Muito se fala do “intenso” fluxo de recursos externos para o Brasil e a este fato se atribui a excessiva apreciação do real, mas esta pode estar sendo uma visão errônea a respeito deste movimento, as causas podem estar advindo de outro segmento do mercado de câmbio.
Ao observarmos somente o fluxo financeiro deste ano, até o ultimo dia 21, constatamos:
COMPRAS (ingressos) US$ 103,948 Bi VENDAS (saídas) US$ 97,991 Bi SALDO US$ 5,957 Bi
Um saldo liquido de US$ 5,957 Bi não parece excessivo em quase 3 meses e nem capaz de impor a derrocada do preço da moeda americana que se tem presenciado no mercado de câmbio, afinal o país está proporcionando uma taxa bruta de juro de 10,75% exatos 350 pontos acima do que proporcionava a um ano atrás, 7,25%.
Ademais o país tem vincendo do setor privado este ano entre empréstimos de longo e curto prazo e empréstimos “intercompanies” volume em torno de US$ 84,0 Bi, que muito provavelmente pode ter uma grande parcela não rolada.
E, à margem do quadro financeiro iniciamos o ano com um saldo liquido de comércio exterior a ser quitado de US$ 14,9 Bi.
E, ainda, já abatido o fluxo cambial positivo de US$ 5,469 Bi, incluso o comercial, há necessidade de fluxo cambial de mais US$ 13,0 Bi, que é o montante de posições “vendidas” dos bancos que vem dando suporte a insuficiência de fluxo ancoradas em linhas de financiamentos em moeda estrangeira, que são concedidas pelo BC com base nas reservas cambiais e que se constitui em estratégia que procura evitar que a autoridade monetária venda diretamente dólares ao mercado, se desfazendo efetivamente deste montante das reservas cambiais.
Em perspectiva o país tem muitos compromissos a saldar não cabendo entusiasmos eufóricos como observado.
A balança comercial tende ao negativo este ano, com exportações fracas dada a pouca atratividade dos nossos produtos e poderá se acentuar o volume de importação, visto que a capacidade instalada da indústria nacional não vem recebendo investimentos suficientes para que promova o atendimento da demanda com melhora da oferta.
O país tem um contexto conjuntural e estrutural que o colocou sob rigorosa visão critica pelo mercado internacional, e, seria ilusório acreditarmos que a simples revisão programática de metas de superávit primário e cortes orçamentários sejam capaz de promover a reversão da visão negativa em torno do país.
Tanto é que não que a agência de rating “S&P” acabou por reduzir a nota de crédito soberana do Brasil, deixando-o à beira da perda do grau de investimentos, caso não cumpra suas novas metas anunciadas e coloque o país em ordem para recuperar a credibilidade.
O que não tem sido observado com rigor é o movimento que ocorre no mercado futuro de dólar na BM&F, onde pode estar efetivamente a razão da apreciação forte do real, mas que pode revelar a tendência do preço da moeda americana em perspectiva.
O mercado de câmbio expressou um movimento absolutamente atípico, anormal mesmo, quando o país sofreu o rebaixamento da nota de crédito, quando tudo sugeria que ocorresse apreciação do preço da moeda americana, até porque o cenário pró Brasil havia sido atingido, e ocorreu então, forte apreciação do real, totalmente contrário às expectativas dando até a impressão de que o país havia tido elevação da nota de crédito.
Muitos, na ausência de melhor explicação ou fundamento, argumentaram que o rebaixamento já estava precificado nos ativos, o que na melhor foi uma meia verdade, visto que entre um fato possível e o fato consumado sempre há um “gap” a ser ajustado e no caso negativamente.
Ao observar-se o posicionamento dos “players” no mercado de dólar futuro da BM&F no dia 24 e 28, portanto a semana passada toda, apura-se:
“VENDIDOS” LÍQUIDOS .... DIA 24....US$ 14,7 Bi DIA 28....US$ 9,6 Bi REDUÇÃO.. US$ 5,1 Bi
Os “vendidos” que estamos considerando são os “Bancos” que assim reduziram suas exposições ao risco de valorização cambial.
Porém, os bancos são também os detentores das posições no mercado de câmbio a vista e ao que tudo indica, valendo-se do clima de que esta entrando enormes lotes de dólares no país, atuaram fortemente apreciando o real, ao mesmo tempo em que se tornavam compradores no mercado futuro de dólar futuro na BM&F para reduzir suas exposições a risco.
Este movimento atípico levou o real a apreciação e ao mesmo tempo induziu os “comprados estrangeiros” a reduzirem US$ 3,2 Bi e os “comprados instituições nacionais” reduzirem também US$ 1,5 Bi.
É extremamente sinalizador por parte dos bancos com esta atitude de redução de suas posições “vendidas” no mercado futuro de dólar que, efetivamente, ACREDITAM NA APRECIAÇÃO DA MOEDA AMERICANA COMO TENDÊNCIA.
Contudo, este movimento de apreciação excessiva e sem fundamentos econômicos não pode ser duradouro, visto que o preço da moeda americana depreciado artificialmente poderá neutralizar o ingresso dos capitais especulativos que estão entrando no país forjado em operações de “carry trade”, pois é desestimulador a estas operações, pois as encarecem.
O BOLETIM FOCUS projeta o dólar para o final do ano em R$ 2,46, porém isto não está em linha com as manifestações constantes dos analistas dos bancos.
Continuamos com a nossa projeção de preço da moeda americana em R$ 2,60 ao final do ano, a despeito das atipicidades de março, que podem continuar ainda por abril com os bancos procurando mitigar seus riscos pela exposição de suas posições se houver continuidade das condições.