Truco! Seis! Nove! Doze!
Insatisfações com o governo Temer no seio do PMDB culminaram na candidatura de Marcelo Castro à Presidência da Câmara.
Castro foi ministro de Dilma, votou contra o impeachment e deverá amealhar votos de parlamentares do PT.
Imprensa em coro, consternada, fala que o jogo ficou embaralhado. Ó, céus; ó, vida.
Concordamos em discordar, pois vemos o copo meio cheio: disputas de ideias são sempre boas, e o resultado revelará muito mais a respeito da capacidade de articulação do governo do que na ausência de um candidato de última hora com as características de Castro. Gostamos do drama e da tensão, da dissonância e da consonância - por isso somos quem somos e fazemos o que fazemos.
E mais: o fato de haver dissidência interna no PMDB é ótima notícia. Ruim seria constatar que estamos lidando com um partido que apoiou monoliticamente o PT até meses atrás.
A rodada será interessante. De repente, ao embaralhar de novo as cartas, alguém ficou com o zap na mão.
É hoje, às 16h.
(Aliás, eleição na Câmara é bom momento para ouvir The Number of The Beast)
Cuidando do coração
No começo de minha carreira, brigava muito com o pessoal da análise técnica. O universo bem-comportado dos livros de finanças, combinado com a natural arrogância da juventude, me levavam a olhar para aquilo tudo como uma curiosidade um tanto primitiva.
Cheguei a trabalhar com grafistas que, já calejados do mercado, lembravam-se dos tempos em que faziam as análises em papel.
Levei muitos anos para perceber o óbvio: se análise técnica fosse uma forma sofisticada de superstição, jamais teria sabido dessas histórias: esses titãs teriam quebrado e saído do mercado antes mesmo de eu nascer.
Trata-se, no final das contas, de monitorar o mercado como se monitora um doente numa UTI. Cada sinal merece consideração e, quando tomados em conjunto, podem antecipar mudanças de tendência.
É o eletrocardiograma da Bolsa.
Neste Trader PRO, ensinamos o investidor a interpretar cada pulsação do mercado e implementar estratégias que visam maximizar ganhos e limitar perdas. Para quem tem vocação para operar o mercado em curto prazo, é prato cheio.
Tanto barulho para nada
Palavras de um gestor londrino: "Este é o ambiente mais estranho que vi em trinta anos (...). Pensava que o Brexit seria o bater de asas de borboleta que criaria um furacão... mas talvez não."
Todos pensando no Abenomics 2.0. James Bullard, do Fed de St. Louis, inferindo que o impacto do Brexit sobre os EUA tende a... zero. Chances de elevação de juros nos EUA ainda este ano esmaecendo rapidamente. Theresa May assume hoje e mercados já olham com excelentes olhos para potenciais candidatos a integrar sua equipe. Em Bruxelas, ânimos com relação ao Reino Unido abrem espaço para negociar acordos com maturidade. Libra voltando a valorizar, depois de um natural tombo. Mercados emergentes no maior nível em oito meses.
Me arrisco a dizer que já podemos, sim, arranjar outro problema pelo qual sofrer.
Ele disse que consertá-lo-ia, e assim o fez
Não durou 24 horas a tentativa de enxertar R$ 2,4 bi em emendas parlamentares como condição para aprovar a LDO, bem como o aceno à volta da CPMF.
Ontem mesmo, o governo tratou de articular para acabar com a brincadeira. O texto que vai à votação na Comissão de Orçamento, hoje à tarde, é bem mais comportado.
Depois de tantas acusações de pulso fraco - não de todo infundadas, tendo em vista as idas e vindas que presenciamos desde a formação do ministério - o governo marcou um belo gol em coordenação política.
Agradecemos. Tanto como contribuintes quanto como analistas de mercado: toda sinalização de responsabilidade fiscal e conciliação entre Planalto, Esplanada e Congresso é bem-vinda e candidata a fazer preço.
Temos uma reputação a reconstruir.
Quando Goldfajn fala, o mundo se ilumina
Estou para Ilan Goldfajn como Marilena Chauí estava para Lula anos atrás.
Ilan reiterou ao Financial Times a intenção do governo em propor uma emenda constitucional garantindo a autonomia do BC. Defendeu a flutuação total do câmbio e a zeragem do programa de swaps. Não só reafirmou que há condições de fazer a inflação convergir à meta ano que vem, como acenou com redução da mesma mais à frente.
Tudo música para meus ouvidos. E para o mercado. Não por acaso temos gente de peso lá fora olhando (e comprando!) Brasil. Não por acaso, o risco-país voltou a menos de 300 pontos (depois de bater 530 em setembro passado).
Para contrastar... hoje, enquanto vinha para o escritório, ouvi no rádio uma chamada para algum evento cultural. Ao final, a assinatura do Governo Federal, patrocinador.
"Brasil: Pátria Educadora".
Tétrico. Sinistro. Lembrei das previsões do Mantega, do discurso anacrônico quanto a BC, das peripécias com o BNDES. Horror! Horror!
Quanta diferença.