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Legado de Mario Draghi no BCE: Fazer o Necessário e Nunca Desistir

Publicado 29.10.2019, 09:59
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Se a saída de Mario Draghi da presidência do Banco Central Europeu (BCE) não causou grande alvoroço, tampouco podemos dizer que passou despercebida. Mesmo com a imprensa dissecando sua agressiva política monetária em sua última coletiva de imprensa na quinta-feira passada – principalmente sua introdução da flexibilização quantitativa e dos juros negativos na caixa de ferramentas do banco central –, ele defendeu com unhas e dentes as políticas do banco, inclusive as medidas acomodatícias decididas em setembro.

Na coletiva de imprensa da semana passada, Draghi procurou justificar as controversas medidas de setembro. “Infelizmente, tudo o que aconteceu em setembro desde as nossas decisões de política monetária mostrou de forma clara que a determinação do conselho dirigente em agir com vigor foi justificada”, declarou o presidente ao responder uma pergunta.

Draghi foi hábil em se esquivar de questões a respeito das críticas da Alemanha, da desunião no conselho dirigente, da sua possível candidatura à presidência da Itália e de seus planos para depois do BCE. Após oito anos no exercício de um cargo aparentemente impossível em determinados momentos, ele reconheceu o que considera ser seu legado na instituição: “Nunca desista".

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O que muitos não conseguem esquecer é o fato de que o euro provavelmente não existiria hoje se não fosse sua declaração, em 2012, de que o BCE faria o que fosse necessário para preservar a moeda única da União Europeia (UE).

Tampouco se esquecem de que a Europa certamente estaria mergulhada em uma recessão neste momento se o ex-presidente da Banca d'Italia não tivesse resistido ao presidente do Bundesbank, Jens Weidmann, e a outros personagens linhas-duras do norte da Europa que queriam uma política de aperto monetário.

Talvez isso fosse melhor no longo prazo, argumentam alguns. A ideia seria tomar o remédio e aguardar a convalescença, em vez de simplesmente postergar o inevitável com táticas que poderiam ter efeitos colaterais imprevisíveis.

No entanto, com sua política monetária, Draghi estava simplesmente seguindo o exemplo de Ben Bernanke à frente do Federal Reserve (Fed), embora o banco central dos EUA não tenha achado necessário adotar taxas de juros negativas. O que ele não conseguiu fazer com a política fiscal fragmentada da UE, ao contrário dos EUA, foi contar com o apoio dos gastos governamentais para acomodar o estímulo monetário.

Mas o pior foi o impacto da moeda única em si, desequilibrando o balanço de pagamentos entre os membros da UE, ao dar suporte à economia mais forte do bloco, a Alemanha, ao mesmo tempo em que punia de forma implacável as economias mais fracas da Grécia, Espanha, Portugal e Itália.

A Alemanha, que tirou proveito de uma moeda artificialmente depreciada, navegou por águas tranquilas com superávits em conta corrente e baixo desemprego, enquanto os países do sul se defrontavam com enormes dívidas, desemprego astronômico, protestos nas ruas e uma amarga “desvalorização interna” dos salários e pensões já reduzidos.

Mas esse não era um problema que Draghi poderia resolver. Europeu comprometido, ele fez o que pôde para salvar o que a história eventualmente classificará como um experimento fracassado de moeda única. Os problemas que assolam a Europa neste momento não podem ser atribuídos a ele, apesar das lamentações da Alemanha quanto aos efeitos a longo prazo dos juros negativos e das aquisições de títulos pelo banco central.

Não foi Draghi quem explorou as anomalias da moeda conjunta em favor da Alemanha, mas a chanceler alemã Angela Merkel, que constantemente privilegiava os eleitores alemães e insistia em dobrar os países do sul a seu bel-prazer, independente dos custos a seus cidadãos.

Merkel começou a perceber seu erro e ofereceu uma espécie de ramo de oliveira com a nomeação de Isabel Schnabel, economista da Universidade de Bonn, ao conselho executivo do BCE, em vez de outro ideólogo do Bundesbank. Schnabel, que tem uma visão menos dogmática da política monetária, teve sensibilidade ao observar que não se pode esperar um bom funcionamento da Europa se a UE e o BCE continuarem sendo feitos de bodes expiatórios para todas as enfermidades.

Mas provavelmente já é tarde demais. A divisão entre norte e sul presente na estrutura mesma do euro se ampliou e provavelmente é insanável. Quem sabe a sucessora de Draghi, Christine Lagarde, realmente disponha das habilidades diplomáticas que lhe atribuem. Se esse for o caso, ela conseguirá reconciliar as divisões na Europa.

Entretanto, seu mandato no Fundo Monetário Internacional foi marcado por muitas controvérsias. A agência de crédito internacional violou diversas regras para amenizar a crise do euro.

E é irônico que o Parlamento Europeu tenha rejeitado a vice-governadora do Banque de France, Sylvie Goulard, para integrar a nova Comissão Europeia por causa do fato insignificante de ter um colaborador da UE trabalhando em política interna, ao mesmo tempo em que ignorou a censura judicial muito mais grave a Lagarde pelos milhões que os contribuintes franceses perderam no caso Bernard Tapie.

Mas o que tudo isso nos diz sobre o futuro da política monetária do BCE? Primeiro, a política monetária não é a raiz dos problemas da UE, e nada do que Lagarde fizer poderá resolvê-los.

Segundo, o Brexit tem muito mais a dizer sobre o futuro da Europa do que o BCE. O fato de os britânicos terem votado pela saída do bloco, de a UE ter dificultado ao máximo essa saída e de o Reino Unido ser capaz de sobreviver com ou sem um acordo de transição deve servir de lição para qualquer país que achar que não há alternativas à burocracia centralizadora de Bruxelas.

Terceiro, a própria divisão existente no BCE – principalmente por causa da insistência da Alemanha de fazer as coisas à sua maneira – continua impedindo a união dos bancos, dos mercados de capitais e do orçamento da UE, além de inviabilizar todos os outros fatores que fazem com que os EUA sejam muito mais bem-sucedidos economicamente do que a mal concebida União Europeia.

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