Publicado originalmente em inglês em 11/05/2021
A imprensa alemã começou a especular, na semana passada, que a fase de juros negativos dos títulos governamentais pode estar chegando ao fim, na medida em que o otimismo com as vacinas e a recuperação econômica estão fazendo com que os investidores vendam esses papéis.
O rendimento do título alemão de 10 anos atingiu a máxima de 12 meses de -0,16%, cerca de 40 pontos-base maior do que os -0,6% do início do ano.
Uma correção do mercado acionário acabou fazendo o rendimento cair para cerca de -0,25% e agora está estabilizado um pouco abaixo de -0,2%.
Mesmo assim, já parece ser uma luz no fim do túnel. Os rendimentos vêm caindo de forma constante desde 2009, quando as notas de 10 anos rendiam 4%, antes de atingirem a mínima de -0,9% em março do ano passado. Já faz dois anos que os rendimentos estão negativos.
A França, por outro lado, emitiu €6,8 bilhões em títulos de 10 anos com rendimento de 0,13%, primeira vez em que o retorno fica positivo em dois anos.
Alguns títulos franceses ficaram positivos no início do ano, mas, nos papéis de 10 anos, isso só aconteceu pela última vez em junho de 2019.
Enquanto os países maiores da UE tentam tirar seus títulos do território negativo, a Grécia, que flertou com a quebradeira há apenas seis anos, está reduzindo a zero o rendimento dos seus papéis. Em uma emissão na semana passada de €3 bilhões em títulos de cinco anos, a demanda foi seis vezes maior do que a oferta, mesmo rendendo 0,2%.
Não é tão difícil entender essa demanda, mesmo com as agências de classificação mantendo os papéis gregos abaixo do nível de investimento e sua dívida total sendo proporcionalmente a mais alta da zona do euro, a mais de 200% do PIB.
Grande parte desse endividamento está nas mãos de entidades do setor público e tem prazo bastante alongado. A emergência do programa de compra de ativos do Banco Central Europeu deve adquirir 12 bilhões de euros em títulos soberanos da Grécia neste ano, que coincide com a quantidade de Atenas deseja tomar emprestada.
A Alemanha está prestes a emitir um título verde de 30 anos, provavelmente nesta terça-feira, e deve atrair uma sólida demanda, já que suas duas primeiras emissões de 10 anos e 5 anos se saíram muito bem. Berlim lastreia seus títulos verdes em títulos convencionais de mesmo vencimento para afastar qualquer preocupação com a liquidez. Mais emissões de títulos verdes estão previstas para setembro e outubro.
Do outro lado do Atlântico, os rendimentos das notas referenciais do Tesouro americano de 10 anos ultrapassaram 1,6% na segunda-feira, após afundarem na sexta com um relatório de empregos bem abaixo do esperado.
Os investidores estão respondendo a uma perspectiva econômica positiva e também estão preocupados com o fato de que o Federal Reserve possa estar otimista demais com a inflação.
As medidas de inflação do mercado aumentaram 5 pb desde a semana passada, com a taxa neutra de 5 anos a 2,73% na segunda-feira, máxima de 10 anos, e a taxa neutra de 10 anos acima de 2,5%. Contudo, alguns analistas estão começando a questionar a confiabilidade dessas medidas, pois elas tomam como base os títulos protegidos contra a inflação, o que pode distorcer a leitura. Eles temem que as expectativas de inflação devessem ser maiores.
Na quarta-feira, serão divulgados os relatórios referentes ao índice de preços ao consumidor e ao índice de preços ao produtor na quinta, que darão mais clareza sobre a trajetória da inflação.
O Tesouro americano está com a agenda cheia de emissões nesta semana, com leilões de US$ 58 bilhões em papéis de 3 anos, na terça-feira, US$41 bilhões em papéis de 10 anos, na quarta, e US$27 bilhões em títulos de 30 anos na quinta. Essa inundação de oferta também pode elevar os rendimentos.