Publicado originalmente em inglês em 05/08/2020
Onde será que o ouro vai parar? Como os futuros do ouro nos EUA não param de registrar novas máximas históricas – a última acima de US$ 2.052 por onça na quarta-feira pela manhã na Ásia –, todos estão tentando responder a essa questão.
E, por mais simplista que pareça, o avanço ou recuo do metal amarelo a partir do patamar atual depende quase que totalmente de uma coisa: do dólar.
Afinal, apesar de todas as análises gráficas, padrões de candlesticks e projeções de Fibonacci, o valor do ouro, assim como o de qualquer commodity, é determinado pela oferta e demanda.
No caso dos metais preciosos, cuja oferta é invariavelmente mais limitada do que a de outras matérias-primas, um fator adicional precisa ser considerado: a disponibilidade de dinheiro, que determina o valor das moedas, como o dólar.
O Índice Dólar, que compara o valor da moeda americana ao de outras seis divisas, estava nas máximas de 17 anos a 103,960 em março. O dólar manteve-se firme naquele momento, enquanto as ações afundavam no auge dos temores do coronavírus, criando uma necessidade crônica de caixa para cobrir as margens nas ações, o que acabou gerando uma corrida no ouro, o melhor ativo passível de liquidação quando existe uma pressão para levantar dinheiro. O metal, com isso, caiu para a mínima de 4 meses a US$ 1.451,00.
A culpa é da queda dos rendimentos, das taxas reais e do dólar
Voltando a agosto, o Índice Dólar encontra-se agora nas mínimas de 27 meses, a 93,047, afetado pela queda dos rendimentos dos títulos de 10 anos do tesouro americano, já que as taxas reais entraram em território negativo, sem falar na emissão de mais de US$ 3 trilhões em fundos de combate ao coronavírus nos EUA desde março, que devem ser ampliados.
Ninguém precisa ser um economista de Harvard para entender o impacto inflacionário que toda essa oferta monetária terá sobre o dólar no futuro. Os investidores estão preocupados com a saúde do balanço de pagamentos dos EUA, razão pela qual todos, ou pelo menos alguns, estão olhando para o ouro como uma forma de se proteger contra todas essas ameaças.
No momento em que escrevo, o contrato de ouro para outubro na COMEX de Nova York registrava nova máxima recorde a US$ 2.038,95 no início do pregão desta quarta-feira em Cingapura, depois de fechar a US$ 2.001,20 na sessão regular de Nova York, considerando que o pico das negociações foi a US$ 2.014,15.
Mais cintilante ainda foi o desempenho do ouro para dezembro na COMEX, que atraiu um volume maior, inclusive de posições em aberto, do que o contrato com vencimento mais próximo. O ouro para dezembro atingiu o recorde de US$ 2.055,40 na quarta-feira pela manhã em Cingapura.
Já o ouro spot, que rastreia as negociações do metal com entrega imediata, atingiram a máxima histórica de US$ 2.039,90 na quarta pela manhã.
Ouro pode atingir US$ 2.150 em breve
Em vista da contínua desvalorização do dólar e a ascensão do ouro para US$ 2.050 por onça, acredito que o alvo de US$ 2.150 tem tudo para ser alcançado no curto prazo na COMEX, quem sabe antes do fim deste mês. Em linha com o foco e a atividade do mercado, isso deve acontecer no contrato de dezembro antes do papel com vencimento em outubro ou no mercado à vista.
Não estou sozinho nessa crença.
AG Thorson, especialista no estudo técnico do ouro, afirmou que os contínuos rompimentos de suportes abaixo de 92 no Índice Dólar podem desencadear o chamado “efeito em cascata”.
“Nesse cenário, o ouro deve superar US$ 2.100 e ingressar em uma alta parabólica", escreveu Thorson em uma publicação feita na quarta-feira no site FX Empire.
Sunil Kumar Dixit, analista independente de metais preciosos, afirmou que o ouro está exibindo um “movimento projetado de Fibonacci” em relação à máxima recorde anterior de 2011, quando atingiu US$ 1.920, contra a mínima de 2015, a US$ 1.046.
Segundo ele, o movimento apresentou um nível de retração de 123,6% – o que é raro – e marcou a próxima ascensão do metal até US$ 2.127, “embora o impulso deva atingir US$ 2.150 no melhor cenário”.
Thorson afirmou no passado que uma queda abaixo do patamar de 20 no Índice de Força Relativa (IFR) do ouro caracterizara um ciclo de baixa interino.
Como a leitura do IFR atingiu 18.61 em 30 de julho, “as chances são de o dólar tocar o fundo e o ouro atinja a máxima nos próximos dias”, escreveu.
No entanto, alertou que o mercado estava ficando cada vez mais pesado no topo. “Acredito que a volatilidade vai aumentar nesta semana”, concluiu.
Não é hora de vender ouro, segundo analistas
Mas, Christopher Lewis, outro analista do site FX Empire, espera que os pessimistas com o ouro continuem se decepcionando diante da força atual do mercado.
“Não consideraria uma venda até que o mercado rompa o suporte de US$ 1.800 ou caso o Federal Reserve comece a mudar sua atitude geral", escreveu Lewis.
“Não vejo isso acontecendo no curto prazo, portanto é bem provável que continuemos vendo muitas oportunidades de compra. Basta ter paciência para identificá-las. Até que haja uma mudança no cenário, não devemos nem pensar em venda.”
Eli Tesfaye, estrategista de metais precisos da RJO Futures, em Chicago, afirmou que sua expectativa é que o Índice Dólar vá abaixo de 90 nos próximos meses, abrindo espaço para que o ouro registre novas máximas.
“Teremos muitos investidores atrasados no ouro, que vão tentar empurrar o mercado para cima”, afirmou Tesfaye, concordando com Lewis.
“Muitas operações seguindo a tendência devem ser abertas. Isso deve acionar os stops e pressionar os vendidos.”
Alvo da prata está em US$ 30
Tesfaye também prevê que a prata, que atingiu a máxima de uma semana a US$ 26,87 na quarta-feira pela manhã no contrato de setembro da COMEX, pode se estabilizar em torno de US$ 30 até o fim do ano.
Segundo o analista:
“Acredito que a prata ainda esteja barata em relação ao ouro. É bastante provável que vejamos a prata atingir US$ 30 nos próximos meses”.
Ele também apontou para outra evolução interessante no mercado da prata: a redução do desconto entre os contratos de setembro e outubro, que pode indicar retorno para o “backwardation” em relação à situação atual de “contango”. Nas commodities, a situação de backwardation – quando o contrato do mês atual apresenta um prêmio em relação aos outros – é um sinal de força. No fechamento da terça-feira, o contrato de setembro apresentava um desconto de apenas 6,3 centavos em relação ao de outubro, contra a diferença de mais de 18 centavos na segunda-feira.
Dixit, analista independente de metais preciosos, também definiu US$ 30 como alvo.
Dixit escreveu:
“A prata está resistindo à retração de 38,2% de Fibonacci nos tempos gráficos maiores desde a máxima recorde de 2011, a US$ 49,79, até a mínima de 2020 de US$ 11,62, ficando a US$ 26,18.”
Ele afirmou que a prata confirmou o rompimento acima da “formação de flâmula no tempo gráfico menor” com alvo a US$ 30,11.
Dixit disse ainda:
“Isso também coincide com a retração de 50% de Fibonacci a US$ 30,20 e estamos em um cenário de alta probabilidade".