O mercado futuro de açúcar em NY encerrou o pregão da sexta-feira animado com os preços alcançando novas altas no vencimento julho/2016: 17.29 centavos de dólar por libra-peso, o maior nível desde julho de 2014 quando o mercado negociava 17.33 centavos de dólar por libra-peso.
Os fundos não-indexados, principais responsáveis por essa surpreendentemente forte onda altista, estão com posição comprada recorde de todos os tempos, agora na casa dos 270.000 contratos, volume equivalente às exportações brasileiras de açúcar no período de seis meses. O perigo aqui – segundo alguns analistas – é que os fundos possuem quase 40% da posição. O contra-argumento é que em outras commodities como ouro e prata eles possuem um percentual mais alto. O fato é que eles estão ganhando dinheiro com a alta e nesse ambiente normalmente eles deixam os lucros se acumularem.
A tradicional semana do açúcar em NY reunindo os principais executivos do setor, usinas, refinarias, tradings, analistas e formadores de opinião do mercado mundial saíram muito mais construtivos em relação à trajetória de preços do contrato de açúcar em NY. Aquilo que pensávamos que fosse ocorrer ao longo deste ano culminando possivelmente no início do último trimestre com preços mais altos, antecipou-se. Quando dizíamos aqui que os preços iriam chegar a 17-18 centavos de dólar por libra-peso todos acreditavam que era mais um pensamento desejoso deste escriba do que efetivamente uma afirmação fundamentada.
Vários pontos discutidos ao longo dos últimos meses parecem ficar mais claros agora, principalmente depois de vários analistas referendarem e validarem aquelas questões que estavam sobre nossas cabeças. Uma delas é a clara limitação da capacidade de moagem do Brasil e o efeito que isso terá no futuro, sem novos investimentos, sem renovação do canavial na proporção necessária para encarar um consumo mundial que cresce a uma velocidade maior do que o Brasil tem sido capaz de prover. Se compararmos o crescimento médio anual da produção de açúcar do Centro-Sul nos últimos cinco anos com o crescimento médio anual do consumo mundial no mesmo período, veremos que é 0,4% contra 2%.
No início deste ano, quando o volume de fixação de preços por parte das usinas em NY atingiu volume recorde (desde que o modelo da Archer começou a monitorar) alertamos que um dos fatores que poderia potencializar a subida de preços é que não haveria novas vendas por parte do Brasil devido ao volume antecipadamente fixado. No último número publicado, com base no final de fevereiro, o percentual de fixação das usinas atingia mais de 75%. [Estamos no momento redesenhando nosso modelo para separar as fixações por ano safra, pois pela primeira vez percebemos que nosso número estava acima daquele projetado/esperado pelo mercado e identificamos que isso se deveu ao fato de o modelo atual não fazer distinção entre os citados períodos].
Existem outros fatores que não pesavam sobre o mercado no passado que agora podem influenciar a trajetória de preços do açúcar em NY. O governo Temer está descobrindo o verdadeiro rombo que o governo petista deixou e a sociedade brasileira não vê com bons olhos a criação de novos impostos. Uma saída para o governo seria a volta da CIDE – o imposto sobre os combustíveis – que pode arrecadar R$ 32 bilhões por ano e diminuir o rombo fiscal deixado pela incompetente presidente Dilma de mais de R$ 170 bilhões. Se houver níveis diferentes de imposto para a gasolina e o etanol, o setor pode ser beneficiado trazendo maior competitividade ao etanol e estreitando a arbitragem com o açúcar que nesse momento do mercado negocia com mais de 400 pontos de premio equivalente NY sobre o etanol.
Outro fator exógeno que pode afetar positivamente o setor é a indicação do competente Pedro Parente para a presidência da Petrobrás. Parente conhece bem o setor sucroalcooleiro e tem como missão salvar a estatal do petróleo. Pelo seu profissionalismo e por ser homem de mercado não seria demais supor que podemos ter o preço da gasolina refletindo fielmente o mercado internacional. Esse é um ponto crucial para a volta do investimento estrangeiro no setor sucroalcooleiro. Quem vai investir num segmento em que se desconhece a formação de preço do etanol que responde por mais de 50% da produção de cana? A introdução de mecanismos de transparência na formação de preço do etanol teria um impacto imediato na captação de novos e necessários investimentos. O Brasil vai precisar moer mais 120 milhões de toneladas de cana até 2020/2021 para atender a demanda de combustível interna e manter a atual fatia de mercado que possui como principal fornecedor de açúcar ao mundo.
Podemos ver, com a legitimação do governo Temer, após consolidado o processo de defenestração definitiva da presidente Dilma Rousseff, o estabelecimento de uma politica energética de longo prazo que daria diretrizes e segurança jurídica para os investidores.
Existem outros pontos a serem discutidos que corroboram com um quadro extremamente construtivo para o açúcar, não apenas no preço, mas também no prêmio. A limitada capacidade de escoamento da produção via terminais de Santos e Paranaguá, que estão comprometidos com substancial volume para a safra de grãos, pode afetar os prêmios do açúcar para embarque por aqueles portos. Quando os consumidores finais começarem a perceber as semelhanças desse ambiente atual com o de 2010 podemos ver uma ainda mais acentuada subida de preços em NY. Nossa análise aponta para o março/2017 entre 20-21 centavos de dólar por libra-peso.
E nem precisamos falar sobre a Índia e Tailândia nesse comentário semanal.