As ações petrolíferas parecem ter sido uma das primeiras vítimas da nova variante da Covid. Os investidores castigaram os papéis das maiores produtoras de petróleo do planeta, na sexta-feira, depois de notícias de que a Organização Mundial da Saúde havia declarado que a ômicron, descoberta pela primeira vez na África do Sul, era uma “variante de preocupação”.
O ETF Vanguard Energy Index Fund (NYSE:VDE), em cuja carteira estão nomes como Exxon (NYSE:XOM) (SA:EXXO34) e Chevron (NYSE:CVX) (SA:CHVX34), caiu 5% na sexta-feira, diante da especulação de que a disseminação da ômicron poderia desacelerar a retomada da economia mundial, reduzindo a demanda por produtos de energia.
Antes desse novo evento relacionado à pandemia, as ações petrolíferas estavam voando alto. O VDE acumula alta de mais de 50% até agora no ano, entregando mais do que o dobro dos ganhos dos S&P 500, com os preços do barril de petróleo superando a marca de US$80 em outubro, pela primeira vez desde 2014. Essa valorização se deve ao fato de que a demanda global de energia voltou com mais força do que se previa, e a produção mundial de petróleo, ainda que em ascensão, não está conseguindo fazer frente ao consumo desenfreado.
Mas a nova cepa do vírus, caso fique comprovado que é mais letal do que as anteriores, pode fragilizar essa recuperação, forçando as empresas a preservar caixa novamente. O petróleo tipo Brent, que serve de referência para mais da metade do óleo bruto produzido hoje no mundo, caiu quase 12% na sexta-feira por causa de preocupações de que a ômicron pudesse forçar os países a impor novos lockdowns e restringir as viagens aéreas.
Israel proibiu a entrada de estrangeiros no país, depois de registrar seus primeiros casos dessa variante, segundo reportagem do Wall Street Journal. Austrália, Holanda e Áustria se juntaram ao grupo de países que detectaram a cepa, formado por Reino Unido, Alemanha, Bélgica, Israel e Itália, sob a alegação de que há maior risco que de as pessoas sejam reinfectadas pela Covid-19, dado o caráter mais transmissível dessa nova variante.
Subinvestimento estrutural; preços mais elevados por mais tempo
Encaramos essa recente queda e possíveis desvalorizações nos próximos dias como uma oportunidade de compra para investidores do setor de energia. Com vírus ou sem vírus, a equação de oferta-demanda nos mercados de energia está mudando, pois os maiores produtores não estão interessados em investir e perfurar mais.
A nova dinâmica para essas empresas, criada pela mudança climática e acelerada pela pandemia, decorre da maior pressão dos acionistas para limitar seus gastos e aumentar o retorno de caixa, o que está causando um subinvestimento estrutural em novas produções, capaz de manter os preços do petróleo mais altos por mais tempo.
Jeff Currie, diretor de pesquisa em commodities do Goldman Sachs Group, disse à Bloomberg, em entrevista recente, que faz sentido para os investidores continuarem comprados no petróleo, dado o atual ambiente. “Meu conselho aos clientes que continuar comprados no petróleo até que saibamos onde está o preço de equilíbrio” capaz incentivar novas ofertas, ressaltou, dizendo ainda:
“Sabemos que está acima desses níveis, porque não tivemos uma alta muito acentuada no dispêndio de capital e no investimento”.
Entre os bancos que veem preços mais altos por mais tempo, o Goldman considera que o barril ficar em média a US$85 em 2023. O Morgan Stanley (NYSE:MS) elevou em US$10 sua previsão de cotação do barril de petróleo para o longo prazo, enquanto o BNP Paribas (PA:BNPP) considera que os preços serão de quase US$80 em média em 2023, segundo a reportagem.
Os últimos balanços de algumas das maiores produtoras de energia do mundo validam essa visão. A Chevron, que gerou seu maior fluxo de caixa livre em seus 142 anos de história no terceiro trimestre, disse aos investidores que pretende manter as despesas de capital 20% abaixo dos níveis pré-Covid no ano que vem, a fim de aumentar o volume de recompras de ações. O mesmo se aplica à Exxon, que elevou seu dividendo trimestral no mês passado, prometendo manter a disciplina em seus gastos.
Conclusão
Diante dessa equação favorável de oferta-demanda, faz sentido alocar pelo menos uma pequena parte da sua carteira em ações de energia, em especial naqueles papéis que estão retornando mais caixa aos investidores na forma de dividendos. O atual recuo pode oferecer essa janela para investidores que aguardam de fora uma oportunidade.