Todos acima da média
Lake Wobegon é uma cidade fictícia criada pelo autor e americano Gary Keillor, popularizada em seus livros e no programa de rádio que ele estrelou de por mais de 40 anos.
Aquela cidade, supostamente localizada no interior do estado americano de Minnesota, tem uma característica muito especial: lá, todas as mulheres são fortes, todos os homens são bonitos e todas as crianças são acima da média.
Recebo com frequência assombrosa dois tipos de emails: o primeiro é o do sujeito que está compradaço em bolsa e quer vender tudo; o segundo é daquele que está completamente fora do mercado e quer saber se agora é a hora de entrar.
Imagino-os vizinhos, em uma bucólica manhã de sábado de primavera em um subúrbio de Lake Wobegon, aparando seus gramados com mini-tratores e saudando um ao outro por cima da cerca viva que delimita seus terrenos.
Esses intrépidos investidores acreditam piamente serem acima da média, capazes de prever com precisão cirurgica quando é a hora de sair e entrar no mercado.
Enquanto isso, no Itaim...
Da bucólica paisagem do interior de Minnesota, viajamos rapidamente para o Itaim Bibi, onde temos uma das maiores concentrações de investidores profissionais por metro quadrado do país - ou será que o Leblon já passou?
Devo ter mais bolsa ou menos bolsa? Mais prés e menos indexados ou o contrário? Que tamanho deve ser minha aposta de dólar contra euro? Essa posição em ouro é suficiente para mitigar o risco de bolsa caso tudo dê errado?
É muito, muito difícil encontrar um gestor que esteja zerado em qualquer uma das principais classes ou subclasses de ativos. "Over" (quanto?), "under" (quanto?) ou "em linha" são as alternativas sobre a mesa.
Fosse possível prever o futuro com exatidão, investir seria como nos filmes: uma sucessão de trades vitoriosos e ininterruptos ao longo dos quais ninguém pisca, e que culminam com uma trilha sonora de vitória enquanto o valente gladiador digital das bolsas deixa o escritório sob aplausos.
O ponto é: se sequer os melhores gestores do país trabalham dessa forma, deve haver algo de errado com essa idealização.
Buscando respostas no mundo real
Se realizassem blitze policiais no entorno de centros financeiros, a verificação do estado do motorista não deveria se restringir ao bafômetro.
"Quantas horas o senhor passou em frente a um terminal Bloomberg hoje?" deveria ser pergunta obrigatória: pouca coisa é tão idiotizante do que acompanhar cada tick do mercado.
Ao longo das últimas semanas, grande parte do nosso time gastou mais tempo em contato com o mundo real do que com o microcosmo do mercado financeiro. Passar um tempo fora do escritório é não somente libertador, mas essencial para desafiar convicções.
Tem me chamado especial atenção o tom morno com que as empresas se referem ao ano de 2017. Isso contrasta com o otimismo implícito nos valuations de diversos setores importantes da bolsa.
Haveria espaço para uma correção a partir de um realinhamento de expectativas? As chances me parecem grandes.
"Isso significa que eu devo vender minhas posições de bolsa, esperar cair e depois entrar de novo?"
Se você mora em Lake Wobegon, pode tentar adivinhar a hora de sair e a hora de voltar. Eu, que não tenho esse dom, prefiro assumir minha ignorância e tentar me sair bem avaliando o tamanho da minha exposição às diferentes classes de ativos.
Alegria, alegria
Dia de bom humor lá fora dos dois lados do Atlântico. Do lado de cá, resultados corporativos favoráveis e a percepção de que a economia americana está em ritmo suficiente para comportar alta gradual de juros dão o tom.
No Velho Continente, bolsas sobem na esteira de melhor performance de commodities e em meio a apostas de que, ao contrário das recentes sinalizações, programa de recompra de títulos do Banco Central Europeu será postergado.
Por aqui, reflete-se o otimismo internacional. Todos os olhos estão na reunião do Copom de amanhã, com mercado dividido entre um corte de 25 ou 50 pontos-base.
Liberdade funciona
A defesa das liberdades individuais e econômicas está no DNA da Empiricus. Por extensão, divulgamos com alegria que o corre no próximo domingo (22/10) em São Paulo, o Terceiro Fórum Liberdade e Democraciam promovido pelos nossos amigos do IFL.
Dentre os participantes estão o procurador Deltan Dallagnol, que será homenageado pelo trabalho conduzido no âmbito da Operação Lava Jato, e o ativista libertário Vit Jedlicka.
Imperdível para todos que, como nós, rejeitamos governos balofos e arbitrários. E para os que os cultuam também - sempre é tempo de abrir os olhos.