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NFTs: Ilusão ou Realidade?

Publicado 14.05.2022, 21:32
Atualizado 09.07.2023, 07:32

A numismática é a “área do conhecimento” cujo objeto de estudo são as moedas metálicas, as medalhas e as cédulas (papel moeda). Acredito que o fato de ter certo conhecimento nessa área, além da economia, me levou a refletir sobre o conceito de fungibilidade. Em termos formais, “são fungíveis os bens móveis que podem substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade” [i].

Assim, os bens infungíveis (ou não fungíveis) são o oposto, isto é, não podem ser substituídos facilmente ou são únicos, como uma obra de arte, um objeto raro, um cavalo de raça reprodutor, entre outros.

Dessa forma, a moeda (ou o dinheiro) é considerado um ativo fungível por excelência. Em outras palavras, se você for a uma padaria e trocar uma nota de cem reais por duas de cinquenta, tanto você quanto o dono da padaria continuariam com o mesmo valor em dinheiro, certo?

Não necessariamente. Se a nota de cem reais que você trocou na padaria por duas notas de cinquenta fosse da primeira família do real (o layout de cédulas anterior ao atual) e se ela não contivesse a inscrição “Deus seja Louvado” você provavelmente teria “perdido” um bom dinheiro na transação. De fato, por exemplo, cédulas de cem reais da primeira família sem a inscrição “Deus seja Louvado” e assinadas pelo ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero podem ser vendidas em lojas de numismática por mais de R$ 2.000,00, se estiverem em excelente estado de conservação.

Esse simples exemplo nos mostra que a própria ideia de fungibilidade não é tão simples quanto parece. De fato, os ativos não fungíveis são aqueles considerados únicos, ou que não podem ser substituídos facilmente por outros da mesma espécie. Voltando ao exemplo anterior, podemos pensar que uma nota de cem reais sem a inscrição “Deus Seja Louvado” e assinada por Ricupero é um ativo não fungível, pois não pode ser facilmente substituível. Por outro lado, o dinheiro é considerado um ativo fungível para a grande maioria das pessoas, principalmente para aqueles sem interesse algum em numismática. Nesse ponto já observamos que a forma como as pessoas valorizam os ativos não fungíveis pode ser consideravelmente distinta.

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O debate a respeito da formação de preços de ativos “únicos” (ou não fungíveis) não é recente. Um exemplo marcante é uma cena icônica do filme Wall Street (1986), na qual Gordon Gekko (interpretado pelo ator Michael Douglas) faz um pequeno discurso em frente a uma pintura de Joan Miró (“Paysage”), que apresento aqui em tradução livre: "Veja essa pintura...há dez anos eu a comprei por US$ 60 mil. Hoje eu poderia vendê-la por US$ 600 mil. A ilusão se tornou real. E quanto mais real ela se torna, mais desesperadamente eles a desejam. Capitalismo em sua mais pura forma [ii].

As discussões sobre ativos não fungíveis entraram fortemente na mídia recentemente, principalmente em função de sua versão eletrônica, os NFTs (Non-Fungible Tokens, ou Tokens Não Fungíveis). Para uma melhor compreensão dos NFTs, contudo, falta ainda entendermos claramente o que são os “tokens”.

A palavra “token” é bastante utilizada na língua inglesa e pode ter diversos significados:

a) de uma maneira geral, “algo que uma pessoa entrega ´q outra para expressar seus sentimentos ou intenções [iii]”, como por exemplo um amuleto ou talismã;

b) em computação, “security token”: um dispositivo (normalmente um hardware ou um procedimento criptográfico) utilizado para a autenticação de uma operação;

c) em economia “token coin”: similar às fichas utilizadas em cassinos e fichas telefônicas, ou “token money”: moeda com circulação específica e limitada (por exemplo moedas comunitárias).

No caso dos NFTs, a ideia de token está associada a um elemento (eletrônico) que representa o direito de propriedade sobre algo. Assim, um NFT ou Non-Fungible Token pode ser definido como uma unidade de dado eletrônico, armazenada em um “livro digital” denominado blockchain, e que pode ser comprado ou vendido [iv].

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Se o debate em relação à formação dos preços de ativos não fungíveis em sua forma física (como obras de arte) já traz consigo elevado grau de complexidade e subjetividade, ao adicionarmos o elemento tecnológico (a possibilidade de registro via blockchain) ampliam-se a complicação e a incerteza.

Os NFTs garantem digitalmente o direito de propriedade registrado de forma eletrônica através da tecnologia blockchain, de um ativo que normalmente também é eletrônico (como uma obra de arte digital por exemplo).

Em geral, considera-se que o primeiro NFT produzido foi o Quantum, criado por Kevin McCoy e Anil Dash em maio de 2014 [v]. Um dos NFTs mais conhecidos e vendido por um preço consideravelmente elevado foi o primeiro tweet postado pelo fundador do Twitter, Jack Dorsey, que transformou uma imagem de cinco palavras (o primeiro tweet) em um arquivo digital registrado na blockchain, criando um NFT que chegou a ser vendido por US$ 2,9 milhões.

E o que isso significa?

Na minha visão não significa muita coisa. Isso simplesmente quer dizer que duas pessoas chegaram a um acordo, isto é, o vendedor considerou que valia a pena vender o ativo por aquele preço (Dorsey), e o comprador acreditou que seria interessante comprar por aquele preço. É praticamente uma questão de opinião. E opinião cada um tem a sua.

Acredito que um dos pontos causadores de confusão é a relação entre valor e preço. Em um artigo publicado anteriormente pelo site Investing.com (Valor e Preço: Irmãos, Primos ou Parentes Distantes?) discuto a possibilidade de o preço de um ativo estar consideravelmente distante do seu "valor".

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Nos mercados de elevada liquidez, como o de ações por exemplo, muitos agentes econômicos estão participando das negociações e avaliando os ativos, o que nos leva a pensar que, nesse caso, o preço tende a ter um significado econômico importante. Ainda assim, observamos que os preços das ações flutuam consideravelmente, o que em minha visão demonstra a dificuldade em chegarmos a um consenso sobre quanto de fato vale uma empresa.

Em mercados de baixa liquidez a situação é consideravelmente mais crítica. As flutuações de preços tendem a ser muito maiores e poucos negócios são efetuados. Assim, uma única negociação ocorrida a um determinado preço não tem muito significado econômico.

Contudo, em função do poder amplificador das redes sociais, um único negócio, principalmente se for realizado por uma celebridade (muitos devem lembrar do NFT adquirido pelo jogador Neymar) tende a chamar considerável atenção e levar o debate para diversos cantos do mundo. Soma-se a isso a aura de mistério e tecnologia associada aos NFTs e ao Blockchain.

De fato, na história econômica, é comum observarmos o grande interesse e as vultosas quantias associadas aos investimentos ligados às novidades científicas e tecnológicas. Qual é a graça de investir em uma empresa que produz xarope com açúcar se posso investir em uma empresa que desenvolve uma tecnologia que pode mudar o mundo?

No entanto esse é um caminho perigoso para o investidor inexperiente. Não há problema algum em investir seu dinheiro em setores de tecnologia avançada e nos quais existem novos conceitos, DESDE QUE o investidor tenha profundo conhecimento sobre o assunto. “O investimento deve ser racional; se não for capaz de compreendê-lo, não o faça”. A famosa frase é atribuída ao célebre investidor Warren Buffett [vi].

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Se você tem interesse em NFTs e investimentos em novos conceitos e tecnologias, invista primeiro em conhecimento, estudo e informação, antes de investir o seu dinheiro, para não correr o risco de comprar “gato por lebre”, e acreditar que a ilusão se tornou realidade.

*Guilherme Ricardo dos Santos Souza e Silva é Economista, Doutor em Desenvolvimento Econômico e Professor da Universidade Federal do Paraná.
Instagram: guilherme.economista
E-mail: gui.ric@outlook.com

[i] Código Civil Brasileiro, Artigo 85, 2002.
[ii] Wall Street: Poder e Cobiça. Filme de 1986 dirigido por Oliver Stone (NASDAQ:STNE).
[iii] Cambridge Dictionary: “Token”. https://dictionary.cambridge.org/
[iv] Tradução livre baseada em: Wilson, Kathleen Bridget; Karg, Adam; Ghaderi, Hadi (October 2021). "Prospecting non-fungible tokens in the digital economy: Stakeholders and ecosystem, risk and opportunity". Business Horizons.
[v] Cascone, Sarah (May 7, 2021). "Sotheby's Is Selling the First NFT Ever Minted – and Bidding Starts at $100". Artnet News.
[vi] Lowe, Janet. Warren Buffett: lições do maior de todos os investidores. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.

Últimos comentários

Ilusão
parabéns pelo artigo.
Obrigado!! 👍
tá aí...interessante o artigo!!!
Obrigado!! 👍👍
Ótimo artigo. Parabéns.
Obrigado!! 👍
artigo muito bom 👍🏽😎
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