Muitas pessoas não compreendem com clareza a diferença entre investimento e especulação. O debate acerca deste assunto é extenso e muitos indivíduos defendem pontos de vista distintos. Particularmente, acredito que investidores são aqueles que adquirem ativos com valor intrínseco. Vou explorar melhor esse raciocínio no texto a seguir.
Segundo o livro Value: The Four Cornerstones of Corporate Finance, ativos com valor intrínseco são aqueles que geram fluxo de caixa e lucro recorrentes. Deste modo, ativos financeiros, como ações e títulos de dívida, possuem valor intrínseco.
Alguns ativos não financeiros que são comercializados, como artes e carros de luxo, não geram fluxos de caixa e, por definição, não possuem valor intrínseco. Seu valor é exclusivamente dependente da interação entre compradores e vendedores.
Quando um indivíduo adquire uma obra de arte na expectativa de vendê-la posteriormente, ele acredita que no futuro existirão compradores dispostos a pagar um preço maior pelo produto, portanto, este indivíduo está especulando. A decisão de compra e venda de um especulador se baseia em sua crença de que o preço do ativo vai subir ou descer, respectivamente.
John Kenneth Galbraith, economista, filósofo e escritor americano, disse certa vez que “existem dois tipos de pessoas que preveem o futuro: aqueles que não sabem o futuro e aqueles que não sabem que não sabem o futuro”. Concordo plenamente com o pensamento de Galbraith e, portanto, sou investidor e não especulador.
Investidores adquirem ativos com valor intrínseco e, segundo um de meus livros favoritos, Margin of Safety: Risk Averse Value Investing Strategies for the Thoughtful Investor, o investidor busca lucrar em pelo menos uma das três maneiras possíveis: através dos fluxos de caixa gerados pelo empreendimento, que eventualmente refletirão no preço da ação ou serão distribuídos como dividendos; por um crescimento dos múltiplos de mercado, que refletem um preço maior que os compradores estão dispostos a pagar pelo negócio; ou por uma redução do desconto da cotação do ativo em relação ao seu valor intrínseco.
A última forma de lucrar com um investimento parte da premissa que o investidor adquire ativos com preço menor do que seu valor intrínseco. Para explicar esse ponto, nada melhor do que citar o Guru de Omaha. Warren Buffett diz que você deve “estar certo de que está comprando um negócio por muito menos do que você acredita que ele vale, sendo conservador.”.
Esta diferença entre o preço e o valor intrínseco garante uma margem de segurança ao investidor. Benjamin Graham, um dos pioneiros no investimento de valor, afirma que “quanto maior o desconto em relação ao valor intrínseco, menor o risco. Quanto maior o desconto em relação ao valor intrínseco, maior o retorno.”.
Assim, fica claro que investidores e especuladores são atores do mercado com processo de decisão e expectativas bastante distintas. Enquanto o especulador compra um ativo esperando que o preço suba, o investidor busca adquirir um ativo subprecificado na expectativa de que os fluxos de caixa gerados pelo mesmo remunerem o investidor em patamar satisfatório segundo o risco inerente ao investimento.
Seth Klarman conclui com maestria a diferença entre investidores e especuladores. O bilionário afirma que “investidores têm uma chance razoável de alcançar sucesso em seus investimentos no longo prazo; especuladores, por outro lado, provavelmente perderão dinheiro com o tempo”.