O valor das teses antiquadas
Às vezes minha mãe me chama de Matusalém. Minha casmurrice durante a infância e a adolescência, aliada ao estereótipo do senil rabugento, serviram de base para a tese de que sou, na verdade, filho de Enoque e avô de Noé.
Quando converso com o pessoal mais jovem do mercado, mesmo aqui na Empiricus, já percebo que estou virando arquivo vivo: volta e meia me percebo falando de coisas de dez anos atrás que muitos não viveram ou, ao menos, não se recordam. Estou envelhecendo e o ritmo é, talvez, mais acelerado do que eu imaginava.
Encontrei ontem um de meus primeiros modelos financeiros: àquela época, o último ano de projeção era 2016. Cheguei à perpetuidade, quem diria! A principal lição? Histórias de investimento que parecem antiquadas só o são porque, ao contrário das constantes novidades, sobreviveram aos desaforos do tempo.
Gengibre, limão e passiflora
Por falar em envelhecer, enfim minha coluna melhorou. Em grande parte, graças a uma sugestão do pessoal da Jolivi : uma pequena dose diária de gengibre faz milagres.
Assistir ao julgamento de Dilma no Senado é receita para azia. Recorro a um copo de água com limão, para dar uma folga à produção de suco gástrico. Ótima recomendação para José Eduardo Cardozo, aliás, para quem a oitiva de Julio Marcelo de Oliveira ontem não deve ter caído nada bem. Acabou ali... e tanto Cardozo quanto Turbando já sabem disso.
Regado a café, o discurso de Yellen em Jackson Hole parece sugerir que juros poderiam mesmo vir mais cedo, o que se reflete em um aumento nas apostas em uma alta em Setembro. Pensamos, porém, que a leitura de Janet requer chá de passiflora: penso que a mudança de tom é somente um passo em direção à alta em Dezembro na qual já apostava.
Em meio às apostas os mercados lá fora, que vinham no azul desde o discurso, viraram há pouco. Por aqui, compradores apenas perderam pouco de força.
Evitando a gastrite
Outra boa receita para dormir bem é contar com alguma estabilidade financeira. Já falei em diversas ocasiões sobre o quanto prezo, dentro de um portfólio de investimentos, uma dose de investimentos geradores de renda: risco é bom, mas em excesso é gastrite na certa.
Duas excelentes alternativas para esse fim são dividendos e aluguéis . A perspectiva de rendimentos creditados periodicamente em conta, seja para reinvestimento ou para a cobertura de despesas, é sempre alentadora.
Fora as perspectivas de apreciação dos ativos — quesito no qual, aliás, nossas recomendações também vão extremamente bem.
Quando cafeína faz falta
Penso que deveria, por outro lado, gerar alguma intranquilidade a sinalização de Vale (SA:VALE5) quanto à venda antecipada de parte de sua produção de minério de ferro. Aqui teria feito bem uma dose de cafeína.
Ficou para o ano que vem, e não enxergo motivos para imaginar que isso se traduza em melhores condições de negociação. Como já disse anteriormente, minha grande dúvida é o preço.
Hoje mesmo o noticiário traz novos alertas sobre as perspectivas de queda para a commodity. Coincidentemente (?), os valores para a transação mencionados pela companhia em reunião pública ontem são substancialmente inferiores ao que vinha se ouvindo nas conversas de mercado.
Sigo vendedor de Vale.
A fonte da juventude
Seis ou sete anos atrás, talvez? “Descobri a fonte da juventude”, foram as palavras dele. Se tratava de um algoritmo para operar futuros de boi gordo. Robôs eram novidade na época, ainda mais fora do eixo Rio-São Paulo.
O discurso de venda era sedutor. As promessas de retorno, astronômicas. Clientes, sedentos pela novidade, não tardariam a descobrir que o suposto elixir da juventude não passava de água salobra.
Ainda levaria algum tempo até que os holofotes se voltassem contra ele. Quando enfim aconteceu, sumiu para as sombras por um tempo. Repaginado, está de volta à ativa e em busca de investidores que não tomaram ginkgo biloba o bastante para lembrar dele.
O nome dele é legião: há inúmeros casos assim no mercado. Tenha sempre um pé atrás.