Quem investe em títulos americanos está vivendo um ano bastante atípico e complicado, mas há indicativos de que o mercado está prevendo que o pior já passou. Se essa visão estiver correta, o maior apetite para o risco pode oferecer a oportunidade de obter ganhos extraordinários daqui para frente.
Como sempre ocorre nas tentativas de prever o futuro dos mercados, não existe uma forma de saber se o otimismo com os títulos ainda é prematuro. Mas, para os investidores com maior tolerância ao risco, a recente retomada dos preços dos títulos sugere que talvez seja hora de apostar no fim do “bear market” nos mercados de renda fixa.
O que está claro é que as perdas nos títulos americanos são bastante profundas e incomuns até agora no ano, com base no desempenho de um conjunto de ETFs. Com exceção das treasuries de curto prazo (SHV) e títulos com taxas flutuantes (FLRN), todos os principais segmentos dos mercados de renda fixa nos EUA estão no vermelho. As maiores perdedoras até agora em 2022 são as treasuries de longo prazo via fundo iShares 20+ Year Treasury Bond (TLT), que já se desvalorizou 29% neste ano, mais de duas vezes o declínio registrado pelo principal índice acionário dos EUA, com base no fundo Vanguard Total Bond Market Index (BND).
Em novembro, no entanto, houve algum alívio. Considerando o BND como indicador do mercado de grau de investimento, o que vimos foi um forte rali no último mês.
Um importante vetor para a retomada dos preços dos títulos (e do recuo correspondente nas taxas) é a especulação de que o Federal Reserve está prestes a reduzir o ritmo de elevações de juros, o que implicaria uma pausa e até uma reversão no aperto monetário em breve.
Gregory Faranello, diretor-geral de negociação e estratégia de juros americanos da AmeriVet Securities afirmou o seguinte:
“A política do Fed é dinâmica, e o banco ainda está sinalizando mais altas pela frente. Mas o mercado parece estar mais aliviado com a perspectiva de que o fim do aperto esteja próximo”.
Os contratos futuros de juros (Fed funds) estão precificando uma probabilidade de 70% de que haverá uma elevação de 50 pontos-base (pb) na próxima reunião do Fomc, comitê de política monetária dos EUA, em 14 de dezembro. Caso isso se concretize, essa será a primeira redução nos aumentos de 75 pb que vinham sendo feitas desde que o Fed realizou a primeira série de elevações em março.
A taxa da treasury de dois anos, considerada a mais sensível para as expectativas de juros, ficou estável ou caiu nas últimas semanas, fornecendo mais um indicativo de que uma “virada” na política do Fed esteja perto de acontecer.
A inversão da curva de juros das treasuries também está fazendo com que alguns analistas mantenham o otimismo com a política do Fed. A queda no diferencial das taxas de dois e dez anos, por exemplo, atingiu seu menor nível negativo em décadas, o que é amplamente visto como um prognóstico de que os EUA podem entrar em recessão em breve.
A inversão da curva de juros reflete a crença de que “a inflação vai cair”, segundo Gene Tannuzzo, diretor global de renda fixa na gestora de ativos Columbia Threadneedle.
O risco é que haja um prolongamento da política de aperto do Fed, frustrando as expectativas do mercado de títulos. É cedo demais para descartar essa possibilidade. De fato, o presidente do Federal Reserve Bank de Nova York, John Williams, declarou na segunda-feira que, embora haja um claro risco de recessão, é possível que o combate do banco central à inflação possa se estender até 2024.
“A demanda na economia, inclusive por mão de obra, está maior do que eu pensava, o que faz com que uma inflação subjacente levemente maior exija uma política mais restrita”, afirmou. “Não é uma mudança muito grande, porém é maior”.
Embora a inflação ao consumidor de outubro sugira um pico nas pressões de preço, o Fed provavelmente preferirá esperar vários meses para uma confirmação.
Enquanto isso, aumentam os sinais de desaceleração do crescimento nos EUA. O Índice Econômico Semanal do Fed de Nova York (WEI) até a mínima de um ano e meio em 19 de novembro. O WEI ainda está acima do nível que indica uma recessão, mas a continuidade da queda mostra que as chances de uma contração estão aumentando.
Isso levanta uma questão importante para os investidores de títulos: Será que o Fed continuará subindo juros, diante do risco maior de recessão? Se a recente alta do BND servir de guia, mais investidores estão inclinados a responder “não”.