Não vai dar em nada, é?
Uma retrospectiva
Junho de 2013. As cenas do Congresso Nacional sitiado, de manifestantes investidos contra o Itamaraty e da Assembléia Legislativa do Rio sendo invadida ainda estão impregnadas na minha mente. Achei que era ali o ponto de ruptura. Quase me desesperei e achei que era o fim. Foi por um triz.
Julho de 2014. O Felipe escreveu O Fim do Brasil.
Agi: abri uma conta no exterior e protegi uma parte substancial do meu patrimônio — tanto de uma possível desvalorização do real quanto, principalmente, de um eventual rompante de loucura dos governantes da vez. Temi, e muito, a reeleição da Dilma, mas me preparei. Com o resultado, me preparei para o pior.
Novembro de 2015. Era meu terceiro dia acampado em frente ao Congresso quando tentei tomar banho (o primeiro desde minha chegada) em um dos ministérios, à noitinha. O encarregado, que se apresentou como membro da CUT, assentiu que eu usasse o vestiário depois de eu lhe dar algumas dicas de investimento (pelo jeito alguém estava ganhando dinheiro com aquilo tudo…). “Você me parece um rapaz sensato”, me disse ele. “Deveria saber que isso tudo que vocês estão fazendo não vai dar em nada.” Ah, é?
Ainda que estivesse em outro lugar, meu drama pessoal se entrelaça com o vivido pelo Felipe, pelo Rodolfo e por milhões de brasileiros que temeram, de verdade, pelos rumos que o país estava tomando. O Brasil morreu e vivemos o luto, cada qual à sua maneira. Era nossa noite mais escura e mais fria.
Eis que enxergamos os primeiros sinais da alvorada. Vimos o Brasil acabar, e apostamos no recomeço. Anunciamos a boa nova: a reconstrução do Brasil está em curso e é nosso dever garantir que você, nosso leitor, participe dela. É hora do Contragolpe.
Até o PT votaria pelo impeachment…
…se o voto fosse secreto. As palavras não são minhas, mas do Cristovam Buarque (se quiser chamá-lo de golpista, mande um e-mail para ele).
Não sou grande fã do sujeito, mas sou obrigado a concordar: a essa altura, o próprio PT já sabe que a sobrevivência de seu projeto — e aqui há uma distinção intencional entre projeto e partido — depende de se desvincular de Dilma. Quanto antes sepultarem-na, mais cedo podem começar um processo interno de reinvenção: “[O PT] vai jogar a culpa de tudo que fez de errado nos ombros do Temer (…). Aí vão para a oposição, onde ficam em uma posição cômoda”, antevê Buarque. Nisso, concordamos.
Não tardará (e lembrem-se de mim quando isso acontecer) para que alguém se refira ao governo Rousseff como uma guinada acidental à direita. O expediente já é velho: Mino Carta, que teve a coragem de dizer que Stalin era de direita, que o diga.
Mas não importa: façam o showzinho que fizerem, o relatório passará. Até a Bancada da Chupeta sabe disso.
Um gesto grande demais
Na Câmara, foco do dia é a limitação dos gastos dos Estados. Tema extremamente indigesto para os parlamentares, por vezes mais preocupados com seus respectivos eleitorados do que com o Estado.
Seria maravilhoso se o Governo obtivesse sucesso agora mesmo na imposição de tetos estaduais, e se ocorresse um pacto em torno do congelamento dos aumentos reais aos servidores. Desculpem-me, mas simplesmente não há dinheiro. Seria um gesto de enorme responsabilidade, que inclusive reduziria a pressão exercida sobre os respectivos governos estaduais — “sinto muito, veio lá de cima”, muitos governadores poderiam dizer.
Não estou otimista. Acho que é querer demais de nosso Legislativo. De qualquer forma, acompanhemos.
…e por falar em gesto...
…foi notável a declaração de Marcos Pereira, ministro do MDIC. Elevou o tom ao dizer que, se reformas não forem aprovadas, sai do governo. “[Se não fizermos nada] o povo volta para as ruas”, asseverou.
O ministro é advogado de carreira, mas poderia perfeitamente ser ator. Me emocionei.
Quanto ao povo voltar para a rua, estou descrente. Com o impeachment, grande parte da força se dissipou. Interesses difusos das lideranças de movimentos de rua também colaboraram.
De qualquer forma, é um bom blefe.
Enquanto isso, lá fora...
Mercados predominantemente para cima, ainda na toada de que bancos centrais mundo afora continuarão agindo a fim de manter atividade econômica.
Na China, preços ao produtor apresentaram menor deflação (sim, menor deflação) em vários meses, o que está sendo visto como um aceno de que, mais à frente, Pequim terá novas oportunidades de promover estímulos monetários.
Mais uma dose. E depois outra. E outra. A bebedeira não pára, e investidores mundo afora se previnem da ressaca bebendo um pouco mais.
Vocês já sabem o que eu penso disso.