Indicadores antecedentes na Europa e na China apontam para retração na atividade industrial. Nos Estados Unidos, o mercado de trabalho deu novos sinais de desaceleração, mas ainda registra performance robusta.
Na China, o PMI de manufatura apresentou nova leitura em terreno que indica contração da atividade industrial a frente, além de frustrar a expectativa do mercado. Por outro lado, o PMI de serviços surpreendeu positivamente as projeções, e avançou em relação a divulgação anterior, em patamar que indica boa expansão no setor. A manutenção de um fraco desempenho econômico da indústria mantém esperanças de que o governo da China vai implementar amplos estímulos para incentivar a atividade não só da manufatura, mas também do setor de serviços. Recentemente, o Banco Central da China anunciou medidas para aumentar a liquidez no sistema financeiro do país e prover suporte para financiamento de dívidas.
Na Europa, o PIB do segundo trimestre avançou 0,3% na comparação trimestral e 0,6% em relação ao 2T22, ambas as leituras acima da expectativa. Por outro lado, a divulgação do PMI aponta para nova retração da atividade industrial nos próximos meses, com o setor de serviços se mantendo em território expansionista, mas desacelerando em relação a divulgação anterior. Destaque negativo para o PMI de manufatura da Alemanha em julho, que teve leitura de 38,8, bem abaixo do nível que aponta estabilidade (50).
Por outro lado, os pedidos a indústria na Alemanha surpreenderam positivamente e avançaram 7,0% em julho, acima das estimativas (-2,0%). Adicionalmente, note-se recuo nas vendas no varejo tanto na Alemanha quanto na Zona do Euro, com desempenhos frustrando as projeções. No que tange a inflação, o CPI na Zona do Euro desacelerou para 5,3% na comparação anual. No entanto, o núcleo de inflação manteve-se estável em relação a divulgação anterior (5,5%). Em relação ao mercado de trabalho, note-se queda na taxa de desemprego na Alemanha (5,6% ante 5,7% anterior), enquanto na Europa o indicador manteve-se estável (6,4%).
Em termos de política monetária, tivemos decisões do Banco Central da Inglaterra e da Austrália na semana. Na Inglaterra, o BoE elevou a taxa de juros em 25 bps para 5,25%, conforme esperado pelo mercado. No comunicado, autoridade monetária reconhece que atual patamar é restritivo. Adicionalmente, afirma que mercado de trabalho se mantém apertado, mas com alguns sinais de desaceleração e a inflação permanece elevada e acima da meta de 2%. Prospectivamente, o BoE afirma que caso haja evidência de pressões inflacionárias persistentes, novas elevações na taxa de juros podem ser necessárias. Já na Austrália, o Banco Central manteve a taxa de juros inalterada em 4,10% pela segunda reunião consecutiva. Apesar da manutenção, comunicado aponta que inflação segue elevada e novas altas na taxa de juros a frente não estão descartadas.
Nos Estados Unidos, a semana ficou marcada pela divulgação dos dados de mercado de trabalho. O JOLTS, que mede o número de vagas abertas no país, registrou leitura abaixo da expectativa do mercado e do mês anterior. O ADP Employment Change, por sua vez, apresentou desempenho robusto, bem acima das projeções, mas desacelerando em relação a divulgação anterior. Finalmente, o payroll registrou criação de 185k vagas em julho, abaixo da expectativa do mercado (200k) e levemente acima do observado no mês anterior (185k). Cabe destacar que os dados de maio e junho tiveram revisão baixista.
A taxa de desemprego caiu para 3,5% em julho ante 3,6% no mês anterior. A taxa de participação manteve-se estável em 62,6% pelo quinto mês consecutivo. O salário médio por hora registrou alta de 0,4% (US$ 0,14), totalizando US$ 33,74 em julho. No resultado acumulado nos últimos doze meses, o salário médio por hora acumula alta de 4,4%. A divulgação dos dados do mercado de trabalho de julho segue corroborando com um setor ainda robusto, mas com alguns sinais de desaceleração. O JOLTS registrou leitura abaixo da expectativa do mercado. Por outro lado, o ADP Employment Change veio acima do estimado, mas desacelerando em relação a divulgação anterior. O payroll corrobora esse cenário, com uma desaceleração na criação de vagas, além de revisão baixista nos dados dos meses anteriores. Por outro lado, a queda na taxa de desemprego aliado ao aumento de salários acima da expectativa, ainda sinaliza um mercado de trabalho aquecido.
A dificuldade da China em estimular sua atividade econômica se contrapõe com a pujança da economia dos Estados Unidos. Na China, espera-se que o governo reduza a taxa de juros e implemente medidas que fortaleçam a liquidez e promovam mais atividade econômica. Nos Estados Unidos e na Europa, por mais que o ciclo de alta na taxa de juros deve estar próximo do fim, ambas as regiões podem ainda registrar aumentos residuais na política monetária restritiva. A combinação de tais fatores gera preocupações em relação a atividade econômica global e suas respectivas consequências, especialmente para o Brasil.