Uma combinação de vários fatores foi a responsável pela pequena melhora nos preços do açúcar no mercado futuro de NY. Uma recuperação tímida – diga-se – muito longe ainda de trazer uma reversão de tendência ou mesmo animar as usinas. Temos que manter o foco e não perder oportunidades.
Foi fácil perceber no mercado futuro uma aceleração por parte das usinas nas fixações de preço de seus contratos comerciais de açúcar. Em várias sessões o mercado assistiu a uma pressão vendedora que aumentava e se consolidava quando o pregão se aproximava do fechamento. Isso ocorreu por vários dias, indicando ser fixação de preços provavelmente combinadas com vantajosas operações de NDF (contrato a termo de dólar com liquidação financeira) ao longo do dia, quando o real tinha picos de desvalorização.
As notícias sobre seca preocupam. Vai se tornando consenso, em especial em São Paulo e em Minas Gerais, que a safra de cana está prejudicada. Nossa estimativa, publicada na semana passada, é de 563 milhões de toneladas de cana. Durante a semana, outras estimativas com a mesma credibilidade foram anunciadas e estão próximas desse número. Algumas empresas, no entanto, trabalham internamente com um número mais reduzido, aguardando a confirmação de suas respectivas áreas agrícolas.
Os fundos reduziram suas posições vendidas em 45.000 lotes, enquanto produtores certamente adicionaram mais vendas ao longo da tela e, sem surpresa, apontam seus lápis para começar a fixar alguma coisa também para 2019/2020, muito embora se acredite que a redução de cana nesta safra irá se repetir no próximo ano, enxugando ainda mais a disponibilidade de açúcar por parte do Brasil.
A greve dos caminhoneiros acendeu o sinal de alerta, mas parece que a situação está se resolvendo neste final de semana e deverá ser assunto velho quando NY reabrir na terça-feira. Em termos de desconto FOB, não houve nenhuma mudança em função da greve. Muitas usinas correm o risco de suspender as operações for falta de diesel. São poucas as usinas que ainda possuem combustível para operar a semana que vem. Se a greve continuar, NY pode testar novas altas recentes. Por outro lado, o que preocupa, ou pelo menos, tira o pé do acelerador da recuperação de preços, é a queda de 4.5% do mercado de petróleo nesta sexta-feira.
O governo Temer mostrou incrível inépcia ao negociar com os grevistas e aceitar a diminuição temporária do preço do diesel, mais um subsídio no lombo do contribuinte. O que a população brasileira não entende é que os impostos e as margens de revenda perfazem quase 60% do valor que é negociado na bomba.
Um cisne negro ronda o mercado de açúcar: se por ventura o presidente da Petrobras (SA:PETR4) resolver deixar o cargo por não concordar com eventual ingerência do governo sobre a formação de preço dos combustíveis, corremos o risco de ver novamente a Petrobras cair na mão de amadores (para dizer o mínimo) e, sabe-se lá, voltar àquele regime socialista de preços que sangraram a estatal brasileira e feriram o setor sucroalcooleiro. Nunca é demais lembrar a impiedosa frase do economista, diplomata e ministro Roberto Campos, “a burrice no Brasil tem um passado glorioso e um futuro promissor”.