Nem de longe o esperado
Nossa bolsa opera em alta, contrariando a expectativa de dia tenso por conta dos possíveis desdobramentos do afastamento de Renan Calheiros da presidência do Senado Federal. Contribui para esse desempenho o clima externo favorável e a ata do Copom.
No exterior, dia é de otimismo na espera da reunião do Banco Central Europeu, da qual se espera como resultado o anúncio da extensão do programa de recompra de títulos que expira em março próximo.
Não se trata, nem de longe, do dia que 9 em cada 10 profissionais de investimento esperavam para hoje.
E se for simplesmente o certo? (I)
Houve quem especulasse que Marco Aurélio afastou Renan em resposta aos protestos do final de semana. Houve quem visse na liminar uma reação às articulações de Calheiros em favor da lei de abuso de autoridade.
O que eu não vi? Não vi ninguém supor que ele concedeu a liminar tão simplesmente porque era a coisa certa a se fazer. Será que essa possibilidade — a de que um alvo de inquérito criminal não deve permanecer na linha sucessória presidencial — não merece sequer consideração?
“Ah, mas teria sido melhor deixar Renan onde estava pelo menos até aprovar a PEC e a reforma da previdência”.
Concordo. Mas francamente: você gostaria que uma decisão se subordinasse à outra? Eu não: não contem comigo para lamentar a queda de Renan "porque sua permanência seria melhor para o mercado".
E se for simplesmente o certo? (II)
Goldfajn tem sido alvo de duras críticas por ter cortado juros em apenas 25 pontos-base na última reunião. Dentre as justificativas, i) a consequência maléfica do juro real no patamar que se encontra para a atividade econômica moribunda e ii) a contribuição involuntária que sua cautela trouxe para a erosão do capital político de Temer.
Todas questões estranhas ao mandato do comitê.
O que não vi? Não vi ninguém supor que o Copom está simplesmente cumprindo seu mandato: olhando para inflação — e só inflação —, alheio a pressões externas como sempre deveria ter sido. Já tivemos experiências anteriores com comitês cujas decisões emanavam do Planalto. Lembra? Seja contra ou a favor nossos desejos, não deve ser assim.
Eis que temos a ata, que confirma que eles estão olhando tão somente para o que deveriam olhar. Tudo mais constante no que tange a evolução de preços, está aberto o caminho para 50 pontos-base na próxima reunião.
Há qualquer razão para duvidar que chegaremos ao final de 2017 com juros de dois dígitos baixos? Penso que não.
Mudança estrutural? Não.
A queda de Renan — aquele que, até outro dia, “era Dilma e, não sabia o porquê, gostava daquela mulher” — pode implicar em dificuldades adicionais para a aprovação das reformas? Sim.
O mercado pode reagir mal a isso e termos semanas complicadas até o final do mandato de Viana, em fevereiro? Sim.
Muda algo estruturalmente? Francamente, penso que não: uma rápida retrospectiva de 2016 (convenhamos que o Sérgio Chapelin vai ter trabalho extra esse ano…) é suficiente para nos fazer lembrar que estamos, hoje, muito melhor que a seis meses atrás.
Se as coisas não evoluírem no ritmo que gostaríamos, paciência: as circunstâncias não oferecem trajetórias lineares.
Como vota, deputado?
O que se faz então? O mesmo de sempre: segue-se o plano.
Assuma que o mercado pode ficar turbulento ao longo das próximas semanas — como poderia por conta de Brexit, de Trump, de Itália e tutti quanti.
Certifique-se de que a sua alocação de investimentos é tal que você consiga suportar financeira e (principalmente) psicologicamente a volatilidade extra — esta regra vale, aliás, para qualquer condição de mercado, da euforia à depressão.
E, como sempre, certifique-se de ter seguros na carteira.
Talvez as águas sejam mais revoltas do que gostaríamos, mas seguimos na direção da outra margem.
Season Finale
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Se trata do Clube Empiricus, cujas inscrições estamos encerrando hoje. Sugiro fortemente que dê uma olhada na proposta, que não aparece todo dia.
Vamos falar de previdência?
Aproveitando que estamos falando sobre a tensão entre desejos e realidade, chamo a atenção para a proposta de reforma da previdência apresentada pelo governo ontem.
Como não poderia deixar de ser, a primeira reação pública (a das centrais sindicais) foi de choro e ranger de dentes.
Convido: vamos deixar os desejos de lado e olhar para as coisas objetivamente?
Estamos disponibilizando uma série de artigos do Fábio Giambiagi — de longe, o maior especialista em previdência do país. Eles podem ser encontrados aqui . É nossa contribuição para as bases de uma discussão realista e despida de chavões.