Embora a alta do preço da moeda americana no nosso mercado de câmbio tenha muito a ver com as perspectivas e não ainda com a demanda efetiva que se espera, os fundamentos que lastreiam a visão prospectiva é que fomentam a tendência de alta e nesta semana há no radar inúmeros eventos que podem causar fortes tensões em torno da formação dos preços das moedas emergentes.
À margem desta realidade, causou espécie a afirmação da Presidenta Dilma, em Davos, destacando que o Brasil havia recebido relevante volume de ingressos na semana passada, quando na realidade ocorreu a predominância de alta do preço da moeda americana, que superou R$ 2,43 para fechar a semana em torno do R$ 2,40, ainda em alta na semana.
Quando o BC divulgar os dados do fluxo cambial na próxima quarta-feira saberemos o quão expressivo foram os ingressos mencionados pela Presidenta, e também, neste mesmo dia saberemos se o FED irá precipitar a redução do programa de incentivos monetários em mais US$ 10,0 Bi mensais, além de idêntico montante já deliberado em vigor a partir deste mês, fato que, se confirmado, criará maior desconforto nos países emergentes.
A decisão ou não do FED em agilizar o programa de redução é um ponto de relevância para esta semana, mas consideramos, também, que finda hoje a rolagem por parte do BC do lote de US$ 11,0 BI de contratos de “swaps cambiais”, vincendos em 3 de fevereiro próximo, e com o mercado já em clima de preparação da PTax e influenciado pelas perspectivas, agravadas mais intensamente ou não dependendo da decisão do FED, o preço da moeda americana apresentará forte pressão de alta.
Quarta-feira será, portanto, um dia importante para o mercado de câmbio e a formação do preço da moeda americana.
A Presidenta Dilma envidou esforços para motivar investidores estrangeiros em relação ao Brasil, porém os números da economia brasileira e suas projeções no momento são os grandes opositores à maior atratividade pelo país.
É absolutamente necessário que o governo tenha atitudes, ações na direção da correção dos erros e equívocos, para que possa almejar a recuperação, ainda que gradual, da credibilidade perante aos investidores estrangeiros e a comunidade financeira internacional.
As projeções de “largada do ano” sobre a economia brasileira já começaram muito ruins e tem mostrado tendência a ficarem piores, em especial no setor externo onde a divulgação dos dados fechados do ano passado demonstraram forte deterioração, com o déficit em transações correntes superando as previsões ao atingir US$ 81,4 Bi, algo como 3,66% do PIB e o BC ter revelado projeção para este ano em US$ 78,0 Bi.
A balança comercial tem apresentado semana após semana desempenho ruim. Na semana de 20 a 26 deste mês registrou novo déficit de US$ 1,6 Bi. E, os fluxos de capitais voláteis tem sido desapontadores, a despeito da alta da taxa SELIC.
O Boletim FOCUS elevou outra vez a projeção para o IPCA-2014 colocando-o agora em 6,02%. Em linha de coerência com a previsão de uma inflação maior elevou a projeção para a SELIC de 10,50% para 11,00% e reduziu a projeção para o PIB de 2014 de 2,0% para 1,91%. Demostrou também estar sensível à ideia de que teremos novo e destacado déficit em transações correntes e menor fluxo de IED´s (incluso empréstimos “intercompany”, elevando a projeção do déficit para US$ 73,0 B e reduzindo a para os IED´s para US$ 57,50 Bi, mas mesmo assim são projeções tímidas e que devem sofrer agravamento. Manteve o dólar com previsão de R$ 2,45, extremamente baixa ante o quadro desalentador do setor externo.
Como vimos ressaltando, as projeções do FOCUS ainda nos parecem bastante contidas, se bem que com um viés tendente a ajustes que as conduzirão mais próximos do acerto.
Temos trabalhado com projeções do IPCA-2014 no limite do piso alto da meta, ou seja 6,50% com tendência até do rompimento, que deve ser contida pela alta da SELIC até 11,50%. Nossa projeção para o déficit em transações correntes continua mantida em US$ 80,0 Bi e também vemos uma queda nos IED´s para algo entre US$ 50,0 Bi a US$ 55,0 Bi, com uma projeção do preço do dólar no entorno de US$ 2,60, ao final do ano, embora o projetemos em R$ 2,50 ao final do 1º trimestre deste ano.
Uma decisão do FED antecipando mais uma redução da ordem de US$ 10,0 Bi no programa de incentivo monetário, diminuindo-o para US$ 65,0 Bi, certamente será impactante na liquidez do mercado internacional, acarretará grande desconforto para os países emergentes e dentre estes para aqueles que estiverem mais vulneráveis, desvalorizando suas moedas perante o dólar.
A trajetória para atingir R$ 2,45 ao final desta semana está aberta e não deve surpreender se atingir este patamar.
Como temos destacado, a alta movida pelas perspectivas pode não responder à intervenções do BC, seja no mercado futuro com “swaps cambiais”, seja no mercado à vista, inicialmente, com aumento da oferta de linhas de financiamentos aos bancos para darem suporte às posições vendidas, seja até mesmo com a venda efetiva de dólares ao mercado, tendo em vista que os bancos estão vendidos em volumes maiores do que as linhas tomadas como financiamento do BC.