O mercado de açúcar em NY fechou a semana com alta de 45 pontos (10 dólares por tonelada), com o vencimento março/2014 encerrando a sexta-feira cotado a 18,93 centavos de dólar por libra-peso. Estamos agora no maior nível de preço desde 11 de janeiro deste ano quando NY fechou a 19,17 centavos de dólar por libra-peso. Naquele dia, no entanto, o dólar estava cotado a 2,0318 reais. Convertendo-se o fechamento de NY em reais pela taxa do Banco Central, estamos agora no nível mais alto de preço do ano: 947,50 reais por tonelada FOB Santos equivalente (prêmio de polarização de 4,05% incluso). A última vez que esse valor foi alcançado foi em 3 de dezembro de 2012 (NY a 19,75 e dólar a 2,1186). E parece que não vamos parar por aqui. Nas últimas sete safras, em quatro ocasiões a alta do ano se concentrou em janeiro e fevereiro. A conferir.
947,50 reais por tonelada FOB Santos equivalente, para um custo de produção estimado pelo modelo da Archer Consulting como sendo de 825 reais por tonelada FOB é tentador para que as usinas mais eficientes aumentem o percentual de fixação de seus contratos comerciais de exportação para a próxima safra. Olhando a curva de preços em NY e assumindo o hedge via NDF (contrato a termo de dólar com liquidação financeira), a rentabilidade média para os meses de vencimento maio, julho e outubro de 2014, aponta para 23,1% sobre o custo de produção. Não é sem razão que temos visto um volume razoável de fixação, conforme mencionado em nosso comentário da semana passada. São níveis de preço tentadores.
A ANP divulgou os números de consumo de combustível no Brasil no mês de agosto de 2013. Foram consumidos 944,2 milhões de litros de etanol hidratado e 3,561 bilhões de litros de gasolina C (que contém etanol anidro). O acumulado de 12 meses atingiu novo recorde pelo quarto mês consecutivo: 50,847 bilhões de litros. O consumo total de etanol (anidro e hidratado) soma 18,981 bilhões de litros, 10,06% acima do mesmo período do ano passado. O consumo de gasolina A subiu 4,75% no período de doze meses, totalizando 31,865 bilhões de litros. Em doze meses, o consumo total de combustíveis subiu 3,18 bilhões de litros, um incremento de 6,67%.
Caso o crescimento do consumo de combustíveis no Brasil mantenha o mesmo padrão para os próximos cinco anos, o setor sucroalcooleiro vai precisar crescer anualmente 30 milhões de toneladas de cana apenas para atender o mercado de combustíveis de etanol. E isso sem esperar nenhuma mudança no atual mix de consumo no Brasil, que é de 62,7% de gasolina e 37,3% de etanol. Num passado não muito distante, no último trimestre de 2009, esse mix chegou a 54,5% de etanol e 45,5% de gasolina.
Para que esse mix fosse possível novamente, o crescimento médio da produção de cana teria que chegar à casa das 100 milhões de toneladas anuais para que em 2018/2019 produzíssemos 1 bilhão de toneladas de cana. Qual o investimento necessário para isso? Algo em torno de 60-80 bilhões de dólares. Se quisermos apenas manter o que temos hoje, vamos ter que investir entre 12 e 16 bilhões de dólares, mais ou menos o que o governo Dilma queimou para promover a Copa do Mundo no país do futebol.
Mudando de assunto, o diretor-executivo da Bolsa de Chicago, Fred Seamon, disse numa entrevista à revista Dinheiro Rural edição deste mês, que “se os produtores de cana-de-açúcar no Brasil já praticassem a venda de contratos futuros para o etanol, não teríamos visto a falência de tantas usinas, nos últimos anos.” Foi isso mesmo que você leu. A falência de tantas usinas no Brasil poderia ser evitada se elas usassem os contratos futuros de etanol. Essa vai para os anais.
Por outro lado, o contrato de etanol hidratado da BM&F Bovespa apresenta perto de 4.600 contratos em aberto (138 milhões de litros). O volume diário de negócios continua claudicante.
Em NY, tudo caminha para que o contrato de açúcar da ICE termine o ano de 2013 com um volume recorde de negócios. A estimativa é de 29,23 milhões de contratos (não inclui as opções, somente futuros). O recorde anterior é do ano de 2010 em que 29,13 milhões contratos foram negociados. O volume estimado para esse ano equivale a 1,48 bilhões de toneladas de açúcar. Considerando que os negócios físicos de açúcar no mercado internacional (objeto do contrato negociado em NY) somam grosso modo 55 milhões de toneladas, a razão de hedge chega a surpreendentes 27:1, ou seja, para cada tonelada física de açúcar negociada no mercado internacional existem 27 toneladas equivalentes negociadas no mercado futuro. Esse número é bem alto, principalmente se compararmos com a soja ou o milho, por exemplo, que possuem contratos futuros em Chicago bastante líquidos e que apresentam uma razão de 15:1 aproximadamente.
Na verdade, o que está distorcido nessa análise é o denominador, ou seja, o divisor da fração (que no caso é o volume de negócios físicos de açúcar no mercado internacional). Está claro que NY não serve apenas de hedge para os açúcares negociados no mercado internacional (importação e exportação), mas também para aqueles negociados no mercado interno (no Brasil mesmo, estima-se que 70% do açúcar consumido pela indústria seja apreçado contra NY) e quiçá para contratos envolvendo outros produtos (etanol).
Se a razão de 15:1 é bem razoável, podemos estimar que NY “protege” ao longo do ano quase 100 milhões de toneladas de açúcar equivalente, dos quais 55 milhões de toneladas que fazem parte do mercado internacional e as outras 45 milhões de toneladas estão entre açúcares negociados nos mercados consumidores internos dos países produtores de açúcar e uma outra parcela para proteger outras estruturas e arbitragem. Ninguém pode se queixar de falta de liquidez.
A Archer Consulting vai ministrar nos dias 26, 27 e 28 de novembro o I Curso de Logística em Commodities, em São Paulo no Hotel Central Park Jardins, das 19:00 às 22:30 horas.