múltiplos regimes. Imagine que você passe alguns dias em um hotel no deserto e utilize um modelo tradicional (isto é, de regime único) para prever a temperatura e acionar automaticamente a necessidade de ligar o aquecedor ou o ar-condicionado. A cidade convive com temperaturas negativas em seis meses do ano e com temperaturas extremamente altas nos outros seis meses. Entretanto, a média anual de temperatura fica em torno dos 24 graus. Um modelo de regime único estimaria a temperatura média como muito agradável e não acionaria nem o aquecedor, muito menos o ar-condicionado. Seria realmente necessário um modelo de dois regimes (inverno e verão) para identificar os extremos de temperaturas e a necessidade de ligar o aquecedor no inverno e o ar-condicionado no verão.

Da mesma forma, os regimes econômicos existem e identificá-los se mostra extremamente relevante para uma adequada alocação de recursos. Por exemplo, soa óbvio identificar que estamos neste momento em um período de altíssima volatilidade na bolsa e isso, claro, impacta nas variâncias dos ativos. Outro exemplo é conhecido no mercado: em períodos de crise, as correlações entre as ações aumentam consideravelmente. Trabalhar um modelo que considere as correlações históricas em um momento reconhecidamente distante da média parece ingênuo e ineficiente.

Entender como os regimes se apresentam e se sucedem é um dos segredos dos modelos de múltiplos regimes. Periodicamente, são estimadas as probabilidades de se estar em cada um dos regimes identificados e a decisão ótima de alocação da carteira para o próximo período é tomada. O contraponto dos modelos de múltiplos regimes é que eles envolvem uma matemática e um esforço computacional mais complexos.

No Brasil, modelos de múltiplos regimes já são utilizados há algum tempo para previsões econômicas (PIB, crescimento industrial, taxas de juros, câmbio etc.). Entretanto, fui o primeiro (e até agora o único) a aplicar aqui no Brasil a ideia em gestão de carteiras de investimentos. Mas, afinal de contas, o modelo produz estratégias que batem o mercado? E as respostas para testes nos Estados Unidos, na Europa e no Brasil foram absolutamente positivas.

No artigo publicado na Revista Brasileira de Finanças, trabalhamos com cinco classes de ativos: livre de risco (CDI), renda variável ações (Ibovespa), renda fixa dolarizada (T-Bills), renda fixa indexada de curto e renda fixa indexada de longo prazo (respectivamente, IMA-B 5 e IMA-B 5+). Para essas classes, identificamos três regimes diferentes. A tabela abaixo apresenta o patrimônio ao fim de 2019 a partir de um investimento inicial (em dezembro de 2009) de R$ 1.000,00 em cada uma das classes de ativos e na estratégia considerada, que chamo de CGL.



A estratégia CGL apresentou o maior retorno, com folgas, em comparação com qualquer das cinco classes de ativos. Isso mostra que o modelo consegue capturar os regimes dominantes da economia e, portanto, se faz valer dessa informação na formação da sua carteira. Essa maior rentabilidade vem, entretanto, com volatilidade mais alta: 40,6% ao ano diante de 21,6% a.a. do Ibovespa. Caso essa volatilidade seja alta demais para determinado investidor, isso não é problema pois poderíamos montar uma carteira 50% no CDI e 50% na estratégia CGL. Tal carteira atingiria um patrimônio final de R$ 5.091,28 - ainda assim superior a todas as classes analisadas e com volatilidade marginalmente inferior a do Ibovespa: 20% a.a.

Se você quiser saber mais sobre a estratégia, não deixe de ler o artigo. Minha intenção com este texto foi dividir uma ideia incrivelmente simples (e natural, eu diria) que pode gerar estratégias interessantes de alocação para carteiras de investimentos. E lembre-se sempre que não há mágica alguma, mas sim um racional por detrás dos bons resultados que tenho visto em meus testes. Ao identificar diferentes regimes nos retornos dos ativos, o investidor consegue alocar melhor seus recursos, fazendo escolhas mais apropriadas: é precisamente isso que aumenta a sua rentabilidade esperada.

Trabalhar com apenas um parâmetro para representar uma determinada variável é como utilizar a média para representar cegamente o todo. Posso apostar que a média de altura dentre os jogadores de uma partida da NBA é maior do que a média de altura dos jogadores de uma partida de futebol do campeonato brasileiro. Soa óbvio, não? Então por que não fazemos o mesmo em gestão de carteiras?

Forte abraço a todos.

Disclaimer: O objetivo deste texto foi dividir com um público amplo um trabalho acadêmico. Não tenho jamais o objetivo de sugerir uma estratégia em si, mas sim fomentar a discussão e prover informações para meus leitores. Cada investidor deve fazer sua própria análise, percebendo o nível de risco que lhe é cabível, e tomar suas decisões de investimento adequadamente, por conta e risco próprios.

* Carlos Heitor Campani é PhD em Finanças, Professor Pesquisador do Coppead/UFRJ e especialista em investimentos, previdência e finanças pessoais, corporativas e públicas. Ele pode ser encontrado em sua página pessoal e nas redes sociais: @carlosheitorcampani. Esta coluna sai toda sexta-feira.

Últimos comentários

Excelente Campani!!! Busco diversificação de ativos e classes na carteira como estratégia de proteção e c consequente performance. Me despertou interesse em conhecer melhor sua tese. Como posso ter acesso e obter maior profundidade?Parabéns pelo modelo e midset!Abçs
Bom dia Carolina, obrigado ;)  Eu sou quanti e aplico múltiplos regimes em um modelo quanti sim. Mas não necessariamente um modelo quanti será de múltiplos regimes. Como falei, desconheço no Brasil alguém que utilize múltiplos regimes em asst allocation (na economia, já utilizam) pois há uma modelagem matemática por detrás que acaba por ser uma fortíssima barreira de entrada. Além disso, trata-se de assunto relativamente novo na academia (prova disso que modelos mais realistas ainda não tinham solução analítica até que eu propus uma em minha tese de doutorado). Mas mesmo em modelos simplistas (inclusive Markowitz, que muitos ainda usam), seria um ganho aplicar múltiplos regimes.
Ótimo Campani aplicar estas metodologias de otimização de rendimento. Sou engenheira química e trabalhei muitos anos com otimização de processos industriais (que utiliza muitas variáveis e equações), quero aprender a fazer isso na area financeira/ economica.Qual programa você utilizou para elaborar a tese de multiplos regimes?
Bom dia Campini, adorei seu artigo (inspiração). Tenho lido bastante sobre os fundos Quanti da Leda Braga (systematica). O conceito desses fundos Quanti é parecido do seu modelo exposto? Quero aprender mais com você. Otimo dia.
Olá meu amigo, o modelo já está operacional e estou aplicando junto a um grande player do mercado. Se você quiser operar pessoalmente, eu sugiro ler não apenas esse artigo mas outros precedentes meus (veja a lista lá no meu website, na parte de pesquisa). Forte abraço e obrigado pelo interesse.
Como tornar operacional o estudo?
Carteira: Águia voa com Águia.😏
Muito bom. As sazonalidades diversas e randomicas nos mercados exigem estrategias distintas e personalizadas. No momento covid, eleiçoes, novo governo, mudanças tecnologicas e sociais.
Que legal Renato! Entre em contato comigo através do meu website para batermos essa bola então. Forte abraço meu amigo e parabéns pelo retorno da sua estratégia.
Sensacional Carlos, a técnica de inclusão de diferentes classes de ativos e avaliação da correlação entre eles sem dúvida leva ao controle do risco, com estas informações disponíveis e um bom modelo matemático e possível variar os riscos e retornos para cada momento da economia, tenho um método e modelo matemático que trabalha muito similar ao que você descreve, se tiver disposição gostaria de mostrar a você para sua avaliação, nos últimos 18 meses o retorno foi de 118% sobre o valor investido.Abraço e parabéns.
poderias compartilhar Renato?
poderias compartilhar Renato?
Olá pessoal, antes de compartilhar eu prefiro bater uma bola com o professor, o algoritimo funciona muito bem porém depende muito de análises e inputs manuais feitos por mim, portanto não faz sentido compartilhar neste momento.
Professor, mais uma vez te parabenizo pela didática!!! É o único colunista que espero ansioso para fazer as leituras.Sobre essa estratégia comentada no artigo, ela pode ser aplicada facilmente na constituição de uma carteira ou requer de mais conhecimento técnico para se fazer isso? Estou perguntando tendo a visão de aplicabilidade para a maioria das pessoas passaram a investir e que poderiam está adotando essa estratégia tendo menos especulações.
Olá Jason, MUITO obrigado por suas palavras meu amigo (idem João e Renato). Respondendo à sua questão: nesse caso, a aplicação não é trivial. Para aplicar o modelo corretamente, há certa complexidade na modelagem matemática, bem como esforço computacional para estimar os regimes e a alocação ótima. Meu intuito aqui foi dividir a ideia com todos, mas igualmente com gestores de fundos, pois estes sim teriam os meios para implementar uma estratégia de múltiplos regimes. E, com isso, estratégias mais avançadas poderiam chegar ao grande público. Forte abraço.
Parabéns! Sem dúvida, o melhor autor aqui do Investing. Abraço.
Muito interessante! Parabens e espero que existam fundos no Brasil q sejam lancados considerando essa tecnica
Show de bola Carlos. Comecei a ler seus artigos recentemente e já virei fã, tanto é que não me limito ao Investing.com, e busco suas publicações e de seus orientandos.Parabéns!
👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻
Parabéns!!!
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