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O paradoxo do payroll
Na sexta-feira (4), os Estados Unidos divulgaram o aguardado relatório de empregos (nonfarm payrolls), com 147 mil novas vagas criadas em junho. O número superou as projeções, que giravam em torno de 110 mil. Mas, ao olhar de perto, metade desses empregos veio do setor público, o que, na prática, não representa aceleração real da economia.
O detalhe mais curioso foi o comportamento do dólar após o dado: em vez de subir, como seria o mais esperado, a moeda caiu frente a pares como o euro, o iene e até mesmo moedas de países emergentes. O índice DXY, que mede o dólar contra uma cesta de moedas fortes, recuou e se aproximou dos patamares mais baixos do ano.
Mas afinal, por que o dólar caiu?
Para entender esse movimento, é preciso ir além do número absoluto. Os mercados hoje não estão apenas olhando os dados, estão tentando antecipar a próxima jogada do Federal Reserve.
O que se viu nos últimos dias foi uma leitura combinada de sinais mistos:
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O ADP (relatório privado de empregos) havia vindo bem abaixo do esperado, sugerindo fraqueza.
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O payroll público surpreendeu positivamente, mas não o suficiente para mudar o cenário.
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A inflação permanece controlada, e o crescimento, embora resiliente, não está acelerado.
Diante disso, os investidores começaram a precificar cortes de juros ainda neste segundo semestre, mesmo sem um recado claro do Fed. E quando o mercado começa a antecipar redução de juros, a reação do dólar é praticamente automática: queda.
A cortesia que vem da hesitação
A chamada “cortesia do Fed” nada mais é do que a postura paciente, ou até mesmo condescendente, da autoridade monetária americana diante dos dados. Jerome Powell, presidente do Fed, tem insistido no discurso da cautela. Não há pressa em cortar, mas também não há sinais de endurecimento.
Na prática, isso significa que o Fed está disposto a “tolerar” uma economia mais aquecida por um tempo, desde que a inflação siga ancorada. E essa hesitação tem um efeito colateral importante: desvaloriza o dólar.
E o mundo reage
Para os mercados emergentes, esse ambiente é quase um alívio. Moedas como o real, o peso mexicano e o rand sul-africano ganharam fôlego nesta semana, impulsionadas pela fraqueza do dólar e pelo maior apetite ao risco. Investidores globais voltaram a olhar para ativos de maior retorno com mais simpatia.
No Brasil, por exemplo, o dólar rompeu momentaneamente o patamar dos R$ 5,00, puxado não apenas pelo cenário externo, mas também por fluxos sazonais e retomada no otimismo sobre reformas locais.
O que esperar daqui pra frente
A principal pergunta agora é: o Fed vai mesmo cortar os juros neste segundo semestre?
Se a inflação continuar sob controle e os próximos dados de emprego não mostrarem uma aceleração fora do comum, os cortes ganham força. E com eles, o dólar pode seguir pressionado.
Por outro lado, qualquer sinal de aceleração da inflação, ou uma reviravolta na atividade econômica — pode inverter esse cenário rapidamente. O mercado sabe disso. E é por isso que está tão sensível a qualquer discurso, número ou entrelinha.
Cautela, não alarde
O movimento desta semana deixa uma mensagem clara: os fundamentos contam, mas a narrativa pesa mais.
O mercado não caiu na armadilha de um payroll forte pela metade. Olhou o todo, ouviu os sinais sutis do Fed e decidiu antecipar o que parece inevitável: a hora da queda dos juros está chegando, e o dólar, como sempre, é o primeiro a sentir.