O mercado futuro de açúcar em NY encerrou a semana com o vencimento outubro/22 cotado a 18.23 centavos de dólar por libra-peso, uma elevação de apenas 8 pontos em relação à semana anterior, mas foi o único vencimento que apresentou variação positiva.
O spread outubro/março (a diferença entre as cotações dos dois contratos) apreciou quase 7 dólares por tonelada na semana. O que explica essa valorização do spread, segundo um trader do mercado, é o rearranjo do livro das tradings antecipando o recebimento de açúcar bruto para aproveitar o excepcional prêmio de branco (diferença entre os preços do açúcar refinado e açúcar bruto) que explodiu para 187 dólares por tonelada. Quanto mais rápido for o recebimento e embarque do açúcar bruto para os destinos onde serão refinados, maior será a margem das refinarias. O prêmio de branco despenca para 116 dólares por tonelada no março/23.
Apesar disso, o mercado terá uma difícil missão de se sustentar nos atuais níveis de preço. O colapso do preço do hidratado no mercado interno – que virou de pernas pro alto o planejamento cuidadoso que as usinas fizeram para esse ano – estimulou as usinas a produzirem mais açúcar. Espera-se uma pressão de venda no contrato março/23 para acomodar o aumento da produção. Enquanto isso, o hidratado (pelo índice ESALQ) negocia a inimagináveis 500 pontos de desconto em relação ao açúcar NY.
A perspectiva de queda de juros no Brasil por parte do mercado financeiro que, segundo o boletim Focus, estima para 11.25% no final de 2023 e 8% no final de 2024, achatam a curva do NDF (Non-Deliverable Forward), um contrato a termo de moeda com liquidação financeira. Em outras palavras, as instituições financeiras estão oferecendo menos reais para dólares negociados com vencimentos mais longos. As usinas precisam refazer as contas se vale a pena acelerar as fixações para a 2024/2025, por exemplo, pois não apenas são menos reais no bolso, mas permanece a dúvida acerca do custo de produção do açúcar que a cada dia mais se aproxima dos valores negociados em NY.
Vai ser interessante saber como o mercado irá reagir nos próximos meses. Existe uma pletora de variáveis e combinações possíveis que dificultam o processo decisório. O que podemos depreender de maneira simples é que mantida a situação atual de impostos zerados, a produção de etanol será preterida pelas usinas e o Brasil vai aumentar fortemente a produção de açúcar. Como consequência, o mercado de açúcar em NY pode colapsar além do custo de produção. E aí?
Aí, caríssimos leitores, nenhum país consegue competir com o Brasil em termos de custo de produção, portanto a disponibilidade de açúcar dos concorrentes pode ser prejudicada. Se a disponibilidade de etanol for reduzida e concomitantemente a isso tenhamos uma recuperação da economia e do consumo ciclo Otto, como essa equação será resolvida? É bom ficar de olho nessas distorções que o mercado apresenta, pois elas tendem a se acomodar e refletir a realidade. Alguém vai pagar a conta.
Muito tem se discutido sobre a eventual mudança na matriz energética mundial, em especial quando o conflito entre Rússia e Ucrânia chegar ao seu final. Curiosamente, no ano 2000, 85.84% de toda a energia consumida no mundo vinha de três fontes primárias: petróleo, carvão mineral e gás natural. No ano passado, ou seja, 21 anos depois, as três somavam 83.09%. Se em 2000 as energias renováveis representavam 13.87% do total de consumo, no ano passado esse percentual subiu timidamente para 15.76%. A mudança tem sido muito lenta e a história tem provado que leva mais tempo do que se imagina para uma nova fonte assumir a liderança. O carvão perdeu o protagonismo para o petróleo no início dos anos 1960 depois de mais de um século na liderança. No ritmo atual de crescimento, para que as energias renováveis representassem 25% do total consumido no mundo, levaríamos quase 115 anos. Por isso, eu sou muito otimista com o setor que cresce apesar de todos os percalços e cascas de bananas jogadas no caminho pelos governantes de plantão.
A quarta estimativa do volume de fixação de preços das usinas relativa aos açúcares destinados à exportação da safra 23/24 apurou que no mês de agosto/22 foram fixadas 827,000 toneladas de açúcar ao preço médio equivalente a R$ 2,201 por tonelada FOB. Até o dia 31 de agosto de 2022, o total acumulado de fixações para a safra 23/24 estava em 7.42 milhões de toneladas de açúcar ao preço médio de 17.50 centavos de dólar por libra-peso sem prêmio de polarização, equivalentes a um percentual de fixação de 30.9 % do volume estimado de exportação para a safra 23/24.
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Muitos de nós crescemos com a certeza absoluta de que algumas coisas são constantes no universo. A velocidade da luz, o número Pi ou, por exemplo, que a Rainha Elizabeth II viveria para sempre. Ela foi um exemplo de estadista, de humildade, de tenacidade mesmo nos momentos mais difíceis que o país atravessou, sem perder a fleuma e o tradicional humor inglês. Um exemplo desse humor foi logo após o término do show de rock ocorrido em celebração ao Jubileu de Ouro, em 2002, nos jardins do Palácio de Buckingham. Paul McCartney se aproximou da Rainha, que subira ao palco para receber os aplausos dos súditos, e comentou: “o show foi tão sensacional que deveríamos fazer aqui todo o ano”, ao que Sua Majestade disparou: “Não no meu quintal”. Nesses dias tristes todos nós nos sentimos um pouco britânicos. Que ela descanse em merecida paz.