Um conselho que busco fornecer a quem segue a estratégia de investimentos de longo prazo é não olhar o gráfico de preço de suas ações. Segundo o legendário John Bogle, eles são apenas “uma grande distração para os investimentos”.
O sucesso no longo prazo é derivado da performance da empresa neste período. Tomar decisões de investimento para os próximos anos pelo simples fato das ações estarem em sua máxima ou mínima histórica não é uma decisão inteligente, pois o que define valor são os fluxos de caixa, crescimento e risco.
Note que meu conselho é destinado apenas aos investidores de longo prazo. No mercado financeiro, existem diversas estratégias de investimentos que podem ser bem-sucedidas, como a própria análise gráfica para o curto prazo. Por mais que eu não a utilize, tenho de respeitá-la.
O problema de basear sua decisão unicamente no gráfico de preços são os vieses existentes neste processo. Não é porque uma empresa está na sua mínima histórica que ela está barata, e o mesmo vale para o inverso.
Eu já deixei de comprar diversas empresas que “não paravam de subir” ou quando parecia ser “tarde demais” para formar uma posição. Também já realizei investimentos em empresas que caíram muito mais do que o meu preço médio. Em todos esses casos, foi porque coloquei muito mais importância no gráfico do que deveria, mesmo que (e principalmente) inconscientemente.
Um de meus investidores favoritos, Terry Smith, afirma que não olha para um gráfico de ações faz anos. Isso requer uma disciplina absurda, mas creio que o investidor que consiga segurar sua curiosidade será recompensado por isso.
Tenho que admitir que não consigo adotar esse método 100%. O que busco fazer é olhar apenas para o gráfico de preço depois que já estipulei um valor para a empresa. Vale lembrar que preço é o que está na tela, e valor é o que levamos. Dessa forma, tomo apenas a decisão se constatar que existe uma confortável margem de segurança entre esses dois conceitos.
É importante ressaltar que o mercado é eficiente no longo prazo, sendo assim, as cotações irão se convergir ao valor intrínseco do ativo, até porque, caso o contrário, não faria sentido investir. No entanto, isso no curto prazo não é verdade, e o preço das ações sobem e descem pelos mais curiosos motivos.
Sendo assim, meu conselho para os investidores é: estude a empresa. Seu modelo de negócio, sua estratégia, suas vantagens competitivas, competição e os riscos estruturais que enfrenta. Depois, realize um pequeno valuation. Não precise ser nada complexo, quanto menos premissas, melhor. Escolha algo entre três e cinco key value drivers, e foque seus esforços na projeção desses.
Somente quando terminar de estipular um valor para a empresa, olhe a cotação do gráfico. Se você encontrou um desconto de, digamos, 15%, realize a compra. Caso contrário, o melhor é esperar e partir para outro ativo.