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O Que Você Precisa Saber Antes de Investir no Setor de Robótica

Publicado 30.04.2020, 17:49
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O ano é 2035 e os robôs estão por todos os lados, servindo os seres humanos e os auxiliando nas mais diferentes tarefas, desde robôs que trabalham como empregadas domésticas até sistemas que controlam todo o tráfego de maneira autônoma.

Nesse cenário, Dr. Spooner, interpretado por Will Smith, é o responsável pela investigação da morte do seu velho amigo Dr. Alfred. Todos acreditam que tenha sido suicídio, mas Spooner acredita que Lanning tenha sido assassinado por um robô chamado Sonny, fabricado pela US Robotics.

A partir daí, o que parecia ser um universo utópico se revela uma distopia, onde robôs tornam-se conscientes e buscam o controlar a humanidade. O filme Eu, Robô baseado no livro homônimo de Isaac Asimov, é intrigante e faz refletir sobre como seria a realidade caso robôs fizessem parte da nossa rotina. Apesar do enredo trágico, esta realidade está cada vez mais próxima.

A robótica e o uso crescente da automação representam uma das vias mais emocionantes de investimento para os compradores de ações nas próximas décadas, espero que não tão emocionante como o duelo entre Spooner e Sonny.

Uma visão geral do setor

O setor de robótica pode ser dividido em basicamente 3 principais segmentos

1) Empresa focadas em desenvolvimento de robôs para serem implementados em linha de produção, além de controle automatizado de matérias primas (pense em refino de petróleo e gás ou processamento de produtos químicos)

Nesse setor se destacam a Japonesa Fanuc (T:6954), especializada na construção de robôs industriais, comumente utilizados na indústria automobilística e a alemã Siemens, atuando no desenvolvimento de saúde, energia e transporte.

2) Empresas menores e focadas em soluções especificas como sensores digitais, sistemas de visão, sensores de controle de movimento e compactação de imagem.

Boring, mas importante. Pense que parte importante da evolução da robótica está na capacidade desses robôs se “comportarem” como seres humanos, e parte disso é ser capaz de ver e definir melhor as imagens para monitorar e controlar processos automatizados.

Nesse segmento se destaca a Cognex’s (NASDAQ:CGNX)(CGNX), desenvolvendo, por exemplo, soluções para orientar e monitorar robôs em uma linha de produção de automóveis. Também desenvolve soluções para ajudar os fabricantes de smartphones a alinhar com precisão a fabricação de telas. Advinha quem é o maior cliente desta empresa? Uma tal de Apple (NASDAQ:AAPL). Rs

3) Soluções Criativas

Esse segmento busca desenvolver soluções que vão desde produtos para uso doméstico, tais como cortadores de grama e aspiradores de pó autônomos, até equipamentos voltados para cirurgias complexas.

A iRobot (NASDAQ:IRBT) (IRBT) desenvolve soluções domésticas como o iRobot Braava, que limpa o chão e passa o pano de maneira autônoma e, do outro lado, temos a Intuitive Surgical (ISRG), com o revolucionário sistema de cirurgia Vinci.

Agricultura? A Deere (NYSE:DE) desenvolve sistemas para que os agricultores guiem seus equipamentos digitalmente.

Logística? Em 2019, a Amazon (NASDAQ:AMZN) comprou a Canvas Technology, uma start-up que constrói carros autônomos para armazéns. Além de ter incorporado em 2012 a Kiva Systems (Amazon Robotics) focada em automatização de armazenamento.

Enfim, aqui as possibilidades são infindáveis e a criatividade é o guia do investidor.

3 Coisas para saber antes de se investir em robôs

O setor possui uma forte tese secular, ou seja, é uma tendência natural que mais empresas busquem melhorar sua eficiência operacional como forma de se tornar mais competitiva. Uma das maneiras de se fazer isso é automatizando sistemas produtivos através de implantação de robôs que têm um custo menor do que a mão-de-obra humana.

Apesar disso, antes de investir em empresas fabricantes de robôs é necessário levar 3 coisas em consideração.

  • A tendência é clara, o percurso nem tanto.

Primeiramente, a performance deste setor é correlacionada com a performance do setor industrial, ou seja, se a economia está indo bem e a atividade industrial está em expansão, buscando melhorar a eficiência de suas plantas através de novas tecnologias, o setor de robótica será diretamente beneficiado.

Caso haja uma retração na demanda e as empresas diminuam os investimentos em novos sistemas e equipamentos o setor terá sua performance diretamente impactada. Portanto, mesmo que a tendência de crescimento no longo prazo seja clara, assim como o aumento da importância do setor na cadeia produtiva, a performance do mesmo no curto prazo estará diretamente ligada à atividade econômica, acompanhando seus altos e baixos.

Para clarificar esse ponto vejamos o histórico das vendas da empresa de automação industrial Rockwell Automation (NYSE:ROK) no período 2014-2019. Como você pode ver no gráfico abaixo, houve retração nas vendas no período 2015-2016 devido queda na demanda de petróleo e gás, atividade de mineradoras e indústrias pesadas.

As vendas se recuperaram nos anos seguintes, recuando recentemente devido a uma combinação entre a desaceleração da economia mundial, fraqueza cíclica específica entre empresas automotivas e de semicondutores e da incerteza acerca do conflito comercial entre EUA e China.

Vendas anuais Rockwell

  • Ásia é o motor no curto prazo

Outro ponto importante para se levar em consideração ao investir no setor, é a importância da Ásia, em especial a China, uma grande potência industrial.

A Federação Internacional de Robótica (IFR) projeta que o suprimento de robôs quadruplique de 2012 a 2022.

Fonte: Federação Internacional de Robótica (IFR)

Em um primeiro momento podemos imaginar os EUA como grande player e consumidor do setor, mas a China sozinha é responsável por 37% de todos os pedidos, enquanto a Ásia, incluindo o Japão é responsável por mais 33%, então temos a União Europa com 18% e só então temos os Estados Unidos com 12%.

A perspectiva é que a demanda continue crescente na China, visto que o número de robôs por empregado continua abaixo dos países referência em termos de industrialização. Ou seja, a economia chinesa é e continuará sendo determinante para a performance do setor no curto/médio prazo.

Fonte: Federação Internacional de Robótica (IFR)

Importante notar que o média mundial fica muito aquém da média dos países industrializados, o que permite que outros países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, cresçam em relevância no setor no médio/longo prazo, dependendo de como as economias desses países serão direcionadas.

  • Correlação com setores específicos.

O terceiro ponto de atenção é a dependência do setor de Elétrico/Eletrônicos e Automotivos.

Fonte: Federação Internacional de Robótica (IFR)

Como é possível ver acima, o setor de Elétricos e Eletrônicos, combinado com o setor automotivo, representa mais de 60% da demanda por robôs. Dessa forma os potenciais investidores devem estar preparados para a volatilidade, devido à sua dependência da produção automotiva e do setor elétrico / eletrônico.

De forma resumida, o setor de robótica e automação é uma tese secular, com comportamento cíclico, que possui uma forte correlação com setor industrial como um todo e tem na China um importante player.

Como investir nesse setor?

A Zion Market Research projeta que o mercado global de robótica industrial chegará a US$ 62 bilhões de receita até 2024, quase o dobro dos US$ 33 bilhões em 2017, o que implicaria em um crescimento anual de 9,4% aproximadamente, número esse bem superior ao crescimento de PIB do mundo, evidenciando que esse setor tende a crescer mais que a média do mundo.

Embora os robôs estejam cada vez mais presentes em locais como fábricas, eles ainda não atingiram o mainstream em muitas aplicações de consumo, como carros autônomos. Isso significa que investir na empresa certa, na hora certa, pode trazer bons lucros para um portfólio.

Embora a indústria de robótica como um todo pareça um investimento promissor, a compra de ações em empresas individuais oferece um risco maior. Uma maneira inteligente de se expor à essa tese é através de ETF. O Robo Global Robotics and Automation Index ETF (NYSE:ROBO) te permite se expor à aproximadamente 90 empresas do setor de Robótica, Automação e Inteligência Artificial presentes em mais de 14 países.

Abaixo, temos a distribuição da carteira do ETF por setor, sendo Industria, Computação, Inteligência Artificial e Saúde os mais representativos.

Fonte: roboglobaletfs

Bem interessante a divisão do ETF entre Large, Mid e Small caps, permitindo capturar a performance tanto das empresas consolidadas quanto das pequenas empresas que podem despontar nos próximos anos.

Fonte: roboglobaletfs

Abaixo, você confere as principais posições do fundo. IRobot (IRBT), NVIDIA (NASDAQ:NVDA) e Harmonic Drive (T:6324) são as três maiores posições do fundo. A carteira é bastante pulverizada com as 10 maiores companhias representando 17,36% do patrimônio do fundo. Essa diversificação permite que o investidor fique realmente posicionado na tese setorial sem estar concentrado em um case específico.

Fonte: roboglobaletfs

Desde sua criação, o ETF apresentou um retorno médio de 5% ao ano, sendo que nos últimos 12 meses caiu aproximadamente 13% – abaixo o gráfico de performance do ETF.

Fonte: Roboglobaletfs

Apesar das suas características, o fundo apresenta uma volatilidade (Beta: 0,72) menor que o S&P (Beta:1,00) e negocia à um múltiplo P/L de 21,90x, sendo que negociava à um P/L de 31x antes da crise do COVID-19.

Vale a Pena investir em robôs?

Gosto de call seculares como um todo e esse é um dos pilares de investimento no setor de robótica. É muito claro que a busca por maior eficiência produtiva e melhoria de qualidade de vida se dará através de implementação de tecnologias que permitam que as empresas aumentem suas margens, melhorem sua capacidade produtiva e que as pessoas possam ter mais tempo livre para fazer aquilo que realmente gostam. Ter um robô para limpar a casa e lavar seus pratos pode ajudar muito nisso.

Apesar disso, o setor apresenta um comportamento cíclico no curto prazo, e como em qualquer setor cíclico, existe a necessidade de entender em que momento do ciclo nos encontramos para então tomar a decisão de se expor. A correção recente do mercado abriu uma oportunidade para comprar um setor que negociava à múltiplos caros que passou a negociar à múltiplos em linha com o próprio índice S&P.

Acredito que o call secular do setor se sobrepõe a sua ciclicidade para o investidor que pensa no longo prazo. Olho para os anos 90~00 e vejo um mundo totalmente diferente do que temos hoje e sabe-se lá como estaremos em 2040, visto que as inovações tecnológicas vêm ocorrendo cada mais mais rapidamente.

Portanto, em minha opinião, faz sim sentido alocar parte marginal de uma carteira de ações em uma tese de longo prazo ciente da volatilidade que terá pelo caminho.

Escolher quem será o grande vencedor é uma tarefa difícil, mas que pode permitir a multiplicação de patrimônio de maneira extraordinária. Para aqueles que se satisfazem tão somente com a exposição setorial o ETF é uma excelente alternativa. Pro investidor disposto a encontrar a próxima Apple, no próximo post entrarei mais à fundo nas empresas que vêm chamando a atenção no setor.

Abraço!

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