Curiosa narrativa
Nos EUA, dados de emprego fortes mas com salários mais bem-comportados do que o esperado alimentam uma curiosa narrativa na qual o país consegue crescer mais com menos inflação. A ver… Hoje, Bolsa para cima e juros para baixo.
Por aqui, dia positivo: o sentimento geral é de que ambiente político é propício ao avanço da agenda de reformas, o que se traduz em bolsa e juros em queda.
A exceção por aqui cabe às exportadoras: mercados chineses voltaram à ativa e, na esteira da ressaca do ano novo lunar e ainda reagindo a medidas do Banco Central Chinês, sessão foi ruim para ações e futuros de commodities.
Seleção canarinho
A julgar pelo que leio por aí, o Novo Brasil chegou mais cedo no mercado financeiro: configuração do quadro político ampliou o otimismo quanto à aprovação de reformas, catalisando os efeitos de uma semana de leituras favoráveis quanto a nosso futuro próximo.
Engraçado pensar como, até outro dia, isso era visto como golpe de marketing dos malucos da Empiricus. Agora o mote é “vai dar tudo certo, e quem disser o contrário é louco”.
Pois bem: este momento, no qual a Faria Lima veste a camisa da Seleção Canarinho, me parece propício a uma reflexão na direção contrária.
Schweitzer, o otimista
Eu sou muito otimista, mas você me supera! Você fala na volta do Congresso e nas reformas como se fosse tudo líquido e certo de acontecer.
Hoje a economia do país depende quase que exclusivamente da situação política. Tenho minhas dúvidas se as reformas da previdência e trabalhista passarão incólumes assim. Somando-se a isso tudo, temos a Lava-Jato.
— Ronny N.
Vocês hão de imaginar que não é todo dia que alguém me chama de otimista. Justamente por isso, as palavras do Ronny me chamaram tanto a atenção.
Estaria eu — até mesmo eu — me deixando contagiar por uma onda de otimismo exacerbado por aqui?
Quo vadis?
A partir do momento atual, o que serviria para seguir realimentando o otimismo do mercado por aqui nas próximas semanas? Para onde vamos?
Temporada de resultados? Não, definitivamente não. Revisões sucessivas das projeções de Selic? As próximas edições do Relatório Focus devem trazer consenso mais para baixo e render manchete de jornal… mas isso ainda será driver ou já virou carne de vaca?
“Oras, virão as reformas!”. Beleza, mas o ritmo da política é muito diferente do ritmo do mercado. Será este o tema até a aprovação?
O que me vem à cabeça é atividade real: talvez a busca passe a ser pelo ponto de inflexão e subsequente ritmo do PIB. Olho em varejo, indústria, desemprego.
Todos drivers importantes, mas tudo aqui acontece em velocidade bem inferior àhighway do mercado financeiro.
Não saia da linha
A tudo isso se somam riscos exógenos. Lá fora, Trump e China. Aqui, as intersecções entre os noticiários político e policial.
Estou postulando que o mercado perderá fôlego? Não, não necessariamente: o mercado pode permanecer insano por mais tempo do que os vendidos podem permanecer solventes.
Meu alerta é no sentido de não se deixar levar pela ideia de que o céu é o limite e nada pode nos mudar de rumo.
Siga bem com seu plano, de maneira consistente e tomando riscos com a moderação que sempre exigem. Não saia da linha.
E conte com a gente, como de costume, de olho no que vem pela frente.